A
menos em caso de um filme de ação muito bem feito, no meu humilde
pseudo-entender a respeito de cinema, eu acredito que um filme não
pode ser apenas o que é resumido sobre ele na sinopse.
Ao
assistir Os Suspeitos, além de eu não fazer ideia do que se
tratava a história, e não saber nem quem eram os atores famosos do
elenco, eu nem havia sido informado sobre o gênero cinematográfico
ao qual ele havia sido rotulado.
Após um prólogo inspirado e que já planta uma expectativa de um thriller com alguma profundidade na abordagem do tema, se segue a apresentação do contexto e seus personagens.
Curiosamente,
esses momentos apresentando o núcleo familiar, e criando aos poucos a
atmosfera do suspense investigativo (o que costuma ser bastante trivial e
chato) foi bem contado o bastante pra ser envolvente e não perder
atenção do espectador.
Isso
principalmente pelo fato de que os atores estão imersos de tal forma
em seus respectivos papeis, que logo se esquece que o diretor
Denis Villeneuve conta com um elenco respeitável, tendo alguns frequentadores do Oscar e outras premiações.
Hugh Jackman, Terrence
Howard, Jake Gyllenhaal, Melissa Leo, Paul Dano, Viola Davis, e Maria Bello garantem uma veracidade pra cada cena e questionamento moral do filme, e transformam um suspense potencialmente típico, em uma experiência catártica.
Aquele
risco de se tornar mais um filme do “cara do Wolverine”
desaparece muito cedo.
E não
apenas o talento bem dirigido do elenco, mas também a caracterização
é um elemento muito forte.
E não
estou falando de algo extremo, e sim de algo mais sutil, mas nem por isso menos impressionante.
Nesse
quesito, o detetive interpretado pelo Jake Gyllenhaal beira um absurdo
de competência.
Não
apenas o ator adiciona tiques nervosos ao personagem (que diferente
do que imaginei, não descambam pra caricatura com o passar do
filme), porém, mais do que isso ele faz o que me parece a melhor
atuação da sua carreira, e fica absolutamente irreconhecível o que
só ajuda pra tirar a estigma de ser mais um filme estrelado pelo
Hugh Jackman.
O
longa-metragem retrata uma investigação que mobiliza tanto a
polícia, especialmente o personagem de Gyllenhaal, quanto
o morador local Keller Dover (Jackman), e outras pessoas da
comunidade.
Mérito a destacar do roteiro escrito por Aaron Guzikowski, é a capacidade de trazer elementos novos pra
trama seguidamente, e não deixar virar meramente uma caça ao criminoso, ou
uma busca de provas de "se o fulano fez isso ou aquilo".
É
isso também, às vezes. Mas também, constantemente a sensação que
os próprios personagens possuem de que talvez estejam concentrando
suas atenções no suspeito errado, é algo que recai sobre o
espectador.
Existe
um mistério a solucionar, mas ele não é o norte no qual o filme
aposta as suas fichas todas.
Muito
mais interessante é a representação da forma como todo o incidente
e suas conseqüências transformam as pessoas.
Logo
as decisões tornam-se cada vez mais questionáveis, e até o
potencial ar heróico vai se desfazendo.
Nesse
sentido, há três cenas que são particularmente marcantes.
Uma é
um diálogo entre Jackman e Gyllenhal, que mostra que o protagonista
da cinessérie Wolverine é capaz de muito mais no personagem mutante
se um diretor que preste lhe exigir isso.
Outra envolve um martelo e uma pia, e eu prefiro não detalhar mais a
respeito.
E a
terceira envolve uma oração, e claro, eu vou me permitir EVITAR
spoilers, então não haverá mais detalhes a respeito.
Essa
questão envolvendo religião e fé também desempenha função
importante na trama.
Afinal,
muito mais no longa-metragem é sobre a mudança de atitude de seus
personagens, então é interessante a forma como é recorrente a busca na espiritualidade de tão diferentes formas de amparo. Tanto
uma justificativa para seus atos, quanto alguma força pra evitar
esses mesmos atos.
Os Suspeitos tem um ritmo de andamento muito bom, e não parece se arrastar
enquanto as peças vão surgindo, sem que necessariamente se
encaixem.
À
medida que o enredo transcorre com uma tensão ascendente, no
entanto, para o ato final parece que as boas idéias não foram
reservadas.
Ainda
há um plot twist interessante, e as boas atuações.
Mas
sem necessidade o vilão conta o plano e motivações de uma vez, e as
jogadas imprevisíveis ficam de lado, tornando o final um tanto
frustrante pra algo que foi tão acima da média até então.
Além disso, é claro, as coincidências e provas surgindo na frente
dos personagens não colaboram pra manter a qualidade nivelada no
alto.
O que
se mantém sempre, felizmente é a extrema competência do elenco, e
claro, do diretor em lhes arrancar o máximo de sua capacidade de
atuação e criar tamanha tensão na contagem regressiva que se torna a busca por uma solução para o sequestro.
Fosse
um elenco diferente, ou um diretor que o subaproveitasse, quem sabe
Os Suspeitos acabaria sendo mais um thriller pra não assistir.
Ainda
bem que não foi o caso, e apesar do final menos inspirado, a maior
parte do filme é cinema que incomoda o espectador pela força do que
transmite, e não pelo comodismo de quem o realizou.
Quanto
vale:
Recomendado
para: quem aprecia atuações realmente viscerais.
Os Suspeitos
(Prisoners)
Direção: Denis Villeneuve
Duração: 153 minutos
Ano de
produção: 2013
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