Depois de um tempo, estrelar um filme de HQs passou a
significar uma oportunidade tentadora.
Outrora fiasco recorrente, agora franquia potencial e
personagens icônicos.
Quando X-Men: O Filme estreou em 2000, Hugh
Jackman aproveitou pra ser alguém em Hollywood, mas sem nunca esquecer do
personagem que lhe propiciou isso.
Desse modo, X-Men 2, X-Men: O Confronto Final, e até
mesmo X-Men Primeira Classe, serviriam pra de alguma forma consolidar o
universo mutante no cinema, e atrelar a imagem do ator ao Wolverine.
O problema é que no meio do caminho havia acontecido
X-Men Origens: Wolverine, e a franquia paralela havia pisado tão
violentamente na jaca, de forma que seu futuro-solo agora era passível de
desconfiança.
Não ajudou nada Darren Aronofsky ter abandonado a
direção da sequência do filme antes do início dos trabalhos, sendo substituído
pelo peão de obras de Hollywood, James Mangold.
E o fato de Hugh Jackman estar confortável no
papel-título nada serviu em “Origens: Wolverine”.
O que surge em forma de qualidade, no entanto, é um
entendimento diferenciado da saga a qual o filme adapta dos quadrinhos.
O tempo todo, Wolverine: Imortal parece um filme mais
simples, de moderado uso de efeitos especiais, e
curiosamente humano.
Desde o competente prólogo no Japão, Wolverine é bem
menos “super”-heroi do que se esperava.
Quase como se fosse um daqueles filmes de antigamente, nos
quais, por falta de formas de criar nas telas as carnavalescas pirotecnias,
hoje tão comuns, o diretor e o roteirista precisavam inventar uma trama em que
o heroi vivesse mais da vida comum de cada dia.
Wolverine: Imortal de primeira causa esse estado de
constante espera por um filme que ele parece não tentar ser.
Diferente de “Origens: Wolverine”, em que qualquer
mutante do filme quase voa, ou é mais rápido que uma bala, em “Wolverine:
Imortal”, Logan é só um cara de carranca passando trabalho pra derrubar
capanga.
E isso, ao meu ver: é um baita acerto.
É uma pena que a necessidade de ser blockbuster empurre o
longa-metragem em direção ao que o diretor não sabe fazer.
James Mangold faz trabalho de estagiário amador na
luta final, com um descaracterizado Samurai de Prata, buscando atingir a
cota do vale-CG que o cineasta ganhou quando assinou contrato.
O confronto absolutamente enfadonho não é pior do que a
caracterização em desacerto com o clima do filme, da vilã Viper (Svetlana Khodchenkova), que por sua vez se
eforça mas jamais conseguiria ser pior do que o péssimo embate coletivo durante
a cerimônia.
Pra tentar compensar esse momento específico, ao menos a
eletrizante luta no trem-bala mostra que muitas
vezes um trailer não consegue empolgar
mesmo quando feito a partir de boas cenas.
Mas em se tratando de ação, o filme não vai além disso, o
que com certeza vai decepcionar muita gente.
Wolverine: Imortal está mais pra filme de yakuza, e particularmente, me lembrou bem mais (salvas as devidas
proporções) a construção narrativa de “Chuva Negra” (1989), do que os filmes prévios
protagonizados pelo carcaju.
Até pelo mote da história
que visa encher o cara de limitações, Logan de certo modo
revisita um cinema de ação em desuso, mas propenso a nostalgia pra quem
presenciou o cinema policial dos anos '80, e '90.
Nesse contexto, a presença de Hiroyuki Sanada tem lá sua
importância, mesmo que o diretor tenha em especial um outro direcionamento,
lidando com os seguidos devaneios do protagonista, a presença de Mariko
Yoshida (Tao Okamoto), e um viés mais filosófico, em sintonia com a
ambientação e seus inúmeros significados pra estruturação do personagem.
Similar ao ocorrido em Johnny e June (Walk the
Line, 2005), o cinema de James Mangold entrega um romance, digamos,
tradicional e açucarado. No entanto, na sua simplicidade ele tem o suficiente pra
que os erros vistos, por exemplo, em “O Homem de Aço”, com o nulo
relacionamento Clark Kent/Lois Lane, não se repitam em “Wolverine:
Imortal”.
De maneira semelhante ao ocorrido em “Ninja Assassino”(2009),
o qual pra mim foi tanto saudosismo do cinema simplório que assisti
incessantemente na adolescência, ganhando meu apreço, ainda que não apagando
suas falhas, “Wolverine: Imortal” se propõe em vários momentos a ser
menos pretensioso, e semelhantemente nostálgico.
Não-habitual pro cinema de super-herois.
Isso não corrige as tantas falhas do roteiro, ou exime de
culpa seu diretor por trazer tão poucos momentos de ação competente, mas no que
se refere ao debilitado
Wolverine, e à aproximação com as menos
pirotécnicas HQs de tempos longínquos, o filme ganha pontos.
Ainda não é uma grande obra, mas já apresenta consideráveis
sinais de melhora, e pelo que a cena pós-créditos evidencia, o universo mutante
no cinema ainda tem umas ideias ousadas pra arriscar em breve.
Aguardemos.
Quanto vale:
Wolverine: Imortal
(The Wolverine)
Direção: James Mangold
Duração: 126 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ação
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