As Memórias de Marnie (2014)



Com jeitão de despedida, o mais recente trabalho do Estúdio Ghibli apresenta um agridoce sabor que é perpetuado durante e depois assistir seu mais recente filme.
Quem sabe se terminasse sem lançar mais nada, só com o anúncio, não ficasse essa sensação.
Mas só de existir um derradeiro filme, já desperta um misto de percepções diferentes a respeito inclusive dessa última história. Paralelos quem sabe muito mais na mente do espectador, mas que fazem parte agora da mítica do legendário estúdio de animação.



"As Memórias de Marnie" é a forma encontrada de prestar homenagem ao legado dos realizadores que trouxeram tantas obras imprescindíveis pra arte.
O diretor a conduzir esse dito derradeiro ato é Hiromasa Yonebayashi, que tem nessa adaptação do escrito pela britânica Joan G. Robinson, nos anos 60, a base pro seu longa-metragem.
O filme, ainda que não apresente a marca autoral dos dois nomes mais famosos do estúdio, mantém elementos recorrentes nas produções do Ghibli, e mais uma vez temos uma história de amadurecimento com elementos fantásticos.
Na trama a jovem Anna (dublada pela Sara Takatsuki) vive deslocada em sua escola e família, e devido a um problema de asma vai se afastar desse contexto pra passar uns dias na casa dos seus tios, que moram no interior.
Esse é o pontapé da jornada de amadurecimento, que é bem mais dramática do que aventuresca, e apesar de a sinopse permitir alternativas mais voltadas ao público infantil, tal qual "A Viagem de Chihiro" ou "Ponyo", o trabalho de Yonebayashi vai ser pontuado por outros elementos que acabam tornando "As Memórias de Marnie" algo que poderia muito bem ser um live-action dramático.
É assim desde que a novamente deslocada Anna encontra pela primeira vez Marnie (dublada pela Kasumi Arimura), e mais do que a ambientação (que muitas vezes é grande fator na mudança, o relacionamento das duas por si só é o catalisador da mudança na protagonista.
A paisagem é lindamente animada, e se em momentos rouba a cena, com exceção da mansão não chega a ser pra chamar de personagem.



Assim sendo, apesar de alguns coadjuvantes interessantes, o enredo é absolutamente focado nas duas meninas, algo justificado tendo em vista as revelações que irão sendo apresentadas na calma, até uma pressa repentina lá pelos finalmentes.
O diretor narra o roteiro com um ritmo bastante lento por um longo trecho, até precisar explicar tudo, com personagens pouco explorados, e que exercem mais função prática pra revelação, do que participam do contexto que impulsiona a protagonista e terminar o filme uma pessoa diferente do que era no início.
Essa falta de um equilíbrio narrativo faz "As Memórias de Marnie" parecer mais de um filme em um só. Um roteiro com temática séria e profunda, porém de momentos espichados, e outros de menor tempo pra desenvolvimento. Por boa parte é um drama bastante humano, e no qual os símbolos apresentados refletem o amadurecimento de sua personagem principal, enquanto adquire tom de fantasia mais pela forma superficial como passa a tratar os desdobramentos no ato final.


Ainda uma bonita obra, e que desencadeia o espectador o interesse em acompanhar seus personagens quase como se fossem pessoas conhecidas, com as quais compartilhamos o universo em que vivem, "As Memórias de Marnie" é agridoce até nisso.
Enquanto drama é singelo e triste, e sua melancolia pode fazer o filme parecer para alguns ter um demasiado caráter emotivo.
E na parte narrativa o longa-metragem deixa a sensação de que não seria ainda o ideal desfecho do estúdio que nos presenteou com tantas obras fantásticas, tanto em temática, quanto em qualidade e poder imagético atemporal.
Um bom filme.
Apenas não a despedida que o estúdio merece.
Ainda que no caso do Ghibli, qualquer despedida com certeza seria amarga.



Quanto vale:


As Memórias de Marnie. Recomendado para: uma possível despedida das mais agridoces.

As Memórias de Marnie
(Omoide no Marnie)
Direção: Hiromasa Yonebayashi
Duração: 103 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Drama/Fantasia
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