Continuando com a nossa série de perfis de grandes nomes das Histórias em Quadrinhos, o escolhido dessa vez é Neil Gaiman, considerado por muitos um dos três melhores roteiristas de HQs do mundo. Talvez um de seus maiores feitos é a facilidade de compreensão dos seus roteiros, algo admirável para quem procura carregar tantas referências e camadas de detalhes em cada obra que participa. Isso o torna um dos melhores nomes para iniciantes nas HQs, pois não é preciso quebrar a cabeça para desfrutar de seu trabalho.
Agora, se você realmente prestar atenção em toda a complexidade (muito bem) escondida dentro do roteiro bem contado, encontrará o motivo para tantos elogios.
Neil Richard Gaiman nasceu em 1960, na pequena cidade de Portchester, na Inglaterra. Desde a sua infância era apaixonado pela leitura, principalmente pelo gênero da fantasia, do qual hoje ele é um dos principais autores. Entre os livros que ele destaca como cruciais em sua vida estão O Senhor dos Anéis, Alice no País das Maravilhas e, principalmente, As Crônicas de Nárnia, obra que ganhou quando tinha sete anos e que cita como um dos grandes motivos que o levaram a se tornar um escritor.
Quando tinha 15 anos, Gaiman conta que escreveu uma lista com tudo que queria fazer na vida. Alguns dos itens eram: escrever um romance para adultos, um livro infantil, uma revista em quadrinhos, um filme, gravar um audiobook e escrever um episódio de Dr. Who. "Eu não tive uma carreira. Eu simplesmente fui fazendo a próxima coisa da lista.".
No começo da década de 80, Gaiman entrou para o jornalismo, realizando entrevistas e resenhas de livros e Histórias em Quadrinhos. De acordo com ele, "Eu queria escrever quadrinhos e romances e histórias e filmes, então me tornei um jornalista, porque jornalistas têm permissão para fazer perguntas, e para simplesmente ir adiante e descobrir como o mundo funciona, e, além disso, para fazer essas coisas eu precisaria escrever e escrever bem (...)"
Após suas primeiras publicações literárias, Gaiman se tornou amigo do ainda desconhecido Alan Moore. De acordo com Gaiman, foi ao ler uma das histórias de Moore no Monstro do Pântano que seu interesse pelas HQs retornou. "Parei de ler gibis aos dezesseis. Desisti porque achava que era coisa de criança remelenta. Não comprei nada (fora a revista do Spirit) durante sete anos. Aí li o Monstro do Pântano de Alan Moore e fiquei fisgado, viciado, encantado, me juntando novamente ao público leitor".
Gaiman assumiu o lugar de Moore após sua passagem pelo Miracleman, escrevendo algumas edições antes da série ser cancelada (recentemente a Marvel Comics comprou os direitos do personagem e anunciou que Gaiman ira terminar sua passagem ainda em 2014). Após o cancelamento do título, desenvolveu uma graphic novels com seu parceiro de longa data Dave McKean: Casos Violentos (Violent Cases). Impressinada com seu trabalho, a DC Comics o contrata em 1987 para escrever uma minissérie de uma personagem obscura da editora, a heroína Orquídea Negra.
Na DC Comics o autor desenvolve o maior trabalho em HQs da sua carreira, a multipremiada e aclamada por crítica e público Sandman, uma minissérie em 75 edições, publicada de Janeiro de 1989 a março de 1996. Escrevendo uma das primeiras Hqs adultas mainstream, Gaiman constrói um universo próprio para contar a história de Morpheus (ou Sonho, ou Sandman, entre infinitos outros...), o responsável pelo reino dos Sonhos.
É difícil explicar o motivo do sucesso alcançado por Sandman em algumas linhas ou parágrafos. Além de toda a mitologia, das incontáveis referências a deuses antigos, literatura, super-heróis, filmes de terror, história da humanidade - em uma época pré internet, onde me dá preguiça só de pensar no volume de pesquisas feitas por Gaiman - o autor demonstra ter um domínio gigantesco do enredo e da forma de contá-lo. Inúmeros personagens aparecem em edições muito posteriores, e fatos jogados em determinado número mostram sua importância dezenas de edições depois.
Sandman é considerado por muitos fãs e críticos como uma das melhores obras das Histórias em Quadrinhos já publicadas, elevando assim Gaiman como um dos melhores autores vivos do gênero. Entre os inúmeros prêmios que a série ganhou, se destacam 26 Eisner Awards e um World Fantasy Award pela edição 19 (sobre Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare), sendo a única História em Quadrinhos até hoje que conseguiu este prêmio literário.
Após o fim de Sandman, Gaiman se dedicou mais à sua carreira literária, realizando ocasionais trabalhos com a DC Comics (O Que Aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?) e com a Marvel Comics (Marvel 1602 e Eternos). Entre suas principais publicações, adquiriu um sucesso considerável com seu livro de 2001 Deuses Americanos, e mais recentemente lançou outro sucesso de público e crítica, O Oceano no Fim do Caminho. Seus trabalhos não se resumem apenas a estes, pelo contrário. Há em seu nome inúmeros contos, roteiros, coautoria de HQs, entre outros. E, para o bem da arte, que não pare tão cedo de produzir.
Em 17 de maio de 2012, Gaiman recebeu o título de Doutor Honorário em Belas Artes na Universidade das Artes da Filadélfia, nos Estados Unidos. Para esta ocasião, escreveu e realizou um discurso belíssimo sobre sua experiência em viver de arte. Discurso esse, inclusive, que virou livro mais tarde.
(não esqueça de ativar a legenda)
"E agora vão, e cometam erros interessantes, cometam erros maravilhosos, façam erros gloriosos e fantásticos. Quebrem regras. Façam do mundo um lugar mais interessante por vocês estarem aqui. Façam boa arte."
Para os interessados, há inúmeros livros e Hqs de Neil Gaiman nas livrarias e lojas online. Meu destaque fica para a edição de luxo de Sandman, que vem sendo publicada pela Panini e se encontra no quarto volume. Não são encadernados baratos, mas para quem está disposto a iniciar uma coleção do gênero, é uma obra fundamental.
Aproveite e confira nossas matérias sobre o autor:
Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Neil_Gaiman
http://homoliteratus.com/especial-neil-gaiman-vida-obra-e-fotos-com-cachorros/
http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/06/15/neil-gaiman-homo-fabulator/
(a falas do autor no texto foram retiradas do seu discurso publicado e dos prefácios de Dias de Meia Noite)
No próximo perfil da série: as pinturas de Alex Ross!
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