Continuando o nosso Especial Robocop, nessa postagem destacaremos os clones do policial robótico, carinhosamente chamados por mim pela alcunha de Robocópias. Sim, impoluto leitor, o Robocop original gerou alguns filmes que raramente valem o braço decepado de Alex Murphy, mas que, dependendo do humor do espectador, podem gerar ao menos boas gargalhadas.
O sucesso do primeiro Robocop, filme que teve David Cronenberg cotado para ser diretor, conquistou a simpatia de boa parte da crítica e do público. Inclusive no Oscar de 1988 a obra chegou faturar a categoria de melhor edição de som. Já no Prêmio Saturno, levou as categorias de melhor diretor, melhor filme de ficção científica, melhor maquiagem, melhores efeitos especiais e melhor roteiro.
O resultado de tanto êxito gerou ao redor do mundo uma infinidade de clones do Robocop, filmes que visavam pegar carona no bem sucedido longa-metragem do holandês Paul Verhoeven. Ainda assim, se você for assistir a um deles, ignore aquele papo sobre desumanização e crítica social, pois tais clones, que vão do bonzinho ao condenável, tinham o mero intuito de faturar uns trocos em cima do original indo direto para o mercado do VHS, abastecendo assim as estantes de várias locadoras espalhadas pelo globo terrestre.
A quantidade de réplicas é enorme, mas vale citar Cyborg Cop, protagonizada pelo sumido ator “B” David Bradley e que inclusive gerou uma franquia lançada no início da década de 90.
Há também títulos como Robot Ninja, Robotrix, R.O.T.O.R, o recente Android Cop (produção fuleira da Asylum) e a picaretagem italiana Robowar, lançada em 1988, dirigida pelo destrambelhado Bruno Mattei e roteirizada pelo não menos demente Claudio Fragasso, dois cineastas já conhecidos pelos amantes dos famigerados filmes B.
A sinopse de Robowar narra os apuros de soldados norte-americanos que adentram uma selva fechada da América Latina com o intuito de detonar um grupo de guerrilheiros. No entanto, o que para os soldados era para ser uma simples missão de extermínio, acaba se tornando uma luta de sobrevivência contra um ciborgue frio e calculista que os persegue. Diante de tal sinopse, já é possível constatar que o roteiro em questão não se contentou em utilizar apenas o artifício do robô, mas sim, o mesmo argumento do Predador.
E além de contar com uma trilha sonora repleta daqueles sintetizadores que deixavam as músicas com uma cara de banda cover do Erasure, há também o próprio roteirista Claudio Fragasso interpretando(??) o robô matador.
Mas quando o tema é clone do Robocop, poucos talvez consigam superar a cretinice de Robo Vampire (1988), obra-prima do cinema asiático (mais precisamente Hong Kong) que, a princípio, acredita-se foi dirigida por um tal de Tomas Tang. Nesse caso, vale destacar que na Ásia, naquele período, era muito comum cineastas picaretas pegarem dramalhões desconhecidos feitos em Taiwan, Coreia, Filipinas, China e, na maior cara de pau, inserir neles cenas de ação, transformando tais obras em filmes de ninja, policial e etc. Um dos “mestres” adeptos desse tipo de colagem-falcatrua é o diretor Godfrey Ho. Eu apenas não me aprofundo a tecer comentários acerca desse mago da sétima arte porque seria necessário um blogue ou um livro inteiro apenas para ele.
Mas enfim, o fato é que o filme Robo Vampire atinge os píncaros da ruindade ao misturar de forma escalafobética vampiros, magia, ficção científica e, finalmente, um policial que, ao morrer em serviço, é transformado de qualquer jeito em um ciborgue.
É interessante notar que no pôster promocional do longa, inclusive, há um Robocop igual ao original, todavia, tal recurso não passa de um engodo e no filme o robô policial nada mais é do que um dublê vestindo uma roupa de nylon prateada com um capacete fuleiro cobrindo a cabeça.
Em suma, Robo Vampire consegue ser pior que até o simpático seriado nipônico Jiban. A série do Jiban foi lançado no Japão durante o final da década de 80 pela Toey Company. No Brasil, o Jiban foi trazido pela falecida distribuidora Top Tape e, assim como Jaspion, Changeman e demais congêneres que adoravam lutar em um cenário que era uma pedreira, foi exibido pela finada (e saudosa) Rede Manchete.
