Quarteto Fantástico (2015)



Um dos maiores exemplos de anti-hype foi presenciado pela comunidade geek (terminologia existente?) em 2015.
Enquanto alguns filmes desfrutaram de merecido hype pró após marketing esperto (leia-se por exemplo: "O Despertar da Força"), o novo "Quarteto Fantástico" foi um legítimo natimorto nos cinemas mundiais, sendo assistido por fãs hardcore e familiares dos envolvidos na produção.
O faturamento, passível de comparação com um salário mínimo, além dos polêmicos e de auto-flagelo acidental redigidos pelo diretor Josh Trank, fizeram com que a História marcasse esse novo lançamento a ponto de o trabalho do Roger Corman ser ao menos esquecido da lista de piores do cinema de HQs.
E enquanto o filme rolava no cinema, o bastante criticado Tim Story, dos longa-metragens de 2005 e 2007 tinha também motivos pra ficar mais sossegado, porque os geeks já não estavam mirando no seu pescoço.



Queira ou não, as versões anteriores tinham sim suas desculpas pra não ser grande coisa, e até algum álibi pra contrabalançar fracasso de qualidade.
Corman, apesar de todo defeito apresentado na produção de 1994, ainda é mais um da lista de cineastas que arriscaram no ainda menos que embrionário subgênero cinematográfico, e tal qual tantos outros, não fazia ideia dessas regras formulaicas que regem as produções nascidas nas HQs. Naqueles tempos o erro era uma constante.
E Tim Story, ainda tem bons resultados nas bilheterias pesando a seu favor, além de ter explorado razoavelmente o aspecto familiar dos exploradores espaciais da Marvel Comics.
Tá certo que são difíceis de assistir, mas aqui eu tô tentando ser imparcial na avaliação.
Do mesmo modo, foi assim que assisti o "Quarteto Fantástico" com mais expectativa positiva do que a maioria, pelo visto. Isso porque eu curti o trabalho do diretor Josh Trank no "Poder Sem Limites", e tenho elogios à consistência do elenco escalado pelo que apresentaram em trabalhos anteriores.
A saber: Miles Teller do excelente "Whiplash", Kate Mara e Reg E. Cathey da memorável série "House of Cards", Michael B. Jordan de "Creed", "Fruitvale Station" e do já mencionado "Poder Sem Limites", Jamie Bell que é sempre lembrado pelo papel-título em "Billy Elliot", mas que de lá pra cá já trabalhou com Peter Jackson e Steven Spielberg, e Toby Kebbell, que estrelou um dos episódios mais marcantes da extremamente marcante série "Black Mirror" e contribuiu muito pro resultado positivo em "Planeta dos Macacos: O Confronto".
Na trama sisuda e sem alívios cômicos, o gênio desde sempre Reed Richards (Teller) e seu amigo de longa data Ben Grimm (Jamie Bell) caem no radar de Franklin Storm (Reg E. Cathey) e sua filha Sue (Kate Mara). A partir daí, eles passam a trabalhar em um projeto de viagem interdimensional que ainda vai envolver o irmão adotivo de Sue, Johnny (B. Jordan) e o de índole questionável Victor Von Doom (Toby Kebbell).
Essa etapa do filme, se apresenta vários momentos em excessivo desacerto com o clima das HQs e construção dos personagens, ainda é uma ficção científica bem aceitável se desconsiderarmos que se trata de um filme de heróis. Algo que numa dessa era melhor não desconsiderar, mas que o próprio diretor parece estar disposto em camuflar.




"Quarteto Fantástico" não é, afinal, um longa-metragem sobre super-seres, e fica rodando no projeto científico pra tentar encontrar o tom familiar que a produção precisa, tendo em vista quem o protagoniza. Isso não funciona, já adianto, e é o primeiro dos grandes erros apresentados.
A pretensão da trama parece esmagar seus personagens a ponto de se tornarem quase irreconhecíveis, e não digo isso em comparação com as HQs, mas sim enquanto personagens recém apresentados ao público, e que a plateia chega no fim da metragem sem nem conhecer direito quem são, seus nomes, ou características básicas.
O enredo brutalmente sério só ajuda a destacar isso e os problemas narrativos que se acentuam da metade pro final, com uma guinada na forma de narrar os fatos que faz dele um pastichento filme com jeito daqueles que emulam HQs, sendo originados direto no cinema. Um desses filmes cheios de efeitos especiais, e de roteiro acelerado, que só existem pra embarcar na onda do cinema de quadrinhos.
É praticamente impossível ver nesses recortes colados um mesmo filme, e todo potencial de epopeia cósmica escorre na vala sem cerimônia.
E nisso tudo que eu digo, desconsidero o que EU acharia mais adequado em se tratando da família de heróis clássica da Marvel. Não é o que eu curtiria que implica em rejeição, até porque sei que nos próprios quadrinhos o que se conhece dos personagens só é regra em contagem regressiva até o próximo reboot.
E apesar dos planos (agora mais fundo na gaveta) de um crossover com a bem-sucedida franquia X-Men, "Quarteto Fantástico" representar uma parcela do que de pior e mais desacertado foi produzido no cinema de HQs só mostra que antes de sonhar em embarcar no sucesso alheio, era necessário tomar umas aulas da dinâmica equilibrada que Bryan Singer e Matthew Vaughn puseram em prática em filmes de origem dos mutantes, pra que tantos personagens em cena terminassem filme após filme reconhecíveis, com função valiosa pra trama e sem que pra isso fosse sacrificado um enredo de questionamentos maiores.



Josh Trank e os produtores ao desconsiderar tudo isso, além de não atentar o mínimo pro público o qual seria responsável pelo sucesso ou fracasso do filme nas bilheterias acertaram tiros nos pés muito antes do lançamento.
O quarteto de heróis outra vez estrela uma bagunçada trama nos cinemas, em que dessa vez nem eles são lembrados por característica nenhuma, e em que seu vilão é só mais um fator destoante na história, que nessa truncada versão exageradamente metida a séria, tenta trazer contornos de um terror bem mequetrefe quando a ameaça dele se manifesta.
Independente de fidelidade às HQs, de questionar os uniformes, adequação do elenco aos papéis, efeitos especiais, "Quarteto Fantástico" permanece o que é por seus próprios deméritos enquanto cinema.
É só um filme ruim com orçamento alto.
Mais um dentre tantos.


Quanto vale:



Quarteto Fantástico. Recomendado para: Passar longe e fingir que nunca aconteceu.

Quarteto Fantástico
(Fantastic Four)
Direção: Josh Trank
Duração: 100 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Aventura/Ficção Científica

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