Com os desfechos derradeiros de 2013, no Blog tudo se efervesce pois a programação tradicional dessa épocas exige umas postagens habituais. E postagens pra nós bem legais, inclusive.
Uma delas, é esta, que revisita o que de melhor foi lido (ou relido) nos últimos 365 dias pretéritos.
Tudo muito pessoal e subjetivo, e sem pretensão de ser nada além de sugestões para seu tempo literário.
Abaixo a primeira parte, com a nata do que foi conferido em 2013
10
One Piece
Mas já
tendo que reconhecer e aplaudir a inventividade quase infantil do
autor Eiichiro Oda.
Enquanto
muita série de heróis clássicos sobrevive por boa vontade dos
leitores dedicados a manter a coleção sem falhas, os quadrinhos
japoneses e seu mercado de rumos muito direcionados pela crítica do
público, exigem que pra alcançar longevidade uma obra tenha
realmente muita coisa nova pra contar.
É o
caso de One Piece e sua aventura ininterrupta, com trejeitos
cartunescos, mas que sempre tem uma carta na manga pra transformar o
mais simples dos fatos em parte essencial de uma trama muito maior.
A
série ainda tem muito pra ser lido, mas até agora é uma aula de
como escrever uma HQ mainstream.
09
Melodia Infernal
A Arte
do quadrinhista chinês Lu Ming merece ser chamada de Arte,
com o A maiúsculo mesmo.
Não é
só o traço detalhado, mas a fusão de estilos, e a maneira orgânica
com que ele mescla seu traço com as influências roqueiras que
permeiam a trama.
E na
teoria, a trama nem é muita coisa para quem espera pirotecnia.
Um
trio de músicos busca um guitarrista pra sua banda.
O
detalhe é que eles estão mortos, e para isso, precisam conduzir o
guitarrista que escolherem a deixar a vida pra se integrar à banda.
Os
personagens bem desenvolvidos, e a não-pretensão de se fazer
parecer mais do que é, aliados ao detalhismo absurdo no desenho de
instrumentos musicais, faz com que mesmo o didático desfecho não
tire o seu lugar nessa lista.
O
quadrinhista Oda Hideji com certeza sabia que essa era uma conseqüência
natural quando escreveu uma HQ com jeito de Alice no País das
Maravilhas, traço nada convencional, e principalmente,
misturando na panela menções a todo tipo de tabu considerado inadequado pra quem for ler essa obra achando se tratar de uma fábula para crianças.
Além disso, outro aspecto forte é que esses tantos tabus simplesmente existem sem que necessariamente seja feita apologia ou crítica didática a nenhum.
Além disso, outro aspecto forte é que esses tantos tabus simplesmente existem sem que necessariamente seja feita apologia ou crítica didática a nenhum.
É uma
historia que exige do leitor participação ativa na jornada surreal
e onírica a qual se propõe ser.
07
Leões de Bagdá
Leões de Bagdá, com sua trama envolvendo
quatro leões que fogem do zoológico da cidade em questão quando este é bombardeado por caças durante a invasão do Iraque, esmiuça
relações tão humanas quanto as dos humanos.
Fazendo
o leitor ver a historia através da pele dos felinos, ele os
apresenta vivendo dramas e dilemas pessoais que fazem deles mais
envolventes do que qualquer combatente do crime dito humano.
Leões
de Bagdá é acerto do início ao fim, e na arte de
Niko Henrichon esta obra-prima confirma ser uma obra exigida
na estante de qualquer fã de quadrinhos e literatura.
06
Cosmonauta Cosmo
Eduardo
Damasceno e Luis Felipe Garrocho lançam poucas obras
impressas.
Mas
quando lançam, nunca é pouca coisa.
Cosmonauta
Cosmo repete o primor de qualidade de Achados e Perdidos mas dessa vez sem a trilha sonora que acompanhava seu livro
emblemático pra produção de HQs no Brasil.
Não
que Cosmonauta Cosmo seja algo menor por causa disso.
