São
alguns filmes pelo preço de um, esse novo trabalho dos irmãos Coen.
O
primeiro desses filmes, que na verdade á apenas o primeiro ato do
longa-metragem Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum”, é o
mais atípico, em se tratando da obra dos cineastas.
Com um som de primeiríssima o filme começa em uma apresentação do protagonista e personagem-título (interpretado pelo Oscar Isaac).
Enquanto canta e toca no violão um folk inspirado, ele aproveita a atmosfera receptiva à sua música no Gaslight Cafe, em 1961.
Ele
canta uma música inteira, toda ela registrada no filme,e esse uso
das músicas vai se repetir no decorrer do longa-metragem.
Geralmente
as canções são tocadas na íntegra, sem que a edição logo as
utilize de background.
Nisso,
“Inside Llewyn Davis” lembra bastante “Alabama Monroe”.
O
protagonista, nesse primeiro momento (após a apresentação) já se
revela quem ele é mesmo.
Um
perdedor.
De
acordo com as palavras de uma ex-namorada (interpretada pela Carey
Mulligan, de O Grande Gatsby) ele é que nem o irmão idiota do
Midas, que destroi tudo em que encosta.
É
meio por aí mesmo.
Reunindo
trocados de uma apresentação a outra, sem conseguir vender discos
de sua dupla já inexistente, com problemas pendentes com família,
ex-namoradas, sem ter onde morar, e tendo que tomar conta do felino
de um professor seu amigo.
A
apresentação da vida de cagadas de Llewyn acontece juntamente com o
passar de idas e vindas nessa peregrinação diária dele em busca de
algum troco, um sofá pra dormir, e solução pra uns problemas que
sempre incluem ele sendo xingado pelas pessoas.
Além
da Jean (a ex-namorada que eu mencionei acima), outro que tem
participação importante nesse primeiro ato é Jim, que interpretado
pelo Justin Timberlake só é importante por estragar cada cena em
que atua.
O tom
de humor típico dos Coen ganha uma adição desnecessária quando a
atuação caricata do personagem do Timberlake surge pra destoar em
cada momento em que ganha espaço.
Ele
meio que também demarca o clima desse começo, com ares de drama de
redenção, ainda que seja divertido e leve de assistir, com as
músicas em primeiro plano.
Funciona
enquanto etapa de construção.
Mas
isso tende a mudar, primeiro com a ausência do personagem do
Timberlake, e a seguir com o início de um mini-road movie que conta
com os personagens Johhny Five (Garrett Hedlund, em uma atuação de
quase nenhuma fala), e o grande ponto de transição do filme, o ator
John Goodman .
Quando
vi ele em cena foi impossível não lembrar do clássico filme dos
Coen, “Barton Fink”, e automaticamente “Inside Llewyn Davis”
melhorou consideravelmente.
Isso
porque além de ser um baita ator, Goodman foi presenteado novamente
com um cara atípico, com sutilezas e detalhes que o tornam ao mesmo
tempo engraçado e sombrio.
E com
isso, toda a atmosfera do longa-metragem muda, com inclusive a
direção de fotografia e trilha sonora acompanhando a gradual
transformação de uma comédia dramática no meio musical, em um
potencial suspense humor negro.
É com
isso que os Coen regressam ao seu terreno de domínio, e o filme
ganha imprevisibilidade.
Enquanto
isso, a figura do Llewyn Davis vai sendo desenvolvida da maneira que
se espera da dupla de cineastas.
Nessa
realidade cada vez mais lúgubre ele próprio vai se desfazendo das
suas certezas, ao mesmo tempo em que abandona pessoas (e felinos)
pelo caminho.
Algo
que parece parte da personalidade mesmo, e traz consigo o peso das
respostas que ele nem procura, mas vai encontrando à medida que
esbarra nas figuras diferentes que orbitam a Nova York sessentista
que veria em breve a ascensão de grandes nomes do folk, tal qual a
participação especial de Bob Dylan.
A
demonstração da profundidade que o filme alcança tem poucos
exemplos melhores do que o encontro com o pai do protagonista, que só pra variar, conta com mais uma performance de boa música no violão, pelo próprio ator protagonista.
A
composição desse retrato da miserável vida do personagem principal
então se faz um todo que vai além da música enquanto muleta, ou do
humor dos diálogos no mal-entendido entre seu empresário e sua
secretária, ou mesmo na busca pelo sucesso que o passado negou e
renderia uma história de sonho e superação feita pra abocanhar
simpatia dos jurados do Oscar e claro, uma considerável quantidade
de estatuetas por aí.
A vida
de fracassos e nenhuma perspectiva reflete na música bem tocada, que
nasce da vida de fracassos, e tal qual o que acontece no final do
roteiro, completa um ciclo, em que a redenção e o êxito parecem
sempre ficar pro dia seguinte, ou no caminho de outra pessoa.
Quanto
vale:
Inside Llewyn Davis. Recomendado para: compreender porque uma vida fracassada pode inspirar boa música.
Inside
Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum
(Inside
Llewyn Davis)
Direção:
Ethan Coen, e Joel Coen
Duração:
105 minutos
Ano de
produção: 2013
Gênero:
DramaConfere NESSE LINK a Crítica de outros indicados ao Oscar.
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