O Predestinado (2014)



Grande parte do estrago causado por décadas de cinema comercial divulgado na base dos cacoetes da indústria é principalmente perceptível quando um bom filme é confundido com um genérico B que não vale a busca pelo seu torrent.
Até por isso que "O Predestinado" tem uma barreira grande a vencer por possuir um cartaz redundante, que o coloca no mesmo balaio de tantos outros filmes.




Verdade que o Ethan Hawke é daqueles atores que brinca com o cinema de ação, evitando ser vinculado ao lado acéfalo da produção cinematográfica hollywoodiana.
Escolhas de papéis interessantes, e dosar produções de ação (que nem o “Uma Noite de Crime”) com dramas de forte apelo junto à crítica (“Boyhood” não me deixa mentir), são a fórmula do cara, e só por isso que "O Predestinado" adquiriu uma posição mais respeitável na lista de filmes pra assistir.
Ainda bem.
O filme dos diretores Michael e Peter Spierig pode ser muita coisa, mas na certa que não é só mais um filme de ação.
Ainda que a trama acompanhe um agente lutando pra evitar crimes efetuados com o uso de máquinas do tempo, o que joga na mente o filme "Timecop: O Guardião do Tempo" (é. Aquele com o Van Damme), é assistir pra ter certeza de ter diante de si uma obra original e inteligente.
Com sua história se passando em épocas diferentes, ela vai aos poucos sendo trazida ao espectador, que vai precisar montá-la com as peças disponibilizadas no ritmo certo.
Fica mais curioso a cada minuto investido apresentando a trama fragmentada, até porque ela nunca chega no patamar de filme besteirol de tiro que poderia, e isso é até inquietante, tendo em vista o que é sempre o caminho mais fácil pra desperdiçar uma boa premissa.




Antes que se perceba, “O Predestinado” se tornou uma conversa de bar entre duas cada vez mais inusitadas figuras, que revisitam passado e futuro enquanto o espectador corre junto pra não perder os detalhes que vão se mostrando essenciais pro entendimento desse que na certa não é um filme de ação, mas sim um bom drama de ficção científica.
Verdade que os mais apegados ao que o filme parecia ser já terão abandonado a sessão a essa altura, ao perceber não vai rolar a correria CG do terceiro ato.
Enquanto isso, age em paralelo a trama de caça ao terrorista que o agente do tempo não foi capaz de prender, somada ao drama da vida do misterioso personagem com o qual o protagonista conversa e que vai se mostrando tão protagonista quanto ele.
O andamento pautado por diálogos faz o filme dos Irmãos Spierig se manter confortável e sem fingir que é o pipocão que poderia ter sido. Os propósitos do roteiro estão bem delineados, e as revelações vão surgindo ao natural, constantemente testando a atenção da plateia, e lembrando que esse filme traz no seu roteiro uma de suas principais armas.
Junto a ele, as atuações de Ethan Hawke, e principalmente de Sarah Snook são força motriz da produção, em que o mínimo comentário a mais da minha parte poderia estragar uma experiência cinematográfica das mais gratificantes.



Nessa nova parceria entre os irmãos Spierig, e Ethan Hawke, não apenas o resultado ficou muito acima de “Daybreakers”, mas também teve a cena roubada pela inesperada atuação da Sarah Snook.
Isso, somado a um roteiro esperto e de reviravoltas orgânicas, faz de “O Predestinado” um dos sci-fi mais interessantes lançados recentemente.
Algo pra fazer uma dobradinha com “Ex Machina” em épocas de pirotecnia tresloucada dominante.



Quanto vale:



O Predestinado. Recomendado para: um ciclo infinito de mindblowing.

O Predestinado
(Predestination)
Direção: Michael Spierig, Peter Spierig
Duração: 97 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Ficção Científica/Drama/Suspense

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