Com
jeitão de despedida, o mais recente trabalho do Estúdio
Ghibli
apresenta um agridoce sabor que é perpetuado durante e depois
assistir seu mais recente filme.
Quem
sabe se terminasse sem lançar mais nada, só com o anúncio, não
ficasse essa sensação.
Mas
só de existir um derradeiro filme, já desperta um misto de
percepções diferentes a respeito inclusive dessa última história.
Paralelos quem sabe muito mais na mente do espectador, mas que fazem
parte agora da mítica do legendário estúdio de animação.
"As Memórias
de Marnie"
é a forma encontrada de prestar homenagem ao legado dos realizadores
que trouxeram tantas obras imprescindíveis pra arte.
O diretor a conduzir esse dito derradeiro
ato é Hiromasa
Yonebayashi,
que tem nessa adaptação do escrito pela britânica Joan
G. Robinson,
nos anos 60, a base pro seu longa-metragem.
O
filme, ainda que não apresente a marca autoral dos dois nomes mais
famosos do estúdio, mantém elementos recorrentes nas produções do
Ghibli,
e mais uma vez temos uma história de amadurecimento com elementos
fantásticos.
Na
trama a jovem Anna
(dublada pela Sara
Takatsuki)
vive deslocada em sua escola e família, e devido a um problema de
asma vai se afastar desse contexto pra passar uns dias na casa dos
seus tios, que moram no interior.
Esse
é o pontapé da jornada de amadurecimento, que é bem mais dramática
do que aventuresca, e apesar de a sinopse permitir alternativas mais
voltadas ao público infantil, tal qual "A
Viagem
de
Chihiro"
ou "Ponyo",
o trabalho de Yonebayashi
vai ser pontuado por outros elementos que acabam tornando "As Memórias
de
Marnie"
algo que poderia muito bem ser um live-action dramático.
É
assim desde que a novamente deslocada Anna
encontra pela primeira vez Marnie
(dublada pela
Kasumi Arimura),
e mais do que a ambientação (que muitas vezes é grande fator na
mudança, o relacionamento das duas por si só é o catalisador da
mudança na protagonista.
A
paisagem é lindamente animada, e se em momentos rouba a cena, com
exceção da mansão não chega a ser pra chamar de personagem.
Assim
sendo, apesar de alguns coadjuvantes interessantes, o enredo é
absolutamente focado nas duas meninas, algo justificado tendo em
vista as revelações que irão sendo apresentadas na calma, até uma
pressa repentina lá pelos finalmentes.
O
diretor narra o roteiro com um ritmo
bastante lento por um longo trecho, até precisar explicar tudo, com
personagens pouco explorados, e que exercem mais função prática
pra revelação, do que participam do contexto que impulsiona a
protagonista e terminar o filme uma pessoa diferente do que era no
início.
Essa
falta de um equilíbrio narrativo faz "As
Memórias de Marnie"
parecer mais de um filme em um só. Um roteiro com temática séria e
profunda, porém de momentos espichados, e outros de menor tempo pra
desenvolvimento. Por boa parte é um drama bastante humano, e no qual
os símbolos apresentados refletem o amadurecimento de sua personagem
principal, enquanto adquire tom de fantasia mais pela forma
superficial como passa a tratar os desdobramentos no ato final.
Ainda
uma bonita obra, e que desencadeia o espectador o interesse em
acompanhar seus personagens quase como se fossem pessoas conhecidas,
com as quais compartilhamos o universo em que vivem, "As
Memórias de Marnie"
é agridoce até nisso.
Enquanto
drama é singelo e triste, e sua melancolia pode fazer o filme
parecer para alguns ter um demasiado caráter emotivo.
E
na parte narrativa o longa-metragem deixa a sensação de que não
seria ainda o ideal desfecho do estúdio que nos presenteou com
tantas obras fantásticas, tanto em temática, quanto em qualidade e
poder imagético atemporal.
Um
bom filme.
Apenas
não a despedida que o estúdio merece.
Ainda
que no caso do Ghibli,
qualquer despedida com certeza seria amarga.
Quanto
vale:
As
Memórias de Marnie. Recomendado
para: uma possível despedida das mais agridoces.
As
Memórias de Marnie
(Omoide
no Marnie)
Direção:
Hiromasa Yonebayashi
Duração:
103 minutos
Ano
de produção: 2014
Gênero:
Drama/Fantasia
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