Do
passado gore de Peter Jackson para o posto de um dos maiores
multiplicadores de cifras do cinema houve uma trajetória que
facilmente me lembra a de Sam Raimi.
Porém,
enquanto após a bilionária franquia Spider-Man, Raimi tem tido
dificuldades pra apresentar trabalhos assistíveis por qualquer
motivo diferente de mera curiosidade dos fãs, Peter Jackson, ao
retornar às adaptações das aventuras na Terra-Média, manteve-se
por cima da carne seca, afinal, todo novo filme da franquia vem como
potencial épico clássico.
No
entando, O Hobbit não é O Senhor dos Aneis.
Esse
primeiro detalhe já dividiu opiniões quanto à primeira parte da
nova trilogia.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada, apesar de fiel ao livro, não agradou quem
esperava um filme sombrio, ainda que tenha sido adaptado de um livro
voltado ao público infanto-juvenil.
Assim
sendo, entre o primeiro e o segundo episódios da trajetória de
Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) havia esse questionamento quanto ao
tom escolhido para A Desolação de Smaug.
Dessa vez, com a proximidade do ouro que serve de colchão para o dragão Smaug (Benedict Cumbertatch) os egos começam a entrar em atrito, e faz com que a nobreza de alguns seja questionada.
Isso é
interessante e traz mais profundidade ao desenvolvimento dos
personagens, algo que foi o grande problema do filme de 2012.
Dentre tantos
personagens, não haver maior envolvimento ou não conhecer melhor a
motivação de cada um só afasta o espectador e faz dele mais voyeur
e menos participante imerso na realidade fantástica da obra.
Ainda assim, há os
novos personagens Bard (Luke Evans), o troca-peles Beorn (Mikael Persbrandt), além de uma ainda mais inútil participação em relação ao primeiro filme de Radagast (Sylvester McCoy), e sub-tramas que não permitem mais espaço
e falas para a comitiva rumo a Erebor.
Parte disso era necessária conforme apresentado no livro.
Outra parte não mesmo.
Parte disso era necessária conforme apresentado no livro.
Outra parte não mesmo.
Ao menos Bilbo
parece mais protagonista desta vez e tem papel mais atuante com sua
personalidade sendo
modificada conforme os desafios lhe exigem uma postura heroica.
modificada conforme os desafios lhe exigem uma postura heroica.
Además, as atuações
de Richard Armitage (Thorin Escudo de Carvalho) e Ian McKellen (Gandalf)
mantêm o nível visto anteriormente, enquanto dos demais anões
pouco se destaca a ponto de ser lembrado, a não ser uma sequência
de luta envolvendo Bombur (Stephen Hunter) e um barril, que é o
momento mais engraçado de toda a metragem.
Claro que tudo é
muito bem filmado, e novamente, assistir em 48 quadros por segundo é
um privilegio, que enriquece a experiência visual inundando a tela
de detalhes, e permitindo o 3D mais nítido e poderoso que o cinema
já conheceu.
Além disso, é
claro, a presença de Smaug é um espetáculo à parte.
Tanto a atuação de
Benedict Cumberbatch quanto a interação do monstro com tudo
à sua volta são perfeitos.
O problema, mesmo, é o propósito escancarado do filme e o uso feito das qualidades mencionadas acima pra criação de uma franquia bem mais convencional e sem o mínimo de coragem.
O problema, mesmo, é o propósito escancarado do filme e o uso feito das qualidades mencionadas acima pra criação de uma franquia bem mais convencional e sem o mínimo de coragem.
Nesse sentido, são
três os principais elementos que soam muito gratuitos e
desnecessários na produção:
- Legolas: o elfo interpretado por Orlando Bloom, ganha espaço e possibilita cenas de ação muito boas. E não vejo necessariamente algo de errado com o fato de ser algo novo em relação ao livro. O problema é a sua utilização, e o quanto esses minutos teriam sido úteis pra fortalecer a ligação cada vez mais fraca entre os viajantes;
- Tauriel: ser o catalisador de um aspecto romântico forçado e constrangedor foi a maior razão de existir da elfa, que na atuação de Evangeline Lilly não consegue sobrepujar a impressão de que não havia necessidade de que ela existisse no roteiro; e
- Os excessos de clichês e salvamentos de última hora, que vão minimizando a força das ameaças enfrentadas, e tornando vazias as sequencias de ação e pirotecnia.
Sem dúvida o tempo
a mais influenciou nessas decisões, fazendo com que a
possibilidade de preencher as 2hs e 40min trouxesse liberdade pra
engendrar participações especiais e maior investimento em CG, o que
na teoria de produtor de cinema é tudo o que o público quer ver.
Muito por essa compreensão errônea do que o filme precisava, “O Hobbit: A Desolação de Smaug” tem sobras demais.
Muito por essa compreensão errônea do que o filme precisava, “O Hobbit: A Desolação de Smaug” tem sobras demais.
Se nos tempos de
Dragonslayer, Willow, e diversos outros espada e magia, bastava 1h e
40min pra contar um roteiro coeso e sem excessos, o prolongamento da
saga de O Hobbit apenas apresentou um trabalho de Peter Jackson mais
perdido e comum estruturalmente, acumulando os defeitos e cacoetes
hollywoodianos e diminuindo a confiança e expectativa quanto ao
desfecho da trilogia.
A Desolação de Smaug consegue ser bem divertido em vários pontos e obviamente é muito bem produzido e atuado, mas faz questão de se privar das chances de ser mais por não lembrar do tema (e personagens) que deveria desenvolver, em prol de easter eggs e participações especiais.
A Desolação de Smaug consegue ser bem divertido em vários pontos e obviamente é muito bem produzido e atuado, mas faz questão de se privar das chances de ser mais por não lembrar do tema (e personagens) que deveria desenvolver, em prol de easter eggs e participações especiais.
Se era pra apresentar um roteiro de tal forma infectado pelos cacoetes de Hollywood, o melhor teria sido reassistir uns
VHS.
Uns daqueles dos
tempos em que uma boa ideia não vinha com obrigação de virar
franquia de pelo menos três filmes.
O Hobbit: A
Desolação de Smaug. Recomendado para: depositar as esperanças no
terceiro filme, que quem sabe conserte as cagadas deste de 2013.
O Hobbit: A
Desolação de Smaug
(The
Hobbit: The Desolation of Smaug)
Direção: Peter
Jackson
Duração: 161 minutos
Ano de produção:
2013
Gênero:
Aventura/FantasiaSign up here with your email