Grande
parte do estrago causado por décadas de cinema comercial divulgado
na base dos cacoetes da indústria é principalmente perceptível
quando um bom filme é confundido com um genérico B que não vale a
busca pelo seu torrent.
Até
por isso que "O
Predestinado"
tem uma barreira grande a vencer por possuir um cartaz redundante,
que o coloca no mesmo balaio de tantos outros filmes.
Verdade
que o Ethan
Hawke
é daqueles atores que brinca com o cinema de ação, evitando ser
vinculado ao lado acéfalo da produção cinematográfica
hollywoodiana.
Escolhas
de papéis interessantes, e dosar produções de ação (que nem o
“Uma Noite de Crime”)
com dramas de forte apelo junto à crítica (“Boyhood”
não me deixa mentir), são a fórmula do cara, e só por isso que "O
Predestinado"
adquiriu uma posição mais respeitável na lista de filmes pra
assistir.
Ainda
bem.
O
filme dos diretores Michael
e Peter Spierig
pode ser muita coisa, mas na certa que não é só mais um filme de
ação.
Ainda
que a trama acompanhe um agente lutando pra evitar crimes efetuados
com o uso de máquinas do tempo, o que joga na mente o filme "Timecop:
O Guardião do Tempo"
(é. Aquele com o Van
Damme),
é assistir pra ter certeza de ter diante de si uma obra original e
inteligente.
Com
sua história se passando em épocas diferentes, ela vai aos poucos
sendo trazida ao espectador, que vai precisar montá-la com as peças
disponibilizadas no ritmo certo.
Fica
mais curioso a cada minuto investido apresentando a trama
fragmentada, até porque ela nunca chega no patamar de filme
besteirol de tiro que poderia, e isso é até inquietante, tendo em
vista o que é sempre o caminho mais fácil pra desperdiçar uma boa
premissa.
Antes
que se perceba, “O
Predestinado”
se tornou uma conversa de bar entre duas cada vez mais inusitadas
figuras, que revisitam passado e futuro enquanto o espectador corre
junto pra não perder os detalhes que vão se mostrando essenciais
pro entendimento desse que na certa não é um filme de ação, mas
sim um bom drama de ficção científica.
Verdade
que os mais apegados ao que o filme parecia ser já terão abandonado
a sessão a essa altura, ao perceber não vai rolar a correria CG do
terceiro ato.
Enquanto
isso, age em paralelo a trama de caça ao terrorista que o agente do
tempo não foi capaz de prender, somada ao drama da vida do
misterioso personagem com o qual o protagonista conversa e que vai se
mostrando tão protagonista quanto ele.
O
andamento pautado por diálogos faz o filme dos Irmãos
Spierig
se manter confortável e sem fingir que é o pipocão que poderia ter
sido. Os propósitos do roteiro estão bem delineados, e as
revelações vão surgindo ao natural, constantemente testando a
atenção da plateia, e lembrando que esse filme traz no seu roteiro
uma de suas principais armas.
Junto
a ele, as atuações de Ethan
Hawke,
e principalmente de Sarah
Snook
são força motriz da produção, em que o mínimo comentário a mais
da minha parte poderia estragar uma experiência cinematográfica das
mais gratificantes.
Nessa
nova parceria entre os irmãos
Spierig,
e
Ethan
Hawke,
não apenas o resultado ficou muito acima de “Daybreakers”,
mas também teve a cena roubada pela inesperada atuação da Sarah
Snook.
Isso,
somado a um roteiro esperto e de reviravoltas orgânicas, faz de “O
Predestinado”
um dos sci-fi mais interessantes lançados recentemente.
Algo
pra fazer uma dobradinha com “Ex Machina”
em épocas de pirotecnia tresloucada dominante.
Quanto
vale:
O
Predestinado. Recomendado
para: um ciclo infinito de mindblowing.
O
Predestinado
(Predestination)
Direção:
Michael Spierig, Peter Spierig
Duração:
97 minutos
Ano
de produção: 2014
Gênero:
Ficção Científica/Drama/Suspense
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