GONE HOME: UM JOGO INDEPENDENTE QUE TODOS DEVERIAM CONHECER


De vez em quando surgem obras que borram as barreiras entre campos artísticos. Até hoje se discute se Sandman, a série da Vertigo, pode ser considerada literatura. Por outro lado, jogos como Uncharted e Metal Gear Solid 4 são acusados de serem filmes disfarçados de videogame. Podemos até citar as críticas que fazem a autores como Mark Millar, que é acusado (injustamente?) de escrever seus roteiros de HQ já pensando em como serão adaptados ao cinema.

Se esse cruzamento é bom ou ruim, cada caso é um caso. Entretanto, o que muitos autores esquecem de fazer é explorar as particularidades narrativas de cada meio. Quadrinhos, livros, filmes, desenhos animados, jogos... todos possuem formas distintas de contar suas histórias. Um exemplo claro disso é a HQ Asterios Polyp:

O autor David Mazzucchelli expressa no traço as personalidades dos protagonistas: um mais emocional e outro mais frio e realista
Às vezes surgem obras que, mesmo sem querer, representam muito bem as possibilidades de seu meio. Gone Home é uma delas, pois conta uma história de uma maneira que não teria como replicar em um livro, filme, hq, ou qualquer outro lugar. A obra é fruto do estúdio de jogos independente chamado The Fullbright Company e foi lançado em agosto de 2013 para Windows, Mac e Linux. Se trata de um jogo de exploração 3D em primeira pessoa, com um foco grande (quase total) no seu enredo.

A história se passa em 1995, e você é Kaitlin Greenbriar. Após um mochilão na Europa, você volta para a mansão em que sua família se mudou enquanto você tava fora e encontra uma carta de sua irmã, dizendo para não procurá-la nem tentar entender o que aconteceu. É aí que o jogo começa. Não há nenhuma cena de ação, muito menos puzzles (apenas alguns códigos para destrancar cadeados, que são facilmente desvendados). Tudo gira em torno de você explorar cada cômodo da casa para descobrir porque sua família não está lá.


A história ganha seus pontos por tratar de temas delicados (um muito claro e outro que você precisa ligar alguns pontos para entender). Não comentarei mais nada, pois o fundamental da experiência é entrar na casa igual à protagonista: sem saber nada do que está acontecendo. A cada gaveta aberta e cômodo revirado, você começa a conhecer a vida dos moradores do local, e criar suas hipóteses do que pode ter acontecido. Depois da primeira hora de jogo, quando as peças começam a se juntar e você não se sente mais tão perdido, é que o jogo começa a mostrar seu verdadeiro valor, pois você se importa com cada personagem, e quer saber o que aconteceu com eles.

Tendo em torno de duas horas e meia de duração, o jogo carateriza muito bem a metade da década de 1990, principalmente na sua trilha sonora e em alguns objetos encontrados pela casa. É compreensível a escolha desta época pela produtora, já que apenas a internet poderia facilmente quebrar o enredo (quem é que manda carta atualmente?). Os gráficos não possuem nenhum atrativo, pois é um jogo independente sem cifras astronômicas para gastar. O lado positivo disso é que não é difícil rodar em computadores com pouco poder gráfico, como notebooks, por exemplo.



Mesmo com os elogios para a trama, o ponto forte fica para a maneira em que ela é contada. Só os videogames podem fazer de maneira tão competente você se sentir dentro da história, vendo o mundo pelos olhos de outra pessoa. A liberdade de exploração e as emoções que você sente enquanto joga são partes fundamentais da experiência de jogo. Aliás, é muito interessante como Gone Home brinca com suas expectativas, dando diversas pistas e quebrando suas teorias a cada cômodo que você explora.

Caso você tenha se interessado,  o jogo está a venda no Steam e no seu site oficial, mas obviamente também pode ser encontrado em sites de torrent. Para quem não quer correr o risco de perder algum detalhe (e acredite, eles são tudo neste jogo), há uma tradução para o português brasileiro disponível.

Recomendado para: quem não tem preconceitos e quer descobrir uma maneira diferente de apreciar uma bela história.



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