Jedis e Guardiões


Foi há pouco tempo e também nem era em uma galáxia muito distante (foi, na verdade, em um barzinho localizado nas proximidades da faculdade), que estava eu a conversar com alguns amigos sobre algumas questões relevantes para a humanidade, tais como o recente disco do Black Sabbath, Megan Fox e o uso de três volantes no meio campo do Grêmio.

Como é de costume ocorrer em qualquer ambiente regado a batata frita, cerveja e várias pessoas falando ao mesmo tempo, a conversa adotou rumos sinuosos e quando dei por mim já estávamos tecendo breves considerações sobre o Guardiões da Galáxia, vindouro longa-metragem dessa nova safra de filmes de super-heróis.


Guardiões da Galáxia irá aterrisar nos cinemas brasileiros no dia 31 de julho desse ano, mas muitas pessoas quando assistem ao trailer dos Guardiões… lembram de qualquer filme da franquia Star Wars. É óbvio que nessa mais recente produção hollywoodiana não há jedis, stormtroopers, Mestre Yoda e demais elementos que qualquer nerd fã da saga criada por George Lucas conhece. 


Mas então, qual é a semelhança entre as aventuras de Luke Skywalker e de Star-Lorl e seus comparsas? A associação entre as duas obras ocorre porque, tanto em Star Wars quanto em Guardiões da Galáxia, há aquele espírito galhofeiro de aventura pulp fiction, um tipo de aventura ingênua, sem muitas pretensões artísticas e que mistura, de forma divertida, naves espaciais, armas lasers e tantas formas de vida alienígenas que nem mesmo Charles Darwin conseguiria catalogar em suas anotações.

Contudo, vale destacar que o primeiro longa-metragem da franquia Star Wars começou a ser escrito por George Lucas em 1974, mas foi lançado em 1977. Lucas colocou ali todas as influências que ele adquiriu lendo Joseph Campbell (antropólogo que estudava mitologia), contos de mistério, fantasia, ficção científica e até arquétipos influenciados por Akira Kurosawa, um dos mais geniais cineastas do cinema oriental. 

Entre as inúmeras influências de um nerd George Lucas ainda sem cabelos brancos e uma conta bancária bem menor do que a atual, estava Flash Gordon, herói espacial criado pelo escritor Alex Raymond e que inspirou uma música do Queen e também… Vejam só: uma música muito bacana do Ronnie Von lançada em 1969, quando o cantor ainda não tinha aderido ao bundamolismo das cancionetas românticas!!!

Flash Gordon, que mais tarde protagonizou séries de TV e um filme para o cinema,  é um herói destinado a aventuras espaciais e sua primeira aparição nas HQs ocorreu em 1934.

Em uma época sem Playstation, facebook e seriados da HBO, o Flash Gordon, junto com Buck Rogers (criado por Philip Francis Nowlan), John Carter (criado por Edgar Rice Burroughs) e muitos outros protagonistas de contos pulp, supriam a cota de entretenimento para a gurizada do passado. George Lucas certamente bebeu dessas fontes para conceber o filme que, após o seu lançamento, definiu o cinemão pipoca dos anos posteriores.

Durante essa conversa com os amigos, relembramos de alguns filmes que, assim como Guerra nas Estrelas e os Guardiões, também são aventuras com naves, alta tecnologia, magia, aliens esdrúxulos e heróis abnegados na luta para defender a galáxia de vilões megalomaníacos. Tais filmes são os primos pobres de Star Wars.

Um dos filmes primos pobres de Star Wars é o Star Crash, lançado em 1978, se bem que algumas fontes afirmam que ele foi lançado em 1977, no mesmo ano do primeiro longa-metragem da grande produção do George Lucas.

Star Crash

Enfim, Star Crash é uma produção italiana de baixo orçamento, produção capenga e se sustenta pelo carisma involuntário de personagens canastrões e pela protagonista, que é até bem gostosa!

Nos Estados Unidos, conhecido como The Adventures of Stella Star, o longa foi dirigido por Luigi Cozzi, cineasta que tem no currículo filmes como Hercules (protagonizado por Lou Ferrigno) e inclusive trabalhou na produção de efeitos especiais do filme Phenomena, clássico do Dario Argento.

A trama, bem simplória, não possui grandes arroubos de criatividade e tem a mesma consistência de um sorvete napolitano deixado fora do freezer sob um sol de quarenta graus. 