Em um total de 52 episódios enfrentando vilões canastrões e monstros horrendos que faziam as mais variadas caretas, Jiban contava com episódios que até possuíam ideias bacanas, mas por ter o intuito de atingir um público-alvo bem específico, apresentava roteiros dotados de uma infantilidade que facilmente ia do constrangedor ao “como é que eu gostava disso aí”?
E já que o Robocop fez sucesso até na terra do sol nascente, em 1990 chegou a hora dos norte-americanos tomarem vergonha na cara e fizerem uma sequência oficial. E assim surgiu o Robocop 2.
Porém Paul Verhoeven estava envolvido com o filme Total Recall e deu lugar a Irvin Kishner, que em 1980 dirigiu Star Wars - O Império Contra-Ataca. Robocop 2, roteirizado por Walon Green e Frank Miller (sim, o cara que já escreveu histórias soberbas do Batman e de Sin City), até que tem boas ideias e mantém o nível de violência, mas o excesso de humor em algumas cenas, que no anterior existia em doses homeopáticas, não agradou a crítica.
Ainda vale lembrar que no Robocop anterior as tramas, e até subtramas, formavam um conjunto equilibrado e coeso, contudo no segundo longa-metragem essa fórmula pareceu não ter funcionado, visto que mostrar um Robocop que literalmente declamava Shakespeare combatendo o narcotráfico enquanto os cientistas tentavam criar outros Robocops deixou o filme um tanto quanto desconjuntado. É importante destacar que o roteiro original de Frank Miller passou por mais de um tratamento devido ao alto grau de violência e anti-bundamolismo.
Três anos depois a Robocopmania já estava mais do que consolidada e o personagem já era o ídolo da garotada. Até desenho animado surgiu nesse período.
Talvez por isso, em 1993, a terceira sequência oficial do policial ciborgue acionou o botão do “foda-se” e por pouco o homem mecânico da lei não se tornou um Jiban ocidental.
Robocop 3 foi dirigido por Fred Dekker que, ao lado do Frank Miller, concebeu o roteiro. Nessa terceira aventura, Peter Weller já não vestiu mais a armadura do policial enlatado e quem assumiu o posto foi o ator Robert John Burke.
O longa-metragem é notoriamente inferior aos dois anteriores e com os efeitos especiais precários, já que a Orion Pictures já estava batendo nas portas da falência, a produção foi massacrada por crítica e público, mas justiça seja feita, o primeiro ato do filme, com os policiais metendo o sarrafo nos moradores desfavorecidos de um bairro pobre lembra o Fuga do Bronx, já o ato final, remete aos exageros do Desejo de Matar 3, aquele protagonizado pelo Charles Bronson. Além disso, os ninja-androides foram uma das boas ideias que salvaram o filme do naufrágio completo e, para quem gosta de caçar curiosidades, o ator e diretor Shane Black faz uma ponta como policial.
Um fator que transformou a terceira sequência em um saco de pancadas é que, em determinados momentos, o longa dava a impressão que tentava fazer a transição do personagem do cinema para a TV, algo que foi comprovado já no ano seguinte, quando surgiu a série de TV Robocop.
Tivesse sido feita hoje, por uma HBO, por exemplo, talvez a série fosse algo relevante, mas naquela época, 1994, o adjetivo ruim soava até como um elogio. A série contou com 21 episódios, sendo que alguns no Brasil foram lançados em VHS, fazendo muitos afoitos acreditarem que estavam a alugar uma sequência oficial do Robocop 3.
Para se ter uma ideia da bagaça, o Robocop deixa “aflorar o seu lado humano” e se enamora pela secretária do vilão. Em um determinado momento a moça morre, mas o seu espírito é transferido para um sistema operacional.
Há de se levar em conta também uma outra série de TV do Robocop, dessa vez com menos episódios chamada Prime Directives e lançada em 2001. Nessa série, o filho de Alex Murphy é um dos executivos da OCP.
Para um personagem icônico no panteão da cultura pop, que se tornou paródia da MAD, se tornou música avacalhada de uma banda de humor, também foi “homenageado” em uma antiga HQ brasileira dos Trapalhões, mas que por outro lado, enfrentou o Terminator em uma HQ escrita por Frank Miller, o policial do futuro chegou no futuro (século XXI) longe dos holofotes. Porém, para mostrar que tal personagem é atual, nada melhor do que, na onda dos remakes, fazerem uma refilmagem dele. Mas isso é assunto para a outra postagem.
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