Assistindo
filme após filme em uma maratona sem fim, a parte legal disso é que
a surpresa pode estar à espreita no próximo longa-metragem.
Afinal,
se chegaram a ser indicados pra
alguma premiação,
se espera que os escolhidos
pra
disputa de alguma forma tenham
se destacado,
e nisso não me refiro a fazer um trabalho melhorzinho do que vinha
realizando (cofcofRidleyScottcofcof) e que não tenha sido por essa
benevolência da Academia que passaram a fazer parte do Top 10 de
melhores filmes de 2015 pros jurados.
Mas
é corriqueiro ler a lista de indicados e lembrar de imediato de uns
5 ou mais filmes bem melhores que alguns que estão ali.
E
no gênero drama, o mais fácil mesmo é encontrar as mesmas fórmulas
e mesmos excessos de atuação, maquiagem e choro não inseridos de
forma orgânica no filme, porém lançados no alvo do interesse do
juri.
"O
Quarto de Jack"
é basicamente um drama.
Se
isso soa bom ou ruim, depende integralmente do que apetece cada
espectador.
Se
desconsiderarmos uma certa redundância em várias produções
dramáticas pelas quais a Academia tece elogios desmedidos, "O
Quarto de Jack"
tem sim as mesmas chances de surpreender que qualquer outro filme,
com a diferença que se trata de uma história muito humana, de
elementos simples, e que emula a simplicidade da vida ainda que em
momentos excepcionais. E
não é filme de época, ou plano-sequência, e também não é
dirigido por alguém por quem a Academia possua uma dívida histórica
a sanar.
Essa
diferença diz muito em várias ocasiões, pelo mero fato de parecer
algo menos "épico" (da lista de palavras banalizadas por
essa geração), e independente da forma como for abordado o seu
roteiro pode cair no vácuo dos filmes " Achei até
bom
e tal.".
Por
que isso foi digitado de modo a parecer não tão bom assim?
Porque
"O
Quarto de Jack"
é um dos melhores filmes dessa temporada. Só por isso.
Por
mais que "Mad Max: Estrada da Fúria"
(principalmente) e também "O Regresso"
tenham sim méritos pro número de indicações e hype recebidos até
agora, essa temporada de filmes de ação cult cobra o seu preço.
Por
causa disso acabou em
terceiro plano o trabalho extraordinário do diretor Lenny
Abrahamsom,
que narra sem grandes artifícios ou orçamento uma competente
jornada de aprendizado e amadurecimento, em um extremamente
contagiante
retrato da realidade sem maquiagem ou recursos facilitadores pra vida
de seus personagens, oriundos
do livro escrito pela
Emma Donoghue,
adaptado por ela mesma.
Personagens
esses que são sensacionais, porém não mais que as atuações, em
especial da dupla protagonista.
Mãe
e filho vivem isolados em um quarto, com apenas uma pessoa a qual
ambos conhecem, e com uma claraboia propiciando o pouco de luz
externa que recebem diariamente.
Esse
cenário aparentemente distópico ao qual ambos estão restritos, e
que rende uma explicação suficientemente fantasiosa ao pequeno
Jack,
é o bastante pra os dois atores trabalharem, e não apenas usar o
tempo pra se tornarem conhecidos do espectador.
Eles
se tornam pessoas próximas. Verdadeiras e pelas quais nos envolvemos
em sua tentativa de uma vida um pouco melhor do que isso, mesmo
quando no caso de Jack,
ele mesmo nem saiba o que de melhor possa esperar.
Brilhantemente
atuados, a mãe que Brie
Larson
faz viva em sofrimento e esperança a figura que tenta confortar o
menino de 5 anos que foi a oportunidade do ator mirim Jacob
Tremblay (esse merecia uma indicação ao Oscar) encontrar
os holofotes com os aplausos que uma atuação intensa que nem a dele
merecem. Fácil lembrar de Quvhenzhané
Wallis e
sua extraordinária estreia em “Indomável Sonhadora”, tanto pela
força da atuação das crianças, quanto pelo próprio tema, que
trabalha superação e amadurecimento em diferentes contextos.
“O
Quarto de Jack” é excelência em tantos aspectos, incluindo o
roteiro de muitos fatos novos, e que acompanha a transformação de
mãe e filho no processo de transição que cobra um preço de ambos,
mas não sem apresentar possibilidades de um futuro bem maior que o
pequeno quarto, e ao qual os dois vão encarar de maneiras bem
diferentes.
O
cineasta Lenny Abrahamsom
não é o cara mais cheio de hype em sua filmografia, mas
conseguiu um dos poucos trabalhos de 2015 que deixou uma marca.
Seu
filme “O Quarto de Jack”
é impactante sem mostrar muito mais do que a realidade, e sem
precisar de muitos adornos pra que seus personagens pareçam reais e
envolventes em suas jornadas.
É
simples. Mas um grande filme não precisa de mais do que isso.
Quanto
vale:
O
Quarto de Jack. Recomendado
para: ser
a surpresa que não vai levar Oscar nenhum, mas não vai sair da
memória de quem assistir.
O
Quarto de Jack
(Room)
Direção:
Lenny Abrahamsom
Duração:
118
minutos
Ano
de produção: 2015
Gênero:
2015
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