Não é de hoje que o cinema oriental
apresenta algumas das alternativas mais legais no cinema de ação.
Os cacoetes narrativos, e estilosidades
estão lá, mas são diferentes. Menos burocráticos.
E eu destaco em especial o cinema
sul-coreano, tendo esse assunto em vista.
O mais recente que chegou ao meu
conhecimento é este Cold Eyes (sem título em português que eu
saiba, e se considerar o que aconteceu com o The Raid, espero que nem tenha) que traz sua versão dos filmes de investigação policial.
Droga.
O final da frase acima parece realmente
chato.
Isso porque Hollywood tem se esforçado
e investido muitos milhões de verdes pra garantir que o gênero
policial (dentre outros) se resuma a um amontoado tedioso de clones e
ideias rotineiras.
Mas pra sorte de quem assistir, Cold
Eyes chega em terreno conhecido, e decide fazer as coisas do seu
próprio modo.
Dirigido por Ui-seok Jo, e Byung-seo Kim, o filme conta com um bonito
e modernoso visual, junto com uma edição dinâmica (alguns momentos
até demais) e trilha sonora correta pro gênero.
Até aí, é só um somatório dos
recursos que servem aos filmes que eu critiquei acima.
Só que o diferencial no longa-metragem
em questão, é que ele emprega tudo que há de potencialmente bom
nesses pseudo-thrillers de Hollywood, e adiciona a isso dois
elementos: um roteiro inteligente, e personagens bem desenvolvidos.
Somente isso torna o f ilme um exemplar
diferenciado e digno de nota.
Mas não que seja somente devido à
mediocridade da maioria que ele se destaque.
A historia é centrada na caçada a um
grupo de criminosos que pratica ousados roubos, coordenados por um
über-minucioso líder (interpretado por Jung Woo-sung).
E a equipe responsável pela
investigação é unidade da Inteligência da polícia coreana que
não tem por propósito trocar tiros ou pontapés com os bandidos, e
sim, simplesmente monitorar e identificá-los.
Com isso, a historia ganha um ar mais
voltado a um suspense, e sequências eletrizantes em que tudo que
acontece são pessoas caminhando rápido perseguindo outras tentando
não revelar ser agentes.
Tamanha é a competência da construção
dessas cenas, a simplicidade e sutileza das perseguições acabam
sendo de trincar os dentes, sem que seja necessário trocar um tiro
sequer entre a maioria deles.
Salvas as proporções devidas, é
muito fácil lembrar de alguns dos melhores momentos da série Death
Note, em que L e Raito, um diante do outro, e sabendo que havia à
sua frente o inimigo a ser derrotado, se enfrentavam em diálogos
arrojados buscando desmascarar o adversário.
É desses momentos que Cold Eyes se
alimenta.
Não são os efeitos especiais (não
tão bons, pra falar a verdade) o grande trunfo do trabalho de Ui-seok Jo, e Byung-seo Kim que inclusive faz uso de muitos recursos de edição e
boas ideias pra filmar momentos de ação através de pontos de vista
inusitados.
Além disso, por intermedio de um humor
muito natural, logo é fácil se envolver com os personagens, que são
liderados por um agente das antigas (Seol Kyung-gu) que
é o dono da maioria das sagacidades, e que apresenta essa equipe pra
novata protagonista (Han Hyo-Joo).
Uma característica muito importante,
inclusive, sobre esses personagens, é que é parte da sua obrigação
ter um poder de observação algumas vezes superior ao de Adrian
Monk, e isso faz com que, novamente fazendo uso de alguma jogada
esperta, o filme opte por ser inteligente, e não pirotécnico.
E sejam os bastidores técnicos da
investigação, todo o desenrolar da subtrama que apresenta o vilão, o uso da cidade enquanto personagem, as sequências de ação esporádicas, o humor, tudo isso existe sem
que um ao outro atropele, ou pareça colagem de diversos estilos.
Verdade que, vez ou outra o filme não escape de alguma solução evidentemente conveniente, e principalmente no ato final algumas se acumulem, e o argumento pudesse ser enxugado em alguns pontos, ainda que isso não faça com que ele deixe de ser uma escolha de longa-metragem divertido e não ofensivo ao cérebro.
Ainda é um thriller com vários
momentos envolventes, e bons motivos pra ser lembrado.
Mais uma vez vem de fora dos EUA uma
obra que relembra o porque de certos gêneros cinematográficos
estarem sobrevivendo à beira do desuso.
Mas Hollywood aprende?
Só se for pra considerar que um
possível remake é uma forma de aprendizado.
Quanto vale:
Cold
Eyes. Recomendado para: quem busca um filme de ação não-idiota.
Cold Eyes
(Gam-si-ja-deul)
Direção: Ui-seok Jo, e Byung-seo Kim
Duração: 119 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: PolicialSign up here with your email
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