A trilogia Cornetto (quem assistir vai saber o motivo desse título) nunca chegou nem perto dos cinemas e sempre foi direto para as locadoras e para os “torrents da vida”. O primeiro filme foi uma comédia romântica com zumbis lançada em 2004. O segundo foi uma homenagem aos filmes de ação policial lançado em 2007.
O terceiro filme, lançado esse ano, começa igual aquelas bobajadas protagonizadas por adultos cretinos do tipo “Se beber não case”, mas de forma surpreendente (e muito bem elaborada) o roteiro dá um giro de 360 graus e se transforma em uma ficção científica que lembra muito a fase do John Carpenter nos anos 80. A única diferença é que aqui tem um humor fino que, às vezes, parece que apenas os britânicos parecem dominar com destreza. Na boa, se esse roteiro caísse nas mãos de um holywoodiano, aposto um DVD do Monty Python que o sujeito iria rechear o filme com piadinhas sobre peido e muitos iriam celebrar isso como o ápice do politicamente incorreto.
Diferente disso, o diretor Edgard Wright, que escreveu o roteiro junto com o ator Simon Pegg, finalizou sua trilogia de forma bem sucedida. Tudo é bem equilibrado, desde as divertidas cenas de ação aos diálogos espertos e com um subtexto muito interessante.
As semelhanças que conectam o filme com os outros da trilogia, além das referências ao sorvete, estão em um tema: a chegada para a vida adulta. Sim, a trilogia Cornetto compreende três histórias que versam sobre amadurecimento. E esse assunto, mais manjado que Ave Maria em procissão, é abordado de maneira instigante e com um humor sutil, característica que torna os filmes protagonizados pela dupla Pegg e Frost deveras divertidos.
Em The World’s End, o personagem Gary “The King” (Simon Pegg) convoca os seus cinco amigos para concluírem uma jornada que não finalizaram durante a adolescência. Tal jornada consiste em uma maratona pelos pubs da cidade com um objetivo bem claro: empinar copos de cerveja sem moderação, sem noção, como se não houvesse amanhã (não é à toa que o título é The World’s End).
Um detalhe interessante desse terceiro filme é a inversão de papéis. Nick Frost interpreta o personagem centrado, enquanto Simon Pegg encarna o outsider.
O roteiro continua sendo o ponto forte da trilogia. Como nos outros filmes, até os coadjuvantes são personagens bem escritos e não estão ali apenas passear no set de filmagem. Até mesmo a participação de Pierce Brosnan possui sua relevância.
As cenas de ação também são uma atração à parte e mostra que Edgard Wright domina com maestria os cacoetes da comédia física. Apenas a cena em que Simon Pegg luta com um copo de cerveja nas mãos já deveria estar nos manuais do bom cinema. Além disso, por se tratar de humor, não é nenhum pouco inverossímel ver o Nick Frost, visivelmente acima do peso, lutar com a mesma desenvoltura do Jackie Chan.
O saldo geral do longa-metragem é positivo. Eu não o considero superior ao bacana Shaun of the dead (o único filme de zumbi pelo qual eu nutro algum resquício de carinho), também não o achei melhor que o Hot Fuzz (esse sim uma bela homenagem aos filmes de ação). Na verdade, The World’s End está no mesmo nível de ambos. Rezo apenas para que os “deuses do cinema mainstream” permitam que Edgard Wright, bom roteirista, tenha um mínimo de liberdade para imprimir o seu estilo no filme protagonizado pelo Homem Formiga, super herói do time dos Vingadores. Pois se o cara conseguiu transformar aquela loucurada adolescente da HQ do Scott Pilgrim em um filme palatável até para quem não tem mais acne na face, imagino o que ele poderá fazer com um personagem “lado B” do universo heroístico da Marvel.
Recomendado para: quem quer reunir os amigos, abrir algumas garrafas de cerveja e ver que o Fim do Mundo não é tão feio como pintam.
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