Basta
ver as primeiras cenas do ator Eddie
Redmayne interpretando
Stephen
Hawking pra
ter uma impressão inicial muito favorável.
Não
que as cenas representem algo de muito interessante, até porque
essas representações de felicidade extrema em momentos do dia-a-dia
costumam ser algo bastante batido, e mostrado de modo a afastar o
realismo do filme.
O
diferencial mesmo é na atuação do cara que parece não estar
atuando, e é algo que vai ser reforçado ao longo da história.
O
filme "A
Teoria de Tudo"
narra a vida de Hawking
a partir do livro "A Teoria de Tudo: A Extraordinária História de Jane e Stephen Hawking", escrito pela primeira esposa dele, Jane, que é interpretada na produção pela Felicity
Jones.
O
roteiro é focado no romance dos dois, desde quando o protagonista ainda não faz ideia que a doença do
neurônio motor vai emergir pra abalar seus dias e reduzir pra dois
anos a sua expectativa de vida.
Mas
antes da degeneração motora atingir sua vida que nem uma bomba, ele
conhece Jane, e mesmo com os comentários de que Stephen seria um
"cara estranho", ela não consegue evitar a aproximação.
Nem
mesmo a divergência entre ele, ateu, e ela frequentadora da igreja
dominicalmente, é empecilho o bastante, e isso permite a sucessão
de cenas em que Redmayne
e Felicity
Jones
põem em prática a química da dupla de atores, numa espécie de
conto de fadas que, apesar do que era esperado, continua mesmo após
a doença.
E
é nesse ponto que o principal problema de "A
Teoria de