Caroline Munro e David Hasselhof

No filme, uma dupla de renegados (a audaciosa Stella Star e um tal de Akton) possuem a missão de resgatar o filho de um imperador, já que o famigerado rapaz (interpretado de forma canastríssima pelo David Hasselhof) é prisioneiro de um conde do mal.

Stella Star interpretada por Caroline Munro

Outra aventura espacial fuleira, mas ainda assim divertida, é o Mercenários das Galáxias, lançado em 1980 e que foi dirigido por Jimmy T. Murakami, mas leva o selo ROGER CORMAN de qualidade que os fãs de filmes B tanto veneram.


Esse Mercenários das Galáxias lembra em certos aspectos o clássico western Sete Homens e um Destino. Na trama espacial, um jovem fazendeiro é enviado em uma nave com o intuito de recrutar guerreiros dispostos a enfrentar um ditador implacável. É a típica aventura pulp fiction, com heróis que se entregam por uma causa nobre e vilões que fazem caras e bocas a cada frase ameaçadora.

Outro primo pobre (nem tão pobre assim) de Star Wars e os Guardiões da Galáxia é o Último Guerreiro das Estrelas. Esse longa-metragem foi lançado em 1984 e, de forma ainda mambembe, utilizou em determinadas cenas efeitos especiais em CGI.


O filme utilizou o batidíssimo arquétipo do herói misturado ao sonho infantil de se viver uma aventura além do espaço. Dessa forma, teve êxito de bilheteria e, inclusive, gerou games e uma HQ da Marvel, mas ainda assim possui um charme de filme B que ficou na memória de qualquer ser vivo que, durante os anos 80, assistia a Sessão da Tarde. 

Na trama, um adolescente comum, exímio jogador de fliperama, é convocado para ser o piloto não da aeronáutica norte-americana, mas, sim, da frota de um planeta localizado lá no cu do cosmos.


E falando nos confins do universo, outro primo pobre de Star Wars e os Guardiões da Galáxia não é pobre pôrra nenhuma, na verdade, é uma produção milionária da Disney que, injustamente, naufragou nas bilheterias e, para a opinião de alguns setores da crítica, não vale o óleo derramado da Millenium Falcom. Pois é, estou a falar do filme John Carter, lançado em 2012.

John Carter é um personagem criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs ainda no início do século passado. Ou seja, boa parte da concepção de aventuras espaciais, HQs e games nasceu junto com esse cara. 

John Carter

Não duvido até que George Lucas estava com algum conto do John Carter embaixo do braço quando imaginou as primeiras linhas do roteiro de Guerra nas Estrelas. Acredito também que Stan Lee e Jack Kirby acendiam algumas velas para Edgar Rice Burroughs (que também criou o Tarzan). Até porque o personagem teve histórias adaptadas para quadrinhos feitas pela Marvel em 1977. Até o Alan Moore aproveitou esse personagem na sua Liga Extraordinária.


O personagem John Carter é um soldado que lutou na Guerra Civil norte-americana.  Um dia, esse sujeito é transportado para o planeta Marte e lá vive aventuras ao lado de aliens humanoides e princesas guerreiras de trajes mínimos (algo que a revista Heavy Metal, algum tempo depois, não cansava de mostrar).

Cena de John Carter

O filme de 2012, dirigido por Andrew Stanton, até que é divertido e ainda, em determinado momento, faz uso de um recurso metalinguístico sem parecer forçado. As cenas de ação são até bem feitas e os personagens possuem bom tempo de tela para serem desenvolvidos de forma satisfatória (embora eu ainda ache que mais de duas horas tenham sido um exagero). Não é um filme para entrar na lista das grandes obras cinematográficas, mas entrega um feijão com arroz bem feito, pena que muita gente não conseguiu digerir.

É óbvio que desde 1977 já foram feitos muitos primos pobres de Star Wars. Eu até poderia tecer aqui longos comentários sobre o tosquíssimo Star Wars Turco e o Star Wars brasileiro (aquele dos Trapalhões, lembram?). No entanto, Espero agora que os Guardiões da Galáxia, formado por personagens da Marvel não tão conhecidos como Iron Man e afins, seja um primo rico de Star Wars, mas rico não apenas no sentido financeiro da questão, mas também no sentido divertido da força.


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