Baseado
em fatos reais.
Tá
certo que o "Fargo"
tratou de desmitificar um tanto essa frase que acompanha pencas de
filmes Oscarianos anualmente.
Mas
isso nem de longe te prepara pro espetáculo de uma descomunal
absurdez que é esse "Cold
Fish".
Primeiro
porque no seu filme o diretor Sion Sono está pouco se lascando pra
essas pretensões de ganhar prêmio de filme choroso.
Seu
trabalho é casca-grossa em doses nada homeopáticas, e sua condução
da trama é simplesmente brilhante, e a violência ganha contornos de transgressão a cada nova cena filmada com perfeição.
E
nem adiante sentir pena do mal-acabado protagonista que é a epítome
da inércia, porque se o diretor do também perturbador "Suicide Club" (Jisatsu Sâkuru) não se importa com ele, então a
sucessão de intempéries na vida dele vai ser apresentada sem
cerimônia.
O
tal protagonista é Nobuyuki Syamoto (atuado de maneira formidável pelo
Mitsuru Fukikoshi), dono de uma loja de artigos relacionados a
piscicultura, que mora com sua esposa Taeko (Megumi Kagurazaka), e a
filha Mitsuko (Hikari Kajiwara).
No
caminho deles aparece o empresário do mesmo ramo profissional que o
Syamoto, o cheio de carisma Sr. Murata (impagável e magistralmente interpretado pelo
ator Denden), e sua esposa Aiko (Asuka Kurosawa, em uma atuação
sensacional).
Se
dependesse do Syamoto, sua vida seria a monotonia que é capaz de
levar a óbito, mas o encontro inusitado desses personagens provoca
um choque de idissioncrasias, falhas de caráter, interesses (e
patologias, por que não?) que descarrila o trem da vida do
protagonista de uma vez só.
As
situações vão progredindo, exigindo cada vez mais resistência dos
estômagos dos espectadores, em banhos de gore, fatalidades pintadas
em humor negro exemplar, e outros excessos que em "Cold
Fish"
parecem plenamente aceitáveis diante da natureza dos personagens, do
desenrolar dos fatos, e das atuações excelentes.
Curiosamente,
esse filme japonês, ao mesmo tempo em que bebe na fonte da absurdez
que o gore japonês há muito chama de sua, fez lembrar alguns grandes filmes policiais
sul-coreanos, de roteiro afiado, e nenhum pudor quanto ao teor das
cenas violentas que o enredo fez questão de preparar com eficiência.
Um maiúsculo tratado sobre demência, relacionamentos abusivos, em um filme transgressor e perturbador.
Pros
desavisados, esse filme possui praticamente todos os elementos que
fazem os fãs de blockbusters típicos torcerem o nariz na nuca e
chorarem.
Então,
não espere romance (o que acontece no filme deve ter algum outro
nome peculiar), redenções (o que acontece no filme deve ter algum
outro nome peculiar), ou humor (a não ser aquele tipo de humor que
em geral faz grande parte da plateia virar o rosto em manifestação
de aversão).
Pode
ser que chegue a um ponto em que tu se pergunte "por que afinal
eu tô assistindo uma coisa dessas?". Ou que ao final da sessão
lhe pareça que viu cenas desconfortáveis demais pra quem achou violento o Batman
e o Superman
inticando um com o outro, mas independente dessas alternativas (ou
outras) uma coisa é certa: "Cold
Fish"
vai deixar umas quantas cenas gravadas na tua mente.
Coisa
que muito longa-metragem dito "melhor do ano" não consegue.
Gostar
do filme deixo na conta da subjetividade.
Quanto
vale:
Cold
Fish.
Recomendado para: quem já tem apreço por algum gênero de cinema
extremo, senão vai vir reclamar aqui depois.
Cold
Fish
(Tsumetai nettaigyo)
Direção: Sion Sono
Duração: 146 minutos
Ano
de produção: 2010
Gênero: Thriller/Suspense/Terror
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