Na década de 20, a guerra força duas irmãs polonesas a fugir de seu país em busca do sonho de uma vida
estadunidense repleta das liberdades e potencial com que o american
way of life é panfleteado.
Mas
claro, as coisas não saem tão bem assim, e a protagonista precisa
ir por caminhos adversos pra tentar garantir um futuro pra ela e pra
irmã.
Esse
é o mote inicial do mais recente filme do diretor James Gray, e que
apesar do título grandiloquente na versão brasileira, é com
certeza muito mais o que o título original sugere: uma história de
uma imigrante.
Não
é com desdém que eu escrevo isso. Não tem nada de errado com o
título original, e ele apenas faz mais justiça ao que o filme se
propõe.
Isso
porque não é de títulos pretensiosos que precisa a jornada da
personagem principal, Ewa,
interpretada pela Marion Cotillard.
O
drama inerente já lhe é suficiente, mesmo que pra fins de
bilheteria, por aqui tenha sido considerado que não.
Ela
é uma imigrante em busca de sonhos
de felicidade, tal qual tantos outros, e isso é o bastante pra que
seus objetivos ecoem a vida de tantas outras pessoas, algo que bem
desenvolvido já teria apelo pra que seu público saísse da sessão
com a sensação de ingresso bem investido.
Mas
enfim.
O
filme começa mesmo quando o personagem de Joaquin Phoenix aparece,
nessa que é a quarta parceria com o diretor.
Além
de ser um baita ator, o personagem que ele interpreta é que
transforma os rumos da vida da Ewa, que vai
aprendendo mais a respeito de sobrevivência em um choque de
realidade que torna cada vez mais difícil associar sua utópica
expectativa ao contexto que agora conhece.
Pra
variar, direção de fotografia, figurinos, e toda composição de
época são impecáveis, e resgatam o período tirando-o do
imaginário e da lembrança e pra que se faça presente de novo durante a
sessão de cinema.
A
produção primorosa, no entanto, não esconde as limitações do
roteiro, que lida com vários momentos potencialmente marcantes,
sempre deixando uma sensação de sub-aproveitamento, muito devido
aos seus personagens complexos, trabalhados de maneira superficial.
O
grande conflito central divide o interesse da personagem de
Cottillard entre
Bruno (Joaquin
Phoenix)
e Orlando/Emil (Jeremy
Renner),
e sendo o que desencadeia os maiores embates dramáticos do enredo, é
nesse mesmo ponto que o longa-metragem fraqueja.
E
isso não não fica na conta das atuações. Talvez pese mais sobre o Jeremy
Renner, mas não seria um motivo fundamental.
Os
3 parecem realizar suas funções em mais uma demonstração de
capacidade dos atores, com alguns altos e baixos, porém o quanto o
envolvimento deles foi aprofundado é que é o problema.
Esse
relacionamento fica no quase, no quesito intensidade, e as agruras
pelas quais Ewa passa não chegam a incomodar tal qual se
esperaria do que o filme relata.
Não
chega a ser ruim, ou tedioso, apenas não desencadeia tamanho
envolvimento, ou desconforto que algumas cenas sugerem.
A
favor do longa-metragem, no entanto, algo genuinamente consistente é
a química entre Marion
Cottilard e
Joaquin
Phoenix.
Ela
transmitindo fragilidade e obstinação na mesma medida, enquanto ele
se transfigura em um personagem que apesar de aparentar poder, não é
nada mais que outro qualquer buscando o melhor que o sonho americano
parece oferecer a poucos.
Essa
dinâmica rende os melhores diálogos, e cenas nas quais as falhas de
condução da história podem ser esquecidas.
Apesar
de suas qualidades notáveis, "Era
Uma Vez em Nova York" é
um filme bem menos épico do que o marketing tenta vender.
Um
drama a respeito de ambições e sonhos que se desfazem diante de
anseios e vontades simples, e que denotam a humanidade de seus
personagens.
Personagens
estes que mesmo bem atuados, se enfraquecem na trama que trabalha
melhor o contexto do que os seus relacionamentos.
Por
isso, "Era
Uma Vez em Nova York"
não é um filme surpreendente ou sensacional quando a qualidade
técnica é somada ao restante, mas ainda assim cumpre razoavelmente seu papel, e
graças a
Joaquin Phoenix
e Marion
Cotillard vai
além de ser uma obra descartável.
Era
Uma Vez em Nova York. Recomendado
para: uma tentativa de cinema cult, com mais aparência do que resultado.
Era
Uma Vez em Nova York
(The
Immigrant)
Direção: James Gray
Duração: 120 minutos
Ano
de produção: 2013
Gênero:
Drama
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