Os Suspeitos (2013)



A menos em caso de um filme de ação muito bem feito, no meu humilde pseudo-entender a respeito de cinema, eu acredito que um filme não pode ser apenas o que é resumido sobre ele na sinopse.
Ao assistir Os Suspeitos, além de eu não fazer ideia do que se tratava a história, e não saber nem quem eram os atores famosos do elenco, eu nem havia sido informado sobre o gênero cinematográfico ao qual ele havia sido rotulado.

Após um prólogo inspirado e que já planta uma expectativa de um thriller com alguma profundidade na abordagem do tema, se segue a apresentação do contexto e seus personagens.
Curiosamente, esses momentos apresentando o núcleo familiar, e criando aos poucos a atmosfera do suspense investigativo (o que costuma ser bastante trivial e chato) foi bem contado o bastante pra ser envolvente e não perder atenção do espectador.
Isso principalmente pelo fato de que os atores estão imersos de tal forma em seus respectivos papeis, que logo se esquece que o diretor Denis Villeneuve conta com um elenco respeitável, tendo alguns frequentadores do Oscar e outras premiações. 
Hugh Jackman, Terrence Howard, Jake Gyllenhaal, Melissa Leo, Paul Dano, Viola Davis, e Maria Bello garantem uma veracidade pra cada cena e questionamento moral do filme, e transformam um suspense potencialmente típico, em uma experiência catártica.
Aquele risco de se tornar mais um filme do “cara do Wolverine” desaparece muito cedo.
E não apenas o talento bem dirigido do elenco, mas também a caracterização é um elemento muito forte.
E não estou falando de algo extremo, e sim de algo mais sutil, mas nem por isso menos impressionante.


Nesse quesito, o detetive interpretado pelo Jake Gyllenhaal beira um absurdo de competência.
Não apenas o ator adiciona tiques nervosos ao personagem (que diferente do que imaginei, não descambam pra caricatura com o passar do filme), porém, mais do que isso ele faz o que me parece a melhor atuação da sua carreira, e fica absolutamente irreconhecível o que só ajuda pra tirar a estigma de ser mais um filme estrelado pelo Hugh Jackman.


O longa-metragem retrata uma investigação que mobiliza tanto a polícia, especialmente o personagem de Gyllenhaal, quanto o morador local Keller Dover (Jackman), e outras pessoas da comunidade.
Mérito a destacar do roteiro escrito por Aaron Guzikowski, é a capacidade de trazer elementos novos pra trama seguidamente, e não deixar virar meramente uma caça ao criminoso, ou uma busca de provas de "se o fulano fez isso ou aquilo".
É isso também, às vezes. Mas também, constantemente a sensação que os próprios personagens possuem de que talvez estejam concentrando suas atenções no suspeito errado, é algo que recai sobre o espectador.


Existe um mistério a solucionar, mas ele não é o norte no qual o filme aposta as suas fichas todas.
Muito mais interessante é a representação da forma como todo o incidente e suas conseqüências transformam as pessoas.
Logo as decisões tornam-se cada vez mais questionáveis, e até o potencial ar heróico vai se desfazendo.
Nesse sentido, há três cenas que são particularmente marcantes.
Uma é um diálogo entre Jackman e Gyllenhal, que mostra que o protagonista da cinessérie Wolverine é capaz de muito mais no personagem mutante se um diretor que preste lhe exigir isso.
Outra envolve um martelo e uma pia, e eu prefiro não detalhar mais a respeito.
E a terceira envolve uma oração, e claro, eu vou me permitir EVITAR spoilers, então não haverá mais detalhes a respeito.


Essa questão envolvendo religião e fé também desempenha função importante na trama.
Afinal, muito mais no longa-metragem é sobre a mudança de atitude de seus personagens, então é interessante a forma como é recorrente a busca na espiritualidade de tão diferentes formas de amparo. Tanto uma justificativa para seus atos, quanto alguma força pra evitar esses mesmos atos.
Os Suspeitos tem um ritmo de andamento muito bom, e não parece se arrastar enquanto as peças vão surgindo, sem que necessariamente se encaixem.
À medida que o enredo transcorre com uma tensão ascendente, no entanto, para o ato final parece que as boas idéias não foram reservadas.
Ainda há um plot twist interessante, e as boas atuações.
Mas sem necessidade o vilão conta o plano e motivações de uma vez, e as jogadas imprevisíveis ficam de lado, tornando o final um tanto frustrante pra algo que foi tão acima da média até então. Além disso, é claro, as coincidências e provas surgindo na frente dos personagens não colaboram pra manter a qualidade nivelada no alto.


O que se mantém sempre, felizmente é a extrema competência do elenco, e claro, do diretor em lhes arrancar o máximo de sua capacidade de atuação e criar tamanha tensão na contagem regressiva que se torna a busca por uma solução para o sequestro.
Fosse um elenco diferente, ou um diretor que o subaproveitasse, quem sabe Os Suspeitos acabaria sendo mais um thriller pra não assistir.
Ainda bem que não foi o caso, e apesar do final menos inspirado, a maior parte do filme é cinema que incomoda o espectador pela força do que transmite, e não pelo comodismo de quem o realizou.

Quanto vale:


Recomendado para: quem aprecia atuações realmente viscerais.

Os Suspeitos
(Prisoners)
Direção: Denis Villeneuve
Duração: 153 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Thriller/Suspense/Drama

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.



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