Nessa
briga louca por bilheteria, de todas as modas reincidentes, a de
reaproveitar contos de fadas é ainda uma das mais lucrativas. Muitas
vezes a mais sem graça, também.
Não
sem motivo esse interesse em faturar com releituras ligadas a essas
histórias também tem sido presença constante nos seriados na tv,
enquanto permanece uma certeza entre os lançamentos anuais.
Afinal,
além de ser possível vir na forma de conto moral, que seria
justificativa pros adultos escolherem aquele filme pra assistir com
seus filhos, existe a própria possibilidade de ser assistido por
toda família, contendo frequentemente efeitos especiais de aceitável
qualidade, e ultimamente, batalhas de grandes proporções genéricas.
A
investida dos estúdios Disney traria uma proposta
inicial inesperada, fazendo dessa vez da vilã bruxa de sempre, a
protagonista.
O
roteiro que chegou nas mãos do diretor Robert
Stromberg tinha
esse detalhe pra não ser mais um filme de contos de fadas, e com
isso faturar mais que a concorrência.
Isso
funcionou, na certa.
"Malévola"
rendeu mundialmente mais de $750 milhões, e é a maior bilheteria de um filme estrelado pela Angelina
Jolie,
isso muito porque o longa-metragem atende plenamente os requisitos
que eu mencionei acima.
Mas
ainda assim, não é que "Malévola"
realmente venha com a ousadia no seu produto final.
Esse
não era mesmo um pré-requisito. Era só uma coisa interessante pra
vender em cartazes e trailers.
A
grande comprovação que o resultado comercial do filme aponta é que
esse amontoado de efeitos especiais, um drama arrastado e meloso,
envolto em uma auto-afirmação de roteiro audacioso é exatamente o
necessário pra faturar umas vezes o que se investiu, e se tornar o
maior êxito financeiro em live-action da carreira da atriz em torno da qual a produção gira.
Eu
não diria que haveria relaxo da parte de ninguém na realização de
"Malévola".
Esse não é o problema.
O
que acontece é que se trata de um filme tão comum e sem nada pra
destacar que eu só posso considerá-lo horrivelmente medíocre.
O
tipo de cinema que alguém passar a vida inteira sem assistir não
representaria perda nenhuma.
Aparentando
estar ciente disso, o vilão (o de verdade) interpretado pelo Sharlto
Copley é
de longe o personagem mais caricato e formatado pra ser ameaça rasa
que foi possível criar.
Quanto
a
Angelina Jolie,
sua personagem está mais pra heroína trágica, e ainda que finja
maldade nas conversas com seu corvo (Sam Riley), demonstre esforço e experiência em sua interpretação, e algum carisma que ninguém mais do elenco é capaz, não torna
menos óbvios os rumos da história, que nas mãos do diretor se
encaminha palatável pra todos os públicos mais por ser contada de
forma simplória do que pela sua efetividade narrativa.
Esse
filme encaixotado e imaginado pra atender desde as cenas de batalhas
envolvendo exércitos, embates com poderes e chamas em profusão, até
momentos de redenção e traições descaradamente esperadas, só não
pode ser considerado um blockbuster aceitável devido à condução
da trama pelo diretor.
Porque
vários filmes de roteiro mediano e atuações fracas conseguiram
resultado melhor com uma intervenção incisiva do cineasta
responsável.
Coisa
que não ocorre em "Malévola",
porque o Robert
Stromberg parece
ter apenas ouvido as orientações do estúdio e seguido tal qual um
operário padrão, sem nada diferente do que qualquer outro operário
padrão faria.
Pode
até ser que o tom de aventura romântica e desilusão implique em
aceitação do filme nesse momento do cinema pós-Crepúsculo, e vendo dessa forma, a produção alcançou plenamente o seu objetivo,
que não era necessariamente criar um bom filme.
Porque a sinopse com alguma ousadia é apenas isso: um argumento pronto pra
depois da compra do ingresso justificar uma sessão de cinema das
mais desinteressantes.
Quanto
vale:
Malévola.
Recomendado para: cumprir tabela na temporada.
Malévola
(Maleficent)
Direção:
Robert Stromberg
Duração:
97 minutos
Ano
de produção: 2014
Gênero:
Aventura/Fantasia
Confere a crítica de outros indicados ao Oscar 2015 NESSE LINK.
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