Enquanto
franquia, "O
Planeta dos Macacos"
conseguiu, ainda que não mantendo-se em constante exposição, uma
trajetória longeva e no geral muito respeitada.
E
isso é bastante coisa.
Principalmente
depois de dois recomeços nos cinemas, sendo um deles um fedor sem
fim dirigido pelo Tim
Burton,
e outro, dirigido pelo Rupert
Wyatt,
parte integrante dessa nossa era de efeitos especiais e clichês
alicerçados na desculpa de que seriam "arquétipos", e
isso justifica tudo, parece.
Mas
o filme do Rupert
Wyatt
driblou o modismo com inteligência, presenteando o público na mesma
temporada que rendeu outro blockbuster rebootando franquia de
sucesso, que atendeu pelo nome "X-Men:Primeira Classe".
As
semelhanças entre ambos foram muito nos significados, mas também
pela decisão de investimento em roteiros inteligentes e inventivos,
optando por bons desenvolvimentos de personagens, sem deixar que as
boas sequências de ação fossem o foco, ainda que elas com certeza
tenham conseguido seu destaque.
Assim
sendo, coincidentemente em 2014, quando a sequência de "Primeira
Classe"
veio aos cinemas com o competente "Diasde um Futuro Esquecido",
os comandados de
Cesar regressaram
em "Planeta
dos Macacos: O Confronto".
As
sequências iniciais cumprem papéis bem claros e específicos. Uma
rememora os fatos do filme anterior, e a outra apresenta com carisma
o símio Cesar e seus pares, em uma demonstração de pra que servem
efeitos especiais. Se não fosse por razões óbvias, seria muito
fácil a plateia passar o filme inteiro torcendo pra que os soldados
de Cesar
saíssem vitoriosos esmagando seus adversários, pois o roteiro os
apresenta tão dignos de apreço quanto vários grandes heróis do
cinema já o foram anteriormente.
A
primeira grande mudança no novo filme é a troca de diretor, que
apesar de muitos considerarem que não define os rumos de um filme,
na certa influencia se o cineasta responsável era alguém capaz de
um primeiro capítulo tão contundente em uma Hollywood cada vez
menos relevante.
O
novo "Planeta
dos Macacos"
é fundamentalmente diferente do seu predecessor no tom da trama.
Enquanto
o primeiro, um filme de origem, soube apresentar sem frescura, mas ao
mesmo tempo sem abrir mão do drama necessário, o seu personagem
mais importante e icônico, dessa vez Cesar,
o líder símio não requer mais quaisquer apresentações.
Novamente
na atuação poderosa do
Andy Serkis,
sob toneladas de CG ele impera no filme, e a cada palavra proferida
por ele o filme ganha uma aura eletrizante, de que ele é ou um dos
mais impressionantes protagonistas do sci-fi atual, ou um dos piores
vilões que a humanidade poderia enfrentar.
Mas
enquanto parte dessa construção de um provável nêmesis para os
humanos, o diretor Matt Reeves conta com um filme
inteiro de desenvolvimento de novas camadas da personalidade dele.
Cesar
não será um vilão que tomou a decisão repentinamente de entrentar
os outrora animais dominantes. É uma trajetória gradual de mudança
e aprendizado do porquê a situação deve realmente degringolar.
No
lado dos humanos a coisa encontra-se axiomaticamente feia.
O
vírus do filme anterior fez miséria, e os poucos sobreviventes da
epidemia agora vivem em um cenário de pós-apocalipse, sem saber da
existência da comunidade de primatas mais espertos do que se
esperava.
Mas
qualquer um sabe que, isso vai mudar, e gerar estranhamento,
tentativa de paz, e claro, conflito.
O
elenco de sobreviventes homo sapiens conta com Jason Clarke,
Gary Goldman, Keri Russell, Kodi Smit-McPhee e Kirk Acevedo, sem acrescentar grandes
novidades, e sem rivalizar com o carisma dos liderados de
Cesar.
Interessante
constatar que "Planeta
dos Macacos: O Confronto"
se apresenta com jeito de que será mais uma réplica de sinopse que
já vimos, aos moldes do que "Avatar"
é, mas então, o seu roteiro inverte as coisas, e desvia
ligeiramente (mas o suficiente) pra que as comparações se façam
questionáveis.
E
enquanto o filme de Rupert
Wyatt tratava
substancialmente de liberdade, este segundo longa-metragem fala muito
sobre sobre preconceito (um tema bastante recorrente nas produções
atuais), e sobre a desnecessária característica humana (e símia,
por que não?) de ver diferenças devido à aparência.
Não
chega a impactar tal qual o "Planetados Macacos: A Origem"
mas diz o que tem a dizer com capacidade de não ser discurso
manjado.
Com
isso de pano de fundo, sobra espaço pra enfrentamentos com inúmeros
soldados em cada lado, e os recursos CG são muito bem empregados,
tanto pra mais uma vez trazer à vida os macacos de realismo
imponderável, quanto pra batalhas grandiosas.
No
elenco interpretando sem mostrar os rostos debaixo do CG, também
estão Karin Konoval, Judy Greer, Nick Thurston, e Toby Kebbell,
sendo que este último já havia garantido seu espaço na memória em
"Planeta
dos Macacos: A Origem",
e
agora ganha papel fundamental.
Porém, apesar da grandiosidade da produção, o ponto em que o segundo filme se faz menor que o primeiro é nas artimanhas do roteiro do segundo longa-metragem, existentes pra vencer as dificuldades de uma história tão envolta em detalhes.Isso fica perceptível com o passar do tempo, e de maneira sutil. Afinal, não há grande imprevisibilidade em boa parte do filme, ainda que nas cenas bem atuadas pelo Andy Serkis isso se faça menos importante. O problema é quando isso recai sobre o menos expressivo elenco interpretando humanos, que não colabora pra que alguém se importe com o que lhes acontece. Não chega ao ponto de ser pessimamente atuado, mas com certeza perdem na comparação, mesmo se considerarmos que na maior parte do tempo os macacos falam por sinais, o que torna o filme bem menos falado que o anterior.
Además,
coincidências pesam negativamente quando se percebe que foram
muletas pra facilitar e evitar soluções mais complicadas requeridas
do roteirista.
Apesar
dos pesares, tal qual "X-Men:
Dias de um Futuro Esquecido",
ou "StarTrek: Além da Escuridão",
"Planeta
dos Macacos: O Confronto"
é muito mais acerto do que equívoco. Um blockbuster com intentos
maiores do que muitos que visam se garantir no próximo filme com a
inclusão de algum vilão justificando pirotecnia (leia-se: Amazing Spider-Man 2).
Na
preparação pra um futuro muito aguardado pra franquia, o filme de
2014 fez sua parte, com inteligência novamente, e alguns macetes.
O
resultado comprova que isso é algo justificável, e que desde os
tempos do Taylor esta saga é um bom motivo pra curtir um cinema.
Planeta
dos Macacos: O Confronto. Recomendado
para: perceber que às vezes o protagonista está do lado que vai
derrotar os humanos.
Planeta
dos Macacos: O Confronto
(Dawn
of The Planet of the Apes)
Direção:
Matt Reeves
Duração:
130 minutos
Ano
de produção: 2014
Gênero:
Ação/Ficção Científica
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