Houve uma vez em que, no
arrastão dos boatos listando possíveis nomes pra uma das sequências
da franquia "Os Mercenários", Clint Eastwood
foi mencionado, e o cara, indo na onda respondeu que atuar o pessoal
poderia esperar sentado, mas quem sabe ele dirigisse um desses filmes
um dia.
Isso gerou comentários
enlouquecidos e no imaginário de muitos criava forma o "como é
que seria um Mercenários dirigido pelo Eastwood?".
Isso não aconteceu,
claro, mas sendo pra ver filme de soldado truculento que derruba um
monte de inimigos, com cara de que não é filme de soldado
truculento que derruba um monte de inimigos, "American
Sniper" meio que pode responder alguns questionamentos.
O primeiro ato do filme
traz consigo uma base pro personagem do Bradley Cooper, nesse
que é mais um filme biográfico dirigido pelo Clint Eastwood e
lançado em 2014.
Mas se "Jersey
Boys" acabou relegado a número na filmografia pelos
jurados, "Sniper Americano" vem com o peso da
influência da escolha dos caras.
E essa tal base do Chris
Kyle que protagoniza o filme passa a ser vista com bem mais
camadas do que talvez tenha sido pensada.
Então, os dizeres do pai
do cara ainda criança, ao lado do irmão, sobre "ser uma
ovelha, um lobo, ou um cão pastor" acabam sendo encarados na
condição de algo mais.
Talvez não sejam, mas
esse efeito de buscar o filme cult nele passa a ser regra pra uma
parcela grande de público.
Além do que, é um filme
do Clint Eastwood, que não costuma firular muito seus
trabalhos, e tem entregado filmes capazes de dizer muito sem precisar
das tais firulas.
O treinamento do
protagonista e o que o motiva a passar por ele começam a indicar umas
pistas bem evidentes, que transitam pelo fato de o treinamento
ser rigoroso mas não tirar as piadas ligeiras diante dos novatos
frente aos seus instrutores, e no intento de Chris Kyle
resumido a fazer a diferença e ajudar o país, e que são alguns dos maiores clichês perpetrados nessas décadas todas de Hollywood.
Poderia até haver algo
além disso, mas o roteiro resguarda pra si, e logo começam as
missões através das quais o cara que inspirou o filme passou a ser chamado de lenda na
história militar norte-americana, com mais de 160 mortes
confirmadas.
Quanto aos tiroteios e
combates ferrenhos, tudo ok.
São divertidos até
certo ponto, e com certeza produzidos com a excelência de sempre.
Nessas horas o filme parece encontrar o que é o seu chão, por assim
dizer.
O que é uma pena, porque a dedicação toda e o tempo de metragem destinados a essa etapa é o que há de menos útil pra trama. Algo que se fosse reduzido permitiria o tipo de desenvolvimento que as cenas de volta aos EUA ousavam iniciar.
Os minutos que mostram o retorno dele pra casa são a parcela de longa-metragem que o diferenciaria, pois nas poucas falas trocadas com a esposa interpretada pela Siena Miller se percebe o impacto que o confrontamento reincidente no Iraque provoca nele, e que o filme deixa em segundo plano, apenas sugerindo em algum reles momento no qual Kyle dialoga com algum outro soldado ou ex-combatente.
"American Sniper"
prefere a caçada nas ruas quando ele volta pra guerra, indo de casa
em casa e interrogando os moradores em busca dos vilões que o
roteiro do Jason Hall, adaptando a biografia escrita pelo Chris Kyle, juntamente com Scott McEwen e Jim DeFelice, curte apresentar com caricatura e aparatos que colaboram pra
tudo ficar mais afetado.
Seja o açougueiro da
furadeira, ou o sniper rival, que em uma cena de preparação ao
estilo Rambo é um épico das auto-paródias.
Mais do que um trauma, o que o personagem de Bradley Cooper viveu na guerra é mostrado enquanto parte da vitimização dele, que sofre após as longas missões com o peso de seus atos, mas jamais vê dilema qualquer sobre o conflito no qual tomou parte. Isso é curioso pois nas palavras de personagens secundários existe o que falta nele, e que na abordagem do filme os faz parecer com as ovelhas que o pai de Kyle categorizou.
Volta e meia algum diálogo de exceção nos lembra que esse não é um filme que poderia ser protagonizado por alguém do elenco d"Os Mercenários" umas décadas atrás, mas isso logo some em um turbilhão de projeteis atingindo prédios e alvos móveis em profusão.
Volta e meia algum diálogo de exceção nos lembra que esse não é um filme que poderia ser protagonizado por alguém do elenco d"Os Mercenários" umas décadas atrás, mas isso logo some em um turbilhão de projeteis atingindo prédios e alvos móveis em profusão.
Em meados de fim de filme
a vida cotidiana do Chris Kyle passa a exercer mais influência
no rumo das coisas, e isso melhora um enredo que ia ficando cada vez mais tedioso com aliados
sendo atingidos em ocasiões clichê.
Qualidades essas que não
são nada que ao assistir um filme de ação da competência de "Tropa de Elite 2" ao
espectador não pareçam tão menos competentes quanto os "dublês
de bebês" utilizados nas filmagens.
Numa dessas o objetivo
não fosse criar esse filme pra concorrer ao Oscar. Talvez fosse
apenas um filme de guerra pra desligar o cérebro, e que alguém levou a
sério demais.
Até porque se fosse
vendido dessa forma o saldo final da sessão seria bem menos
decepcionante. Porque "Sniper Americano" é bem
melhor que "O Grande Heroi", por exemplo, ainda que
não sirva pra varrer o chão do "Guerra ao Terror",
também. É diversão das mais medianas, com umas falas que bem de
vez em quando são trabalho de roteirista que vai além da sinopse.
Não diria com certeza
que é o pior filme do Clint Eastwood que eu já vi.
Mas é o pior que eu
consigo lembrar no momento.
Quanto vale:
Sniper
Americano. Recomendado para: depois desse papo de
premiações e tal. Daí, visto como filme de ação, sem lembrar que
é do Clint Eastwood, nem nada, vai ser uma sessão de cinema bem
mais descompromissada e em que seu valor pra diversão quase-acéfala vai
ser acentuado.
Sniper Americano
(American Sniper)
Direção: Clint
Eastwood
Duração: 132 minutos
Ano de produção:
2014
Gênero:
Drama/Guerra/AçãoSign up here with your email
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