Europa Report (2013)

Já que comentei no último post sobre o filme Europa Report (2013), ai vai uma resenha sobre o dito cujo. No Brasil, ele está disponível no Netflix.

ATENÇÃO: O Marcel Ibaldo, aqui do Satélite Vertebral, também resenhou o dito cujo. Seus comentários estão aqui. Minha "versão" discute a questão da ciência da ficção científica.

Para começo de conversa, duas características interessantes sobre o mesmo. Primeiro, ele é um filme de "baixo orçamento". Coloco entre aspas porque o dito cujo custou 10 milhões de dólares, uma bagatela em relação aos filmes hollywoodianos, mas uma imensa fortuna para a realidade tupiniquim. Só para criar um parâmetro, filmes de ficção científica e horror que fazem história no Fantaspoa, o festival de cinema fantástico de Porto Alegre, não costumam passar dos 10 mil reais.

Buenas, a segunda questão é que se trata de um filme "found footage" (traduzido para filmes perdidos, uma interpretação tão ruim quanto cerveja quente em lata). Ou seja, trata-se de um filme construído na forma de documentário a partir de pretensos vídeos encontrados em algum lugar. Lembra-se d’A Bruxa de Blair? É isso aí mesmo.

O enredo é simples: uma nave espacial parte para Europa, uma das luas de Júpiter. É a primeira nave espacial inteiramente patrocinada por uma companhia privada (na verdade, esta questão é completamente irrelevante; no máximo, serve para justificar porque não há militares na missão). No meio da missão, que dura quase dois anos, há um acidente e as comunicações são interrompidas. A partir deste ponto, eles estão sozinhos e quem fica em Terra só vai receber informações da missão nos últimos e derradeiros momentos, quando a comunicação é reestabelecida - e que constituí o único "furo" maior do filme, que não dá uma explicação convincente de porque eles só conseguem consertar a antena no fim.

O objetivo da missão também é simples e calcado em evidências científicas: como Europa tem gelo, então pode conter vida microscópica. É atrás disso que parte nossa tripulação multiétnica (russos, orientais, americanos...).

A partir do lançamento da nave, o filme se torna um exemplo de ficção científica hard. Tão importante quanto o enredo é a explicação do por que, como e quando as coisas acontecem. Há uma preocupação constante do diretor Sebastián Cordero, um diretor equatoriano que já havia dirigido o filme Crónicas (produzido por Guillermo del Toro e Alfonso Cuarón), em calcar a realidade do filme nas evidências científicas atuais. Por causa disso, o filme pode parecer monótono, pois a tensão retratada pelo diretor está mais centrada nos sintomas de isolamento devido ao prolongamento da missão – e que piora após a perda das comunicações – do que à trama em si. A morte de um dos astronautas só piora a questão.

A segunda metade do filme mostra a chegada dos astronautas na lua de Europa. Aí, a ficção científica se torna mais premente e a missão científica se torna uma luta pela sobrevivência.

Mas, não, não espere homenzinhos verdes com pistolas de raio ou monstros babando. É ficção científica (o que implica um desligamento da realidade nua e crua), mas é ficção científica hard.

No final, as cenas derradeiras da equipe são transmitidas num último esforço para que a Terra saiba o que aconteceu com a missão Europa. Mais do que um gesto abnegado de uma missão científica, os astronautas querem dar um fecho às famílias, cujo sofrimento perpetua-se desde o desligamento das comunicações.

[spoiler crossover]
Hal: Todos estes mundos são seus, exceto Europa. Não tentem aterrissar lá. 
Primeira regra da literatura fantástica: nunca dê bola para avisos misteriosos...
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Algumas considerações importantes são necessárias. Primeiro, que é possível fazer um filme com CGI e efeitos especiais decentes com um orçamento “limitado”. As cenas são factíveis e bem construídas e você não se vê procurando por cortes estranhos para esconder falhas de produção. Segundo, que o orçamento limitado parece forçar os diretores e produtores a pensar melhor no roteiro. Como não há dinheiro para gastar em cenas espetaculares, a trama precisa sustentar o filme. Esta é, raramente, uma má ideia.

A aceitação do filme comprova a segunda assertiva: para um filme de 10 milhões, ele rendeu 126 milhões de verdinhas. Nada mal para um filme independente (Elysium, só para manter a comparação, custou 115 milhões e rendeu 286, um lucro de 171 mijones de estalecas. É bastante, mas os riscos são absurdamente maiores).

Recomendado para: quem curte ficção científica hard. Se acha 2001: Uma Odisseia no Espaço uma chatice, passe longe deste filme.

Quanto vale:


Europa Report
(Europa Report)
Direção: Sebastián Cordero
Duração: 89 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ficção Científica


A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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