Resenha: Joe Golem e a Cidade Submersa

Joe Golem e a Cidade Submersa (2013, Ed. Gutenberg) é o mais novo trabalho da frutífera parceria entre Mike Mignola (sujeito que desenhou Hellboy e foi o ilustrador do filme Drácula de Bram Stoker – Francis Ford Coppola, um dos mais belos filmes de vampiro que já vi) e Christopher Golden (romancista que navega entre o gótico e o terror).



Anteriormente, eles tinham trazido à tona a saga de Baltimore e o Vampiro, um romance ilustrado, que rendeu algumas sequências. Neste livro, somos apresentados a uma Nova York situada entre 1950 e alguma coisa. Não há uma definição clara. No entanto, mais importante que a data, é a sua atual conjuntura: depois de um grande terremoto, metade da cidade submergiu (a parte sul), que é, agora, habitada pelos pobres, mendigos, piratas, adivinhos, cartomantes e todos os demais párias da cidade. Os ricos fugiram para a metade norte (obviamente).

Neste contexto, um famoso médium – picareta, na maioria das vezes –, conhecido como Orlov, o Conjurador, é sequestrado durante uma sessão. A sua protegida corre contra o tempo para salvar o amigo, ajudada por um sujeito estranho, conhecido apenas como Joe, que trabalha para outro sujeito mais estranho ainda. Em jogo, a vida de Orlov e a conquista do mundo (claro).

A história mistura uma ambientação retrô, anos 20, com a panaceia mística que é comum nos trabalhos de Hellboy. Perseguições em lanchas, lutas corporais coreografadas e insanidades celestiais se sucedem a momentos introspectivos, onde a vida do misterioso Joe é, paulatinamente, descerrada. Assim como em “Baltimore e o Vampiro”, o estilo que a dupla impõe a sua narrativa bebe fartamente dos clássicos do terror gótico (Poe e Lovecraft, principalmente), sem, contundo se deixar levar pelo pastiche, tão comum nos imitadores.

A prosa é atual, dinâmica e vívida, mas seus alicerces são mais profundos do que se encontra, normalmente, por aí. O livro não é infanto-juvenil, mas quase poderia ser classificado como tal. Não espere respostas para as angústias do homem moderno em suas palavras, mas, tampouco, acredite que sairá completamente incólume das páginas.

E no aspecto gráfico e editorial, nota dez para o trabalho da Gutenberg. Combinando os desenhos de Mignola com um trabalho gráfico de primeira, o livro é, visualmente, muito superior a média que se encontra no mercado nacional.

É uma leitura divertida, mas pesada em alguns momentos. Para quem gosta do ritmo retrô-místico que aparece em Hellboy, é uma boa pedida.

A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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