Aparentemente
os critérios de seleção de títulos de filme em português ocorrem
em um patamar de raciocínio tão elevado, que são capazes de
afastar até o eventual público-alvo de uma produção.
Sei
que isso não é de hoje, mas o filme em questão nessa postagem tem
por primeira surpresa exatamente o fato de que o seu título original
é “Machine Gun Preacher” (Pastor da Metralhadora, que reconheço, não seria um título muito atraente pra muitos), que em terras
tupiniquins foi solenemente batizado de “Redenção”.
Por
que isso?
Seria
pura trollagem?
Quem
sabe?
Mas
prefiro apostar em uma equivocada e superficial interpretação de
sinopse (o que é redundante. Não existe “análise” de sinopse
que consiga não ser superficial).
A
favorita dentre as possibilidades é que alguém leu “Machine Gun
Preacher? Mas é a história de um ex-chapadão que agora ajuda
criancinhas! Sabe que nome seria perfeito? Redenção!”.
Simples
assim.
Só
quem perde é o filme do diretor Marc Forster, e o espectador
que sofre de alergia a filmes melosos com histórias de superação em formato lenga-lenga,
algo que Machine Gun Preacher com certeza não é.
Além
disso, Machine Gun Preacher é baseado em fatos reais, o que aumenta
essa tentativa geral de enquadrá-lo na categoria de filme pra
estimular choredo.
O filme conta a história de Sam Childers (interpretado pelo Gerard Butler), ex-traficante, ex-presidirário, e
usuário costumaz de medicamentos não costumazes na farmácia mais
perto de sua casa, pode ter até alguma qualidade, mas não tem feito
uso de nenhuma faz tempo.
Um
ponto de mudança está em sua esposa Lynn (Michelle Monaghan), que encontra na Fé uma alternativa ao ciclo
rotineiro ao qual o casal está ligado, envolvendo os crimes de Sam,
e seus respectivos problemas com a polícia. Além disso, a filha
pequena também exerce papel
fundamental nesse processo, afinal, o carranca recém saído da
prisão mal a conhece, e numa dessas até volta pra uma estada atrás
das grades se a situação não mudar.
Esses são os fatos. Mas a maneira como são contados nesse momento inicial é que prejudicam bastante o longa-metragem.
Esses são os fatos. Mas a maneira como são contados nesse momento inicial é que prejudicam bastante o longa-metragem.
O
começo do filme é um tanto apressado, e não mostra essa transição
com os devidos detalhes. Parece mesmo sofrer de um receio de que o
público possa se entediar, ou ser movido por preconceitos pra
escolher outro filme que não tenha nada a ver com Cristianismo.
O que é uma pena, porque essa é a base pra etapa em que o
filme se encontra.
Porém, com algum esforço do diretor, as coisas começam a entrar nos eixos.
Enquanto vive uma fase diferente de sua vida, Childers vê uma oportunidade de desempenhar os preceitos cristãos de uma forma um tanto mais prática.
Enquanto vive uma fase diferente de sua vida, Childers vê uma oportunidade de desempenhar os preceitos cristãos de uma forma um tanto mais prática.
O
“amar o próximo” torna-se algo a ser efetivado e não apenas
retórica, e ele parte então para uma forma bem particular de
humanitarismo que envolve tiroteio, construção civil, e sacrifício
pessoal.
Isso
tudo ao confrontar a situação de populações africanas na África,
o que o motiva a deixar de lado o benefício próprio, e investir
recursos, tempo, e pôr a própria pele em risco diante de
guerrilheiros, e um regime ditatorial que vê multidões de pessoas
não diferentes de um campo de tiro.
Um
grande diferencial do trabalho do diretor é não
virar a câmera nos momentos mais violentos.
É um
filme a respeito de Fé Cristã em uma forma não obstinada em ver
diferenças, ou criar separação. E sim, em refletir um exemplo.
Afinal,
se Jesus Cristo viveu pra abdicar de si mesmo em prol dos outros, por
que seus seguidores agiriam diferente?
É
assim que o Sam Childers do filme profere palavras ásperas em sua
Igreja, com a mente ainda manchada pelas cenas de genocídio que viu
na África.
Várias
são as vezes em que o roteiro lida com os questionamentos do
protagonista nessa guerra que muitos dizem não ser dele, mas pra um cristão nada tradicional que nem Childers
pouco importa, e ele não se incomoda em recorrer às armas diante de
um ataque ao orfanato que ergueu pra acolher os órfãos das muitas
investidas do exército rebelde, que
empilha cadáveres em toda aldeia pela qual passa.
O
personagem de Gerard Butler, é claro, não é um exemplo cristalino
de serenidade, e padrões convencionais de espiritualidade.
O
roteiro de Jason Keller nem tenta fingir isso.
Nos
seus dilemas e rotina que envolve não ver a família nos EUA, pra se
esforçar pra que pilhas de corpos de crianças não apareçam
carbonizadas no dia seguinte, ele por vezes fraqueja diante de uma
realidade que não presenciaria se estivesse confortável sentado em
um banco da Igreja do seu bairro.
Independente
de não estar imune a alguns problemas típicos do seu gênero
cinematográfico, e de que a narrativa tome alguns rumos bem
convencionais em certos momentos, o diretor conseguiu equilibrar as
coisas não optando por uma versão melodramática da vida do figura
real que é peça central no seu filme.
Tem seus problemas, e são vários de ordem narrativa.
Tem seus problemas, e são vários de ordem narrativa.
De todo modo, Machine
Gun Preacher é sim um filme que mostra em suas cenas violentas, e
nas escolhas de seu protagonista um tipo de herói falível, mas nem
por isso de atitudes menos eloquentes.
Na verdade, o efeito é muito mais forte, e até inspirador a partir de seus questionamentos, do que uma corriqueira e chorosa história de “redenção” hollywoodiana.
Na verdade, o efeito é muito mais forte, e até inspirador a partir de seus questionamentos, do que uma corriqueira e chorosa história de “redenção” hollywoodiana.
Quanto
vale:
Redenção.
Recomendado para: conhecer uma daquelas histórias impressionantes baseadas em fatos,
que inexplicavelmente tão pouca gente conhece.
Redenção
(Machine
Gun Preacher)
Direção: Marc Forster
Duração: 129 minutos
Ano de
produção: 2011
Gênero:
Ação/Drama
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