Ainda
é a arte sensacional, e a historia que se faz de corriqueira pra
assim ser mais envolvente, e quando passa a sua mensagem, não o
fazer de modo enfadonho e comum. É uma
historia infantil perfeita, que não se restringe a essa faixa
etária. Trabalhando
fora do espectro do hype é que surgiu a melhor HQ nacional de 2013.
Com certeza não é sem motivo que, em meio a uma
indústria de quadrinhos de rumos monótonos, Jim Starlin
tornou-se um dos nomes mais respeitados e até hoje ganha entonação
e menção de destaque na retórica de qualquer fã de quadrinhos que
se preze.
Em
Gilgamesh, ao mesmo tempo em que ele revisita as lendas sumérias, apresenta os elementos das HQs de super-heróis
com os quais no acostumamos, em uma trama fora do usual, e que é
dinâmica e divertida, e não por isso menos densa na desconstrução
do mito do herói.
Genial!
Revisitar
a tragédia é a proposta da autora Fumiyo Kouno nessa HQ em edição
única, e que não faz uso de
cenas chocantes pra ser forte e visceral.
E eu
não empregaria a palavra “visceral” só porque está na moda.
Cidade
da Calmaria é de uma leveza que engana.
De uma
sutileza narrativa, e simplicidade do traço que disfarça a sua
intensidade.
Mas a
primeira impressão de obra comum se desfaz à medida que ela se faz
uma leitura incômoda pelos motivos certos e ganha espaço na memória
do leitor por mais do que arte-final estilosa, ou hype
pré-construído.
03
Panorama do Inferno
Eu não
conheço muitas histórias em quadrinhos que sejam realmente
assustadoras, fazendo jus ao rótulo de “terror” (existem, mas
relativamente poucas).
Mas na
quadrinhografia do autor Hideshi Hino existem alguns que possuem motivos pra ser assim considerados. Panorama
do Inferno é um deles.
A
história do pintor que trabalha obcecadamente retratando a paisagem
infernal à sua volta é ao mesmo tempo um conto de horror assombroso
e doentio, e ao mesmo tempo uma obra-prima que traça um paralelo com
a traumática historia pessoal do autor, e de seu país.
Eu nem
posso detalhar mais nada, porque há um plot twist que a tira de vez
do lugar de conforto, e faz a leitura ser imprescindível mais de uma
vez.
Uma HQ
marcante com mérito.
Acho
que vou acabar relendo essa anualmente, então deixo claro que só
dessa vez ela irá figurar aqui, apesar disso.
Um
cara comum com problemas comuns, em uma vida comum.
Quando
lida uma sinopse a respeito de uma historia assim, pode parecer que é
menos memorável do que uma tresloucada aventura de fantasiados.
A
verdade é que, em sua humanidade e capacidade de se manter longe do
esperado, Daytripper naturalmente figura em qualquer lista de
melhores, a qual seus critérios permitam.
E pra
isso, nem precisaria da arte particular dos irmãos Gabriel Bá
e Fabio Moon.
Se
fosse um storyboard rabiscado a lápis, ainda seria digna de menção
uma historia que se desfaz de qualquer tentativa de ser épica, pra
que assim verdadeiramente seja.
A
dupla Jodorowski e Moebius não requer apresentações,
e por mais que eu me esforce, não conseguiria escolher adjetivos
novos com relação ao trabalho de ambos os artistas. E “O
Incal” apenas superlativa qualquer expectativa com relação ao
que já se esperava deles.
A saga
cósmica é grandiosidade do início ao fim, e não se perde em meio
aos embates espaciais, crítica político-social, e questionamentos
humanos e metafísicos que fazem da saga não menos do que
impressionante na totalidade da obra, a qual forma uma dupla perfeita
com o igualmente clássico Akira, de Katsuhiro Otomo.
Bueno.
A lista de 2014 já está em andamento, e com fortes candidatos a aparecer por aqui no Satélite em 2015.
Mas enquanto eu prossigo as leituras, aguardem a segunda parte desse Top 10+10, de autoria do Gustavo, e que nos próximos dias será publicada.
Aguardemos.
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