Não é porque algo
se tornou moda que vai resultar sempre em uma boa idéia.
Lembro bem dos
tempos em que o público do cinema de zumbis resumia-se àqueles que
chafurdavam as locadoras em busca dos títulos mais idiossincráticos
de diretores que torravam os trocados da produção em efeitos
especiais gosmentos, e avessos ao que os críticos do Oscar chamariam
de qualidade.
Era uma época mais
simples, em que pra locar uma obra não era necessário identificar
na capa do VHS (exato. Eles realmente existiram) o nome de um
excelente (ou apenas famoso) astro hollywoodiano, e nem ser
convencido por um trailer de divulgação contemplando trilha sonora
de Hanz Zimmer, acompanhado das palavras “épico”, ou “o
melhor filme de todos os tempos”.
Mas a atualização
é parte do processo, e o cinema sobrevive a essas custas.
Tanto é que, mesmo
em alguns dos meandros mais obscuros do gênero terror houve indícios
de
recuperação.
Seja o Sede de
Sangue de Chan-Wook Park, o Pontypool de
Bruce McDonald, O Hospedeiro, dirigido por Boong-Hong Jo,
ou O Segredo da Cabana, com as idéias de Drew Goddard e
Joss Whedon, alguns caras mostraram que é possível ainda
devolver aquela sensação de algo novo ao terror.
Mas no caso das
histórias de zumbis, particularmente, o caminho era um tanto
diferente.
Depois do seriado
The Walking Dead, qualquer um com TV a cabo ou torrent
funcionando já se diz fã de filmes gore.
Por mim tudo bem.
Cada um pode se dizer o que quiser e eu não tenho nada com isso.
A questão é que,
com isso vem quantidade de produções abordando o tema, e numa
dessas alguém pode ser o algo novo, ou apenas somar à lista dos que
não entram em processo de esquecimento desde que o título aparece
na tela.
Desse modo, creio
que pode se dizer que cada geração tem o cinema de terror que
merece.
Não à toa hoje em
dia é cada vez mais raro encontrar uma obra do gênero que não
resuma o horror de suas cenas a gratuitas cenas de desmembramento.
Nesse sentido,
Guerra Mundial Z, adaptado do livro do Max Brooks,
chega às telas entre exigências opostas que recaem sobre o diretor
Marc Foster.
Ao mesmo tempo em
que o mainstream do cinema de assustar pede sanguinolência, estética
homemade, ou pavor adolescente, o filme de Foster é
nitidamente voltado a um público diferente, em forma assumida de
superprodução, e não podendo soltar a mão na groselha pra não
perder dinheiro em função da censura.
Tudo isso faz do
filme um somatório de vários momentos que parecem querer ser algo
que não estão autorizados a ser.
Claro que nem adianta procurar muito do livro do Max Brooks, porque após as "melhorias" no roteiro e seguidas correções nesse roteiro "melhorado", muito pouco resta pra comparar.
Quando o
protagonista interpretado por Brad Pitt aparece ele é o
típico herói aposentado. Aquela fórmula padrão do militar que
abandonou sua carreira gloriosa pra ser homem de família.
Nesse contexto de
chatice, a invasão zumbi surge mascarada pela baderna, e rapidamente
o herói volta à ativa, enfrentando uma ameaça que infelizmente soa
banal e sem novidades.
Mesmo o efeito de
formigueiro morto-vivo não chega a impressionar, por mais que haja
competência na sua execução.
Além disso, muito
pouco do aspecto “Guerra Mundial” é posto em prática.
A única coisa que
denota um pouco disso é a busca ao redor do mundo pela cura da
epidemia, o que convenhamos, é um elemento tedioso em qualquer
história de zumbis.
Até porque, as
pistas da tal cura vão sendo escarradas de modo tão gritante que
não há ao menos a
sensação de plottwist quando enfim ela é
revelada.
É só o previsível
desfecho que apetece ao cinema-pipoca.
Claro que, se
desconsiderarmos o apelo "épico" presente desde o título do filme,
ele é até minimamente divertido, com sequências de correria e tiroteio tresloucado, e
falso suspense que dependendo do que o espectador procura podem
satisfazer seus interesses.
Cinema pra enganar
sem compromisso.
O problema mesmo, é
que a trama faz parecer que se leva a sério demais, quando nada em
momento algum consegue convencer que o perigo possa atingir o
protagonista, e nem ao menos fingir que os trejeitos hollywoodianos
vão ser ferramenta pra surpreender o espectador no fim das contas.
Guerra Mundial Z
no somatório é um filme mais ou menos correto no propósito de
entreter, mas que teria conseguido ser bem melhor caso houvesse se
aceitado com um enfoque no aspecto diversão rasteira, e fosse menos
interessado em parecer “épico de $1 Bilhão”, que infelizmente
estava fora do alcance do remendado roteiro e do seu diretor conseguir ser.
Brad Pitt
protagonizou apenas mais um pra lista dos que ousaram ser “o
blockbuster da temporada”, mas não ousaram ser mais do que
medíocres filmes comuns refilmados antes do lançamento e superfaturados.
Aquele fiapo de
quase entretenimento pra ver em casa, talvez.
Quanto vale:
Recomendado para:
quem já reassistiu “Extermínio” e “Pontypool” o bastante e
não consegue ver o torrent em inatividade.
Guerra Mundial Z
(World War Z)
Direção: Marc Foster
Duração: 116 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ação/Terror
Sign up here with your email
EmoticonEmoticon