Philip K. Dick - O cara que escrevia certos por linhas irreais


Realidades paralelas onde o nazismo venceu a Segunda Guerra Mundial, ou pessoas que um belo dia descobrem que são robôs, ou quem sabe Deus é um computador. Ao contrário do que muitos podem pensar, tais ideias não são argumentos para mais alguma temporada do seriado Fringe. Na verdade, todos esses conceitos supracitados já haviam sido concebidos pela mente do escritor norte-americano Philip K. Dick, muito antes do Neo sonhar em escapar da Matrix.

Philip Kindred Dick, ou simplesmente PKD, ajudou a virar a ficção científica de cabeça para baixo quando, durante as décadas de 50, 60 e 70, decidiu redigir histórias que misturam doses generosas de gnosticismo, cristianismo, alienígenas, distopia, parapsicologia e outras temas viajantes.


Para incrementar ainda mais os seus enredos de ficção científica, os personagens concebidos por Dick não eram guerreiros intergalácticos, mas sim, eram pessoas normais que, de repente, poderiam ter alguma experiência mística, encontrarem dimensões paralelas ou até descobrir que a realidade em que vivemos de real mesmo só tem o nome.

Nascido em dezembro de 1928, K.Dick estudou filosofia, trabalhou em uma loja de discos e até como DJ em uma emissora de rádio. Foi nesse período, no auge das revistas pulp (publicações baratas de mistério, terror e ficção científica), que ele passou a escrever. 


A primeira obra de PKD publicada foi o romance Loteria Solar, lançada em 1955. Nessa época ele produzia um livro atrás do outro e era reconhecido apenas por uns eventuais gatos pingados que se interessavam por ficção, gênero que para alguns “críticos sérios” é considerado lado B.

Porém foi com o livro O Homem do Castelo Alto, lançado em 1962 e já comentado aqui no Satélite, que Philip K. Dick ganhou o prêmio Hugo. Tal premiação pode ser considerada para os escritores de ficção científica o que o Oscar é para os cineastas de Hollywood.


Dick continuou escrevendo cada vez mais, ao mesmo tempo em que consumia cada vez mais anfetaminas. O escritor abriu tanto “as portas da percepção” que chegou a crer que vivia em dimensões paralelas, tanto que em 1974, ele afirma ter entrado em contato com uma entidade metafísica, uma espécie de consciência cósmica. A referida experiência é retratada no romance VALIS, publicado em 1978 e que, mais tarde, teve o argumento resumido em uma HQ produzida pelo famoso quadrinhista Robert Crumb.


Philip K. Dick, apesar do vasto número de contos e romances publicados, ainda era um ilustre desconhecido e a quantia de pessoas que realmente se aprofundava em sua obra não enchia um elevador de serviço. Até que em 1982 o cineasta Ridley Scott foi encarregado de adaptar uma história escrita pelo autor. O romance em questão foi publicado em 1966 e possuía o estapafúrdio título de Androides Sonham Com Carneiros Elétricos?

Scott pegou apenas a premissa básica da narrativa e assim surgiu o “mega-clássico-filme-noir” Blade Runner - O Caçador de Androides. Infelizmente, nesse mesmo ano, mais precisamente no dia 2 de março, Philip K. Dick foi vítima de um AVC e finalmente embarcou “para uma realidade paralela”. Ele faleceu poucos meses antes da estreia oficial do longa-metragem.


Se existe vida após a morte para mim ainda é um mistério, mas como existe reconhecimento após a morte, a partir de Blade Runner, o finado escritor se tornou alvo dos cineastas, quadrinhistas e músicos. Assim, durante os anos seguintes, mais elementos da sua obra inspiraram direta ou indiretamente o que hoje chamamos de cultura pop.

Em termos literários Philip K. Dick até não tinha um estilo de escrita muito rebuscado e isso pode espantar os mais puristas, mas as ideias concebidas por ele deram novos rumos para a ficção científica.
Abaixo, veja os títulos dos romances e contos que (mal ou bem) foram transportados para a tela grande:

- Blade Runner (1982). Direção: Ridley Scott, baseado no livro Androides Sonham Com Carneiros Elétricos?
- O Vingador do Futuro - Total Recall (1990). Direção: Paul Verhoeven, baseado no conto Podemos Recordar para Você, por um Preço Razoável.


OBS: Ano passado foi lançado um remake desse filme, que conseguiu ser tão relevante quanto abrir uma churrascaria no país dos vegetarianos.

- Confissões de um louco (1992). Direção: Jérôme Boivin, baseado no romance Confessions of a crap artist.
- Assassinos Cibernéticos - Screamers (1995). Direção: Christian Duguay, baseado no conto Second Variety.


- O Impostor (2002). Direção: Gary Fleder, baseado no conto Impostor.
- Minority Report: A Nova Lei (2002). Direção: Steven Spielberg, baseado no conto The Minority Report.
- O Pagamento (2003). Direção: Jon Woo, baseado no conto Paycheck.
- O Homem Duplo (2006). Direção: Richard Linklater, baseado na novela A Scanner Darkly.


- O Vidente (2007). Direção: Lee Tamahori, baseado no conto The Golden Man.
- Os Agentes do Destino (2011). Direção: George Nolfi, baseado no conto The Adjustment Team.

Há ainda um documentário sobre o escritor. Ele não é legendado, mas para quem quer se aventurar mais um pouco, ele estaí ó:


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