Algo
de bastante sincero é algo que sempre é possível encontrar no
cinema de Stephen Chow.
Isso
porque seus trabalhos não costumam vir cheios de recomendações dos
“cinéfilos sérios”, ou, mesmo apesar dos efeitos especiais,
mantém uma simplicidade muito evidente, ainda que muitas vezes os
embates dos personagens sejam bastante grandiloquentes.
Aliás,
esse costume de retratar-se costumeiramente no papel de um mendigo
parece colocá-lo sempre em uma situação tão deplorável que causa
empatia ainda que seus personagens por vezes não sejam exemplos de
integridade desde o início, tal qual foi em Kung Fusão (2004).
Mas
seu personagem em "CJ7" lembra bem mais Shaolin Soccer (2001), ainda
que dessa vez ele nem seja o protagonista.
CJ7 é
uma incursão no humor, e não cinema de artes marciais com humor
(mesmo que o humor possa estar em maior quantidade que as lutas).
E
nesse filme do cineasta, roteirista, produtor, e também ator, mais
uma vez acumulando todas essas funções, ele é o pai do
protagonista, Dicky Chow, interpretado pelo Jiao Xu, que é um ator mirim de muita
competência.
Na
trama, que em um olhar raso poderia evocar uma espécie “Zathura”
oriental, o envolvimento do guri protagonista é com um objeto espacial, que pra harmonizar com o contexto do filme é encontrado no lixo.
E com o passar do filme qualquer similaridade com produções hollywoodianas vai se enfraquecendo, porque, apesar de não ser o mais genial dos filmes, CJ7 ainda assim conta com o estilo forte do seu diretor.
E com o passar do filme qualquer similaridade com produções hollywoodianas vai se enfraquecendo, porque, apesar de não ser o mais genial dos filmes, CJ7 ainda assim conta com o estilo forte do seu diretor.
Não é
pelo fato de estar realizando um filme assumidamente infantil que
Stephen Chow abandona suas características, então pode se
decepcionar quem esperar as grandes batalhas vistas nos seus dois
mais populares trabalhos, mas também pode surpreender quem for na
expectativa de apenas um filme família de piadas e final repetido.
Na
história da dupla de pai e filho, paupérrimos, e ainda assim
buscando viver com muita integridade, mesmo que o menino tente se
adequar na escola, almeje o brinquedo caro que seus bullies com jeito
de máfia mirim podem comprar, e que sua figura paterna viva os
conflitos de tentar garantir uma perspectiva melhor de futuro pro seu
herdeiro (de bons valores, apenas. É só o que ele tem pra deixar,
mesmo), e outros elementos que soam muito clichês, existe sempre o
nonsense à espreita, e ele faz um diferença positiva que qualquer
pré-conceito prefere negar.
Esse
nonsense está em um devaneio infantil de como solucionar as
dificuldades da vida escolar, nas possibilidades que um aliado
alienígena permitiria pra enfrentar desafetos na escola, nos
interesses românticos inesperados que emergem na história, ou em
lutas que lembram sempre do desperdício que foi o próprio Stephen
Chow não ter dirigido o filme “Dragonball Evolution” (2009), ao invés
de apenas produzi-lo.
Mas o
foco central da história é na amizade do menino Dicky Chow, e CJ7,
o artefato alien batizado por ele, e que vai forçar o enredo rumo ao
aprendizado que ele precisa pra justificar ao final do filme todos os
percalços pelos quais o protagonista passou.
Interessante
que, apesar de os efeitos especiais não representarem nenhum ponto
forte (nunca são plenamente convincentes na representação do CJ7),
o draminha funciona na medida pra um filme infantil, e pra arrancar
reconhecimento pelos méritos que uma obra tão ingênua e
despretensiosa que nem essa.
E
sobre os efeitos, não tem nada demais, mesmo. Afinal, se eu não
considero filme bom por causa de efeitos especiais, não poderia
considerar ruim avaliando meramente esse mesmo aspecto.
Até
porque o CG pouco importa quando a hilária cena das baratas, ou a
luta na escola, ou a interação do menino e a criatura espacial se
impõe por si só diversão a mais do que tantos filmes inteiros
supervalorizados com prêmios.
CJ7
nem parece requerer imersão do público pelo realismo. É uma fábula
que pede do espectador o embarque na sua narrativa sem imaginar que
aquilo é mais do que a diversão que oferece, e planta suas morais
da história gradualmente.
Ainda
que não seja nada inovador, e carregue umas tantas falhas e
limitações, certamente não é nada a ignorar essa contribuição
do cineasta a um gênero de cinema que não costuma ousar nada na
maioria maçante que é lançada mensalmente atraindo os ingressos
das crianças e de seus adultos responsáveis.
"CJ7" é
um longa-metragem capaz de arrancar risadas de adultos e das
crianças, respeitar a memória afetiva de quem aprecia os filmes
anteriores do diretor, contar uma história com mensagem valiosa pros
espectadores bem mais jovens, e não se importar com o que pode
parecer exagerado e incompatível com a canastrice de filmes infantis
oportunistas nascidos pra ser blockbuster.
Esse é
só um filme infantil legal, que traz muito do cinema do seu autor
tomando a cena de tantos em tantos minutos.
Ainda
que não represente o seu melhor, é um lembrete de que Stephen Chow
ainda sabe criar entretenimento, e que não precisa de muito
dinheiro, e nem de hora e meia pra isso.
CJ7.
Recomendado para: encontrar uma aliança inesperada entre morais da história, nonsense, e doses moderadas de pancadaria famigerada.
CJ7
(Cheung Gong 7 Hou)
Direção:
Stephen Chow
Duração: 86 minutos
Ano de
produção: 2008
Gênero:
Comédia/InfantilSign up here with your email
EmoticonEmoticon