Vem sendo uma competição desigual.
O cinema de HQs, o qual em tempos remotos era uma fiasqueira
só, começou a engrenar e somar dinheiros, mas a balança continuamente tem
pendido para o lado da editora Marvel Comics, para murmúrio da
concorrente, DC Comics, a qual não tem visto sua gama de personagens
obtendo todo sucesso da rival no live-action.
De todo o seu elenco de fantasiados, apenas dois conseguiram
destaque e sorrisos monetários por parte dos envolvidos: Batman, e Superman.
O primeiro, seguido envereda pros rumos do sucesso, e mesmo
com a editada de costas parte final da trilogia do Nolan, o Morcego de
Ghotam somou fortuna e equivocou a opinião de quem acredita que final em aberto
faz filme ser bom..
Super-Homem, no entanto, obteve um momento digno de notória
atenção, que foi êxito de público e crítica, e resultou em franquia de
potencial.
Dentre a filmografia resultante, porém, apenas o “Superman– O Filme” de Richard Donner, de 1978 conseguiu ser o que deveria ser, mantendo-se até hoje
bem cotado em listas de melhores adaptações de quadrinhos pro cinema, dos nerds
oldschool, e inclusive de algum que outro newschool.
Tanto que até levou ao não-entendimento do que deveria ser o
filme do herói em “Superman – O Retorno”, pelo Bryan Singer.
Este passo em falso, além da ascensão do Marvel Studios
culminando em “Os Vingadores”, levaram
à aceitação de que, ou a DC/Warner se endireitavam, ou a coisa ia
ficar feia.
Desse modo, tinha que ser o time ideal a escolha para fazer
do novo Super-Homem o pontapé inicial pro universo DC nos
cinemas, que “Lanterna Verde” se apertou e não foi.
Assim sendo, os planos futuros agora estavam nas mãos de Christopher
Nolan, o cineasta da moda, na função de produtor, acompanhando o diretor
pedreiro de forte apelo visual videoclíptico Zack Snyder.
O problema de início era que Snyder não é muito safo em fazer
dinheiro em bilheterias nos últimos tempos, e vinha de uma série de resultados meia-boca, se não em qualidade, em
grana, mesmo. A saber: o fiel até onde conseguiu “Watchmen”, o tedioso “A
Lenda dos Guardiões”, o potencial subaproveitado do fetichista “Sucker
Punch – Mundo Surreal”.
Mas se Snyder não sabe levantar grana em ingressos, Nolan
aprendeu a mágica de fazer filme ruim parecer bom, e providenciaria o que
era preciso pra resolver o problema.
Tendo resolvido isso, a escolha do elenco partiu de um novo
quase desconhecido, e Henry Cavill teria a missão de ser o rosto do
escoteiro de Krypton/Kal-El/Clark Kent para a geração pós-Bazinga.
Mas Cavill demora a ser de qualquer importância no
filme, pois o diretor de início nos conduz a uma visita pela bela e ferrada
Krypton, que vive seus últimos tempos na história que todos sabem, com
contornos diferentes.
Tudo é visualmente bonito nessa parte do filme, em que Jor-El
(Russell Crowe) o pai do protagonista, se vê às voltas com a politicagem
teimosa do lugar, e o vilão General Zod (Michael Shannon), este
nada efetivo nas suas atribuições de pôr em prática seus intentos.
Esta, eu diria, é a primeira grande decepção do filme.
Zod é um inimigo tão fracassado e de escolhas
estratégicas tão perpeptivelmente burras, que logo muita credibilidade da tal
ameaça que ele esbraveja se esvai.
Não que os próprios líderes kryptonianos não o sejam, ao
garantir a salvação do inimigo, mas isso cabe a vocês assistir.
Fato é que, logo o filme concentra-se em outro enfoque,
fatiado e intercalado entre flashbacks do azarado Clark Kent na infância
e adolescência, e sua fase adulta, constantemente atraindo desastres por onde passa.
Alguém pode até considerar que há um excesso de objetividade
nessa parte do longa-metragem, quando o mesmo pula de um desastre a outro, que
continuamente surge no caminho do ainda não-herói, mas eu prefiro apenas
reconhecer que o trabalho de Snyder foi apressado porque a produção
tinha outros objetivos em primeiro plano.
Clark Kent jamais chega a ter a índole plenamente
construída pelo convívio familiar com o casal Jonathan (Kevin Costner) e
Martha Kent (Diane Lane).
Simplesmente o roteiro joga mais rápido que um trem alguns
recortes da vida do protagonista, mas com exageros de incoerência e exigência
de boa vontade do espectador, que tornam cada vez menos crível o andamento da
trama, alicerçada em coincidências.
