Guerra Mundial Z (2013)



Não é porque algo se tornou moda que vai resultar sempre em uma boa idéia.
Lembro bem dos tempos em que o público do cinema de zumbis resumia-se àqueles que chafurdavam as locadoras em busca dos títulos mais idiossincráticos de diretores que torravam os trocados da produção em efeitos especiais gosmentos, e avessos ao que os críticos do Oscar chamariam de qualidade.
Era uma época mais simples, em que pra locar uma obra não era necessário identificar na capa do VHS (exato. Eles realmente existiram) o nome de um excelente (ou apenas famoso) astro hollywoodiano, e nem ser convencido por um trailer de divulgação contemplando trilha sonora de Hanz Zimmer, acompanhado das palavras “épico”, ou “o melhor filme de todos os tempos”.
Mas a atualização é parte do processo, e o cinema sobrevive a essas custas.


Tanto é que, mesmo em alguns dos meandros mais obscuros do gênero terror houve indícios de
recuperação.
Seja o Sede de Sangue de Chan-Wook Park, o Pontypool de Bruce McDonald, O Hospedeiro, dirigido por Boong-Hong Jo, ou O Segredo da Cabana, com as idéias de Drew Goddard e Joss Whedon, alguns caras mostraram que é possível ainda devolver aquela sensação de algo novo ao terror.
Mas no caso das histórias de zumbis, particularmente, o caminho era um tanto diferente.
Depois do seriado The Walking Dead, qualquer um com TV a cabo ou torrent funcionando já se diz fã de filmes gore.
Por mim tudo bem. Cada um pode se dizer o que quiser e eu não tenho nada com isso.
A questão é que, com isso vem quantidade de produções abordando o tema, e numa dessas alguém pode ser o algo novo, ou apenas somar à lista dos que não entram em processo de esquecimento desde que o título aparece na tela.


Desse modo, creio que pode se dizer que cada geração tem o cinema de terror que merece.

Não à toa hoje em dia é cada vez mais raro encontrar uma obra do gênero que não resuma o horror de suas cenas a gratuitas cenas de desmembramento.
Nesse sentido, Guerra Mundial Z, adaptado do livro do Max Brooks, chega às telas entre exigências opostas que recaem sobre o diretor Marc Foster.
Ao mesmo tempo em que o mainstream do cinema de assustar pede sanguinolência, estética homemade, ou pavor adolescente, o filme de Foster é nitidamente voltado a um público diferente, em forma assumida de superprodução, e não podendo soltar a mão na groselha pra não perder dinheiro em função da censura.
Tudo isso faz do filme um somatório de vários momentos que parecem querer ser algo que não estão autorizados a ser.
Claro que nem adianta procurar muito do livro do Max Brooks, porque após as "melhorias" no roteiro e seguidas correções nesse roteiro "melhorado", muito pouco resta pra comparar.


Quando o protagonista interpretado por Brad Pitt aparece ele é o típico herói aposentado. Aquela fórmula padrão do militar que abandonou sua carreira gloriosa pra ser homem de família.

Nesse contexto de chatice, a invasão zumbi surge mascarada pela baderna, e rapidamente o herói volta à ativa, enfrentando uma ameaça que infelizmente soa banal e sem novidades.
Mesmo o efeito de formigueiro morto-vivo não chega a impressionar, por mais que haja competência na sua execução.
Além disso, muito pouco do aspecto “Guerra Mundial” é posto em prática.
A única coisa que denota um pouco disso é a busca ao redor do mundo pela cura da epidemia, o que convenhamos, é um elemento tedioso em qualquer história de zumbis.


Até porque, as pistas da tal cura vão sendo escarradas de modo tão gritante que não há ao menos a
sensação de plottwist quando enfim ela é revelada.
É só o previsível desfecho que apetece ao cinema-pipoca.
Claro que, se desconsiderarmos o apelo "épico" presente desde o título do filme, ele é até minimamente divertido, com sequências de correria e tiroteio tresloucado, e falso suspense que dependendo do que o espectador procura podem satisfazer seus interesses.
Cinema pra enganar sem compromisso.
O problema mesmo, é que a trama faz parecer que se leva a sério demais, quando nada em momento algum consegue convencer que o perigo possa atingir o protagonista, e nem ao menos fingir que os trejeitos hollywoodianos vão ser ferramenta pra surpreender o espectador no fim das contas.


Guerra Mundial Z no somatório é um filme mais ou menos correto no propósito de entreter, mas que teria conseguido ser bem melhor caso houvesse se aceitado com um enfoque no aspecto diversão rasteira, e fosse menos interessado em parecer “épico de $1 Bilhão”, que infelizmente estava fora do alcance do remendado roteiro e do seu diretor conseguir ser.
Brad Pitt protagonizou apenas mais um pra lista dos que ousaram ser “o blockbuster da temporada”, mas não ousaram ser mais do que medíocres filmes comuns refilmados antes do lançamento e superfaturados.
Aquele fiapo de quase entretenimento pra ver em casa, talvez.


Quanto vale:



Recomendado para: quem já reassistiu “Extermínio” e “Pontypool” o bastante e não consegue ver o torrent em inatividade.

Guerra Mundial Z
(World War Z)
Direção: Marc Foster
Duração: 116 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ação/Terror

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