Não são necessários nem dez minutos pra que a produção belga Alabama Monroe se mostre um filme cativante.
Sua cena inicial é uma
apresentação de uma banda de bluegrass, e de imediato a excelente
trilha sonora que irá acompanhar o espectador ao longo do filme cria
uma atmosfera atrativa.
O contraponto a esse
clima aprazível no início do filme do cineasta Felix Van
Groeningen é o flashforward que leva a historia a um momento
sombrio da vida do protagonista e líder da banda mencionada acima e sua esposa.
Eles terão
que se manter resistindo em meio à
doença da filha de 6 anos, com leucemia.
Mesmo com o começo com boa música, regada com um potencial clima de melodramalhão, Alabama Monroe não
é daqueles filmes pra levar a namorada pra (quem curte) se emocionar
com as mensagens de auto-ajuda.
É
muito mais fácil ficar incomodado.
A
estrutura do filme é o primeiro elemento catalisador disso.
A
historia salta do passado ao futuro, e retrocede durante toda a
metragem, e desse modo vamos conhecendo desde os primórdios do
relacionamento a família integrada pelo músico Didier
(Johan Heldenbergh), a
tatuadora Elise (Veerle Baetens),
e a pequena Maybelle (Nell Cattrysse).
A
atuação dos três é perfeita.
O
elenco todo deixa no chinelo muito veterano de Hollywood (cada um na
função que lhe é pedida, obviamente).
O
roteiro, adaptado de uma peça co-escrita pelo próprio Heldenbergh
vai relatar dessa forma acronológica o intenso início do
envolvimento do casal, o nascimento da filha, e a descoberta,
aceitação, e desdobramentos da doença dela.
Mas ainda que tenha muito
pra acontecer na trama, Alabama Monroe em vários momentos é
bastante lento.
Quem sabe por isso a
escolha do diretor pelo uso constante das músicas da banda do
personagem Didier, que conferem um clima videoclíptico pro
longa-metragem, em sequências que muitas vezes nem mostram o que os
personagens estão dizendo,contando com o que a música e o
visual transmitem.
É um recurso que
funciona, além de a música ser realmente muito, mas muito boa mesmo.
Certas vezes, porém,
parece que a utilização se excede. Com bastante coisa sendo
desenvolvida (afinal, são fatos de vários períodos diferentes da
vida da família) ouvir (e no caso ver) as músicas sendo tocadas
pela banda por um tempo a mais significa breves momentos de
distanciamento com o enredo.
É muito legal, mas não necessariamente efetivo no envolvimento com os personagens no desenrolar de sua atribulada vida.
No entanto, por mais que
isso torne o roteiro por vezes menos envolvente do que poderia,
conforme se espera de qualquer obra, Alabama Monroe se propõe
a causar um efeito, e é exatamente isso o que o filme faz no seu ato
final.
O choque entre a crença
do casal é apenas um dos motivos pra isso, mas com certeza, todas as
diferenças expostas são consequência da aterradora realidade que
os envolve, agora que o motivo de serem uma família perde os
cabelos em uma cama de hospital enquanto eles ouvem do médico as
poucas alternativas pra mantê-la viva.
Tudo isso destroi a
estabilidade do casamento deles, mas sem nunca ser um dramão, no sentido
pejorativo da palavra.
Uma joelhada no estômago pra quem sonhava em encontrar um filme a la Meg Ryan.
Uma joelhada no estômago pra quem sonhava em encontrar um filme a la Meg Ryan.
E muito está incluso na
cena do pássaro.
O desentendimento entre
os personagens nessa cena é motivado pelo que é o fio condutor do
enredo, e além de ser um dos momentos mais emocionais do filme,
permite à atriz-mirim Nell Cattrysse
uma oportunidade pra não deixar dúvidas da sua capacidade.
A fotografia impecável é
a moldura perfeita pro retrato implacável do relacionamento transposto às telas pelo diretor, que observa tudo se desfazer enquanto ao público resta o desconforto pela verdade que ele
transmite.
Quanto vale:
Alabama Monroe. Recomendado para:
repensar o valor que destinamos às pessoas.
Alabama Monroe
(The Broken Circle Breakdown)
Direção: Felix Van Groeningen
Duração: 111 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: DramaSign up here with your email
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