De repente, sem demonstrar muita preocupação com a figura do
herói, o enredo enjambra suas conveniências, e sem sanar os dilemas do Clark
Kent o qual não queria ser herói, apenas apressa as coisas rumo ao ponto
onde os efeitos especiais terão a missão de apagar tudo que não funcionou
que nem deveria em filme que se preze.
Claro que há um peso dramático orbitando Henry Cavill,
o qual não emana necessariamente de sua atuação, mais porque não parece ter sido exigido muito dele além
de alguma cena de choro ou cara de briga.
Mas ainda que Russel Crowe, Lawrence Fischburn (Perry
White), Kevin Costner, e Diane Lane estejam acima da média em um
filme que se constroi abaixo da mesma, a dupla Snyder/Nolan faz questão
de reduzir a importância do elenco em momentos tais quais a cena do cachorro, a
do beijo, ou, o clichê do salvamento previsível e de conclusão arrastada, e
vários outros que se espera o público nem repare enquanto anseia pela próxima
meia hora de CG descontrolado em um arremedo de Michael Bay que se
potencializa até o embate final.
Parece que é no último ato que enfim algo de característico
do Superman é apresentado, afinal, o poder de destruição resulta no fim
de todo prédio nas proximidades da luta entre os kryptonianos.
Mas não se engane.
Não há nisso nem um pouco do heroísmo com o qual o
personagem se consagrou nas HQs. O Superman do novo filme age mais por
retaliação do que por um senso de justiça pré-estabelecido, e isso fica
bastante evidente enquanto arranha-céus
desabam e uma quantidade elevada de cenas dos filmes do Hulk vão sendo
refilmadas.
É verdade que há méritos nas sequências de luta do filme,
porém o misto de Hulk+Matrix Revolutions+A Origem somente conseguiria
mascarar suas limitações criativas se existisse em prol da história do filme, e
não como propósito por si só.
A história de Clark Kent não é parte da
construção do personagem, e sim desculpas pra pirotecnia que assim chega
fingindo não ser plenamente vazia de importância, e que Zack Snyder
filma querendo parecer que não é o diretor de “300”, e que esse é um
filme realista de Christopher Nolan, quando é meramente um blockbuster
exagerando dos recursos que até um “Skyline - A Invasão” consegue pra
preencher o trailer de divulgação.
Da maneira que estão na produção, acabam autobanalizantes em
tempo interminável do que de melhor os $225 milhões investidos puderam comprar.
Ainda que, convenhamos que não era necessário tanto tempo de
metragem pra realizar uma boa sequência de ação, conforme já demonstraram Sam
Raimi, na luta em cima do trem em “Homem-Aranha 2”; Joss Whedon em
todo “Os Vingadores”; Bryan Singer na primeira aparição de Noturno em
“X-Men 2”; e Mathew Vaughn em especial na parte pós-submarino de
“X-Men: Primeira Classe”, com destaque pra cena da moeda, a qual sozinha
tem mais emoção do que todo o Superman versão 2013.
Tudo embalado pela funcional, porém nada memorável trilha sonora de Hanz Zimmer, que se esforça em vão pra evitar o humor involuntário que leva a plateia ao riso em vários dos momentos dramáticos do filme, enquanto a Lois Lane interpretada por Amy Adams surge de maneira quase onipresente em todos os cantos da Metropolis em frangalhos, e desafia a antigravidade.
A presença do interesse romântico do protagonista é de certo
modo a coroação do constrangedor roteiro com falso status de realista escrito
por David Goyer e Christopher Nolan, pois ela vive algumas das
cenas mais ridículas de toda a produção, e entre as coincidências que habitam
esse “Transformers 2” disfarçado de épico, Lois Lane foi sorteada
pra ser a maior sortuda de toda a trama, e funcionando perfeitamente pra
reforçar o discurso de que “filme de quadrinhos tem que ser imbecil porque é
coisa pra criança”.
Depois do que Scott Snyder e Christopher Nolan
fizeram, tentar enxergar drama, ou grandes qualidades no visual ou efeitos
especiais para chamar “O Homem de Aço” de um bom filme, é
somente concordar com a retórica mencionada no fim do parágrafo anterior.
Sem querer, DC Comics e Warner foram
responsáveis por criar uma trinca exemplar do que é desperdiçar potencial, mas
criando marketing perfeito, quando trouxeram ao mundo “Lanterna Verde”,
“Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, e “O Homem de Aço”.
Afinal, quando após a sessão de cinema, com muito custo a única qualidade
pra ressaltar de um filme for o visual, é porque essa foi uma oportunidade
perdida de assistir um filme que realmente preste.
Quanto vale:
O Homem de Aço
(Man of Steel)
Direção: Zack Snyder
Duração: 143 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ação/Ficção científica
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