Existe muito nas entrelinhas rolando ao longo de "Uma Aventura Lego".
No geral a gente falaria
que é a moral da história, e tal, só que nesse caso, é de tal
modo engendrado que excede a definição comum.
Parte disso é comprovado
pelo fato de que, durante grande parte do filme, ele parece ser quase
tão vazio de conteúdo quanto o interior do "crânio" de
seus personagens abaixo do cabelo encaixado.
Mas claro, eu não
começaria o texto dessa forma se em um determinado momento do
longa-metragem as coisas não mostrassem ir além.
"Uma Aventura Lego",
ou "The Lego Movie", no original, tem nome de produção
caça-níqueis. De pegar franquia famosa, e buscar sua fatia dos $
que tão sempre à espreita nos bolsos dos incautos olhando cartazes
aleatórios na entrada do cinema, ou no bolso dos adultos, no caso da
criançada que tem o poder de muitas vezes definir a programação de
cinema na ida ao shopping com os pais.
No entanto, devido a uma
série de detalhes, o filme consegue se esquivar do rótulo fácil, e parecer
antes de qualquer outra coisa, um filme inusitado, e por isso, claro,
válido pra assistir antes de uns outros longas de animação.
E ele começa esquisito
mesmo.
Quer dizer, é uma
parodiazona de tantos filmes e convenções sociais, e tem um porquê. Confiem no que eu
digo.
Seu protagonista, Emmet Brickowoski (dublado pelo Chris Pratt), é um cara nulo socialmente, que segue
todas as regras. As úteis e as inúteis. Por isso, ele
consequentemente torna-se um ninguém mesmo pras pessoas que ele
curte chamar erroneamente de seus melhores amigos.
Essa parte do filme é
que é meio inócua. Sem graça, e bem comum, porque traz o tipo de
crítica tão reincidente que todo adulto já tá meio de paciência
cheia pra rever se mostrada sempre do mesmo jeito.
E as primeiras amostras
desse tema em "Uma Aventura Lego", não são nada muito
original, apesar de o universo do filme permitir uma roupagem menos
batida. Mas na essência é a mesma coisa.
As coisas começam a
mudar com a chegada da personagem de nome variável dublada pela
Elizabeth Banks, e que é a Trinity, do Neo que existe no Emmet.
Aí que o protagonista se
questiona sobre o fato de ele poder ser o "Especial" da
profecia, e as coisas ficam frenéticas. Meio que, frenéticas,
mesmo.
Algo de sangrar as vistas
com informações novas, easter eggs, referências, piadas bem
sacadas, sutilezas, personagens multicoloridos, explosões de aspecto
pixelado formadas por peças de plástico, e um beliche-sofá.
Quer dizer: é muito
legal.
Então, de um certo modo,
o próprio filme emula o que é a grande questão sobre o seu
protagonista: de que tudo indica que ele não é especial, coisa
nenhuma, e no fim, claro, haverá virtude nele.
Isso todo mundo sabe.
Isso todo mundo sabe.
Da paródia, das
referências, e de que a pirotecnia plástica (muito, mas muito legal
e vertiginosa) será tudo que ele tem a oferecer.
Mas o filme dos diretores
Phil Lord, e
Christopher Miller cresce, e se torna cada vez mais envolvente.
Parte muito importante
nisso é o trabalho dos dubladores, que trabalham com os diálogos
casuais envolvendo salvar o universo, etc, mas com naturalidade, e
suas interpretações fazem dos bonecos sem dedos tão humanos quanto
os personagens do seriado "Flight of the Concords" (baita
série, aliás. Se não assistiu, serão duas temporadas
inesquecíveis de humor neozelandês).
Então, Morgan Freeman, Will Ferrell, Liam Neeson, Jonah Hill, Alison Brie, Cobie Smulder, Channing Tattum são só parte do elenco notável que tem uma parcela muito grande nos parabéns que o longa-metragem fez
por merecer.
Porém, nem o visual
impressionantemente divertido, ou a técnica de animação que funde
stop motion com CG, ou a versão do Batman (com voz do Will Arnett) estrionicamente mais
criativa de todos os tempos no cinema, e nem mesmo os tantos momentos
de proporções grandiosas se equiparam ao plot twist, que não é
exatamente novo na história do cinema, nem nada. Mas é utilizado no
momento certo, e da maneira mais esperta que os roteiristas puderam
encontrar, e que traz enfim a totalidade do significado a mais que
"Uma Aventura Lego" contém.
Da mesma maneira que o
protagonista, o filme inteiro carrega em si uma busca pelo que o
diferencia.
O que o faz não apenas
mais um longa-metragem de animação de visual modernoso.
E se por um lado existe
uma demora em revelar pro público esse valor a mais (o que prejudica
por um tempo apreciar a sessão a não ser pelas sequências
entusiásticas de ação) quando ele se define uma obra inteligente,
e não limitada ao que seus concorrentes no geral têm por regra, as
peças se encaixam (desculpe por isso), e o transformam em um dos
filmes mais divertidos de 2014, não só pras crianças. Não
resumido a uma moral de história.
São ideias demais, que
parecem quebrar as barreiras do próprio filme, ainda que sem
privá-lo da coerência que seu universo amplo possui.
No mundo de "Uma
Aventura Lego" tudo isso faz sentido, e não deixa de ser
curioso que na era em que alguma nova criação tecnológica é vista
por muitos como sendo suficiente pra compensar roteiros
recauchutados, uma trupe de bonecos de raízes datadas tantas décadas
atrás conseguiu o inesperado: fazer do "salvar o mundo"
algo inventivo. Além do clichê.
Uma Aventura Lego.
Recomendado para: diversão em larga escala.
Uma Aventura Lego
(The Lego Movie)
Direção: Phil Lord,
e Christopher Miller
Duração: 100 minutos
Ano de produção:
2014
Gênero:
Aventura/ComédiaConfere a crítica de outros indicados ao Oscar 2015 NESSE LINK.
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1 comentários:
Write comentáriosUm filme de sucesso no gênero de animação. Definitivamente o meu personagem favorito é o Batman, interpretado por Will Arnett ,perfeito para disfruatrse com a família. Uma criança que gosta de hostoria do início ao fim.
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