Quando
o personagem principal de "Birdman"
menciona que a peça na qual ele está trabalhando está de algum
modo se tornando uma versão zoada e bizarrona da vida dele, o filme
que já era uma esperta revisita da nossa realidade, apenas está
aproveitando mais uma oportunidade pra se afirmar um olhar
interessante disso tudo que chamamos de cultura pop.
Alguns
poderiam chamá-lo de paródia, mas isso parece um tanto inadequado em se tratando de um filme que mira sem receio todo mundo: desde críticos, até atores, e
inclusive o público, ou a forma que o mercado de entretenimento se
posiciona pra extrair o máximo de cada nova tendência, na maior
parte das vezes se fingindo ser arte se isso tiver um público-alvo
disposto a pagar bem por isso e esgotar bilheterias.
Mas
não me entendam mal.
Eu
também consumo cinema blockbuster, do mesmo modo que produções tão
canhestras e fuleiras que requerem outro patamar abaixo do homemade,
além de filmes repletos de diálogos hediondamente arquitetados pra
levar à fervura cerebral.
Ou
seja: "Birdman,
ou a Inesperada Virtude da Ignorância"
também direciona sua metralhadora de acidez crítica pra mim, do
mesmo modo que todos nós que de alguma forma fazemos parte do
processo de formação do atual momento do cinema e da cultura pop,
nem que seja ao escolher determinado filme pra baixar em detrimento
de outro.
E
isso é algo massa.
Principalmente
porque o diretor Alejandro
González Iñárritu
não está ali somente pra destilar opiniões venenosas a respeito dos rumos
da indústria.
"Birdman"
ainda é acima de qualquer coisa um filme. Uma obra com méritos
próprios enquanto cinema e que emprega os recursos disponíveis pra
contar uma história, e nessa história alguns temas abordados vão
envolver realmente os arrasa-quarteirões do momento, o modo peculiar
de construção de notícias a partir de boatos por parte dos
jornalistas da área, e a maneira como o sucesso representa mais do
que um objetivo em si.
Por
isso que seu longa-metragem não fica tão confortável nos rótulos fáceis, porque
na verdade, "Birdman"
não é um filme tão fácil quanto se pensa.
Easter
eggs invadem as cenas e roubam a atenção em vários momentos, ainda
que as menções aOs Vingadores
e seus atores estejam longe de marcar tanto quanto a similaridade do
filme com a vida do próprio ator Michael
Keaton,
intérprete do ainda lembrado "Batman"
de
Tim Burton
em 1989 e 1992, e por isso os nomes de atores reais nomeados no
roteiro são detalhes que passam rápido. Fica mesmo a sensação de
que essa trama está em alguma categoria entre o realismo e a ficção.
Algo
muito valioso pro filme, que a partir do momento em que começa
prossegue com sua câmera ininterruptamente acompanhando um elenco no
qual se deposita grande parte das fichas do diretor.
O
próprio Michael
Keaton
respira a angústia do Riggan Thomson que interpreta, procurando já na
base do desespero um último punhado de aplausos e reconhecimento pra
não ter que aguentar quieto o êxito de atores em evidência e com
mais poder de atrair compradores de ingressos do que ele, e a opinião geral de que ele é apenas "aquele cara daquela franquia de heróis antigona".
Na
sombra dele há o Birdman,
seu sucesso de outrora, e que é seu cúmplice em vários dos
momentos deste filme em plano-sequência (com o auxílio de umas artimanhas), que ainda permite a
Keaton
protagonizar alguns bons momentos com participação de
Emma Stone, Naomi Watts, Andrea Riseborough, Zack Galifianakis, e
principalmente o rouba-cenas Edward
Norton.
Norton,
no papel do ator de métodos não-ortodoxos Mike
Shiner é
uma excelente adição à história representando uma outra cara
desse mundo forrado de gente com fome de visibilidade e capa de
jornal.
Shiner,
no entanto, vive sua busca de forma completamente diferente do
Riggan, o que alimenta uma rivalidade que necessita de
cumplicidade, afinal, o sucesso da peça na qual eles trabalham ainda
depende do trabalho um do outro.
Alguns
efeitos especiais muito esporádicos não mudam os propósitos do filme,
ainda que sejam parte de uma mudança de clima que envolve a série
de cagadas que rodeiam o protagonista e seu trabalho de redenção da
carreira.
No
andar da carruagem, o longa-metragem acaba passando por vários
pontos em que o drama fica tão caótico a ponto de suas
consequências virais acabarem mostrando que os interesses do público
certamente estão bem afastados da qualidade da obra, na maioria das
vezes em que torna algo motivo de hype.
O
que o roteiro, no entanto, não consegue evitar, é uma sensação de
vazio em uns quantos diálogos, e o filme com certeza depende e muito
deles.
Dessa forma o clima claustrofóbico incrementado pela forma
de filmagem, acaba sendo apunhalado por várias falas e algumas
sequências que infelizmente não corroboram a ousadia pretendida. Em
certos pontos é apenas clichê, quando as piadas físicas fáceis
são a escolha pra representar excentricidade, ou quando o drama de
personagens secundários é mostrado de maneira superficial e sem
relevância pro rumo do enredo.
É
nessas horas que "Birdman"
se assemelha com aquilo que aparenta acusar nessa indústria
de entretenimento milionário, e elementos que nem a própria escolha
pelo plano-sequência ficam mais próximas de uma mera roupagem cult,
servindo mais pra desviar a atenção de juri de premiação, do que
algo que o roteiro necessita ao longo de todos os seus 119 minutos.
Com isso a trama vai ficando mais arrastada e o longa-metragem forçosamente estiloso apenas como forma de declaração de capacidade.
Com isso a trama vai ficando mais arrastada e o longa-metragem forçosamente estiloso apenas como forma de declaração de capacidade.
Enquanto
não se confirma todo o tratado artístico aparente, o filme de
Iñarritu
não deixa de ser eficaz em várias ocasiões nas quais o efeito é
maior do que a embalagem pretensiosa.
"Birdman",
com seu protagonista durante quase todo o longa-metragem entre
realidade e devaneios continua mantendo o viés intimista e quase
opressor do mundo de possibilidades pouco otimistas, e derrocada
quase certa, enquanto transita em um momento da cultura pop no qual
andar sem roupa na rua pode ser marketing melhor que opinião da
crítica.
Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância).
Recomendado para: avaliar se Iñarritu está acertando mesmo ou é só hype similar ao demonstrado no filme.
Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância)
(Birdman,
or the Unexpected Virtue of Ignorance)
Direção:
Alejandro González Iñárritu
Duração:
119 minutos
Ano
de produção: 2014
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1 comentários:
Write comentáriosObrigada por compartilhar essa dica. Eu ainda não vi esse filme mas acho que é bom porque tem um elenco muito bom. Um dos meus atores favoritos é Michael Keaton. É um bom ator que geralmente triunfa nos seus filmes. Recém o vi em The Founder filme. Se alguém ainda não viu, eu recomendo amplamente, vocês vão gostar com certeza. É um dos melhores filmes de drama , tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. De verdade, acho que esse ator é um dos melhores de Hollywood. Sempre achei o seu trabalho excepcional.
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