É inevitável.
Desde o momento em que surge, qualquer subgênero temático
está ameaçado de saturação e encheção de linguiça.
Mas por algum motivo ímpar, em se tratando de histórias de
terror, a iminência da cagada é uma constante.
Facilmente as mais diversas abordagens rumaram para a
repetição e descrédito de qualquer nova obra que venha com um cartaz similar, e
mais violência banal em detrimento de qualquer coisa que possa realmente
assustar.
E claro, o bocejo é reincidente sempre que alguém menciona
uma sinopse sobre um grupo de jovens em um fim de semana de curtição que acaba
em desmembramento.
Assim sendo, é bem estranho perceber que o hoje hypado Joss
Whedon tem o nome dividindo os créditos de roteiro com Drew Goddard
em O Segredo da Cabana.
quinteto de estereótipos terá de
suar groselha por entre as lacerações perpetradas por algum sádico
inconveniente.
O constrangimento é tanto ao conhecê-los que é de se questionar
se Whedon ainda teria tantas contas a pagar após dirigir “Os Vingadores”, a ponto de permitir seu nome vinculado a esta releitura de tantas bobagens
inlocáveis ou indownloadáveis.
O ponto que torna assistir algo ao menos um pouco intrigante
é o clima trabalho de escritório existente na história em paralelo que se
desenrola, e que é o verdadeiro segredo da cabana, tendo em vista o título em
português.
Com o passar dos minutos, o filme vai deixando claro que a
trama vai ter algo além do destrinchamento humano cotidiano, e isso se deve a
um motivo muito simples: dessa vez, por incrível que pareça, este
longa-metragem de matança na floresta possui um roteiro.
A dinâmica entre humor e caricatura, que a princípio
constrange logo vai tendo seu papel na estrutura evidenciado.
O Segredo da Cabana começa tão aparentemente gratuito
que sem querer o espectador o ama se espera mais um filme genérico, ou o
abomina caso queira algo diferente, mas sua verdadeira sacada está quando, ao
se maquiar de obra convencional ele
decide desmascarar as convenções.
Isso inicia com os protagonistas e eventuais vítimas
randômicas.
O mocinho (Jesse Williams), a virgem (Kristen Connolly), a periguete
(Anna Hutchison), o atleta (Chris Hemsworth), o chapado (Franz Franz). Nenhum deles é o que seu
estereótipo manda, e até pra isso o roteiro tem esclarecimentos.
E isso sem soar cult ou pretensioso.
Ele caminha o tempo todo com esse ar de gore adolescente,
mas em meio a tudo isso despeja reviravoltas e soluções com as quais o
subgênero e seu público não estão habituados, além de dialogar com o nerd
oldschool teimoso que ainda busca torrents de trash movies modernosos.
É um sem-fim de referências a obras clássicas do terror que
povoam o meio pro fim da produção que trazem a nostalgia de tempos melhores em
visitas às locadoras que já fecharam suas portas, e de eras imemoriais em que a
busca não ocorria obrigatoriamente na sessão de filmes recém lançados.
A verdade é que, a quantidade de ideias é tanta, e as
soluções espertas idem, que em meio ao gore, humor negro, destrinchamento de
clichês e de pessoas, o roteiro do filme consegue até mesmo sugerir um motivo
para essas obras tantas vezes repetirem a mesma fórmula. Ao destruir os
padrões, ele propõe uma quase explicação para os porquês de isso ser refilmado
ad infinitum.
Ainda que possa ter passado despercebido pra quem só assiste
filme 3D, ou a lista de indicados ao Oscar, ou que acha que filme de terror só
é bom quando é igual ao anterior assistido e esquecido, O Segredo da Cabana
persiste na memória de quem o assiste com o olhar em sintonia com a ousadia
escrita por Joss Whedon e Drew Goddard.
Da mesma forma que Pontypool foi para as histórias de
zumbis modernas, ou Sede de Sangue, do diretor Chan-Wook Park
para os vampiros apresentados à geração atual, Cabin in The Woods era
mais uma dose cavalar de novidade que a cultura pop necessitava pra ter
esperança de que as histórias de terror ainda podem reservar alguma surpresa
partindo dos elementos básicos os quais foram entretenimento e arte para tantas
gerações, antes de se tornar mero subsídio pra um novo “Todo Mundo em Pânico”.
A qualidade de “O Segredo da Cabana” não é somente
prestar o devido respeito aos clássicos, e sim demonstrar que enfim era momento
de o cinema de terror arriscar alguns passos além do comum.
Obs.: não reparem que eu tenha escolhido imagens tão desinteressantes para ilustrar a resenha. Foi meu respeito em EVITAR spoilers.
De nada.
Quanto vale:
O Segredo da Cabana
(The Cabin In The Woods)
Direção: Drew Goddard
Duração: 95 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Terror
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