Em meados do ano passado, ao ser questionado se aceitaria dirigir algum filme de super heróis, David Cronenberg meteu o sarrafo (e com requintes de crueldade) nas referidas produções protagonizadas por fortões dentro de trajes justos e multicoloridos.
Cronenberg, que dirigiu Scanners, A Mosca, Videodrome, entre outros trabalhos, declarou que filmes de super heróis não atingem o nível de “obra de arte” porque são histórias em quadrinhos e, consequentemente, são produções infantiloides. Ainda não contente com essa declaração tão sutil quanto uma martelada do Thor, o diretor de Marcas da Violência ainda alfinetou o cineasta Christopher Nolan, diretor responsável pela mais recente trilogia do Batman. Para Cronenberg, os filmes do homem morcego sob a batuta de Nolan são entediantes.
Eu, pessoalmente, já não compactuo com qualquer discussão que tenha a pretensão de dividir o que é filme artístico e o que não é artístico. Acredito que tal debate é tão infrutífero quanto procurar cabelo em ovo. Eu, particularmente, consigo admirar Scanners, Videodrome, ExistenZ e outros filmes fodões oriundos da pérfida mente do velho Crona sem me prender a conceitos sobre o que é ou não arte. O que me impressionou em muitos filmes do sujeito, entre outros elementos, foi a maneira corajosa que ele utilizou para mesclar nojeiras, sangue, sexo e, principalmente, análises e metáforas acerca da psique dos personagens. Tais produções não são recomendadas para o seu sobrinho de oito anos que assiste Toy Story, é verdade, mas nem por isso são mais “artísticos” ou relevantes que um singelo longa-metragem de animação protagonizado por algum cachorrinho falante.
Diante disso, acho que Cronenberg cometeu um equívoco ao afirmar que histórias em quadrinhos sejam “por definição, voltadas para crianças”. Ora, lembro quando li a HQ Sandman aos oito anos de idade. Na época, antes mesmo de concluir a primeira história eu já estava com pena das árvores que foram derrubadas para aquelas páginas serem impressas. Hoje, um pouco mais preparado e “adulto”, considero Sandman a “Capela Sistina” do Neil Gaiman.
Portanto, há histórias em quadrinhos sim para adultos. O próprio cineasta canadense adaptou uma para os cinemas: Marcas da Violência.
Sobre o caso Nolan e seu Batman realista, concordo apenas que o terceiro filme é um balde de água fria em uma trilogia que até então estava nos eixos. De resto, acredito que o tom mais sério adotado por pelo diretor para as atuais aventuras do homem morcego foi utilizado na hora certa. Será que o o diretor de Cosmopolis queria que o diretor repetisse o carnaval escalafobético que o Joel Schumacher usou no Batman do século XX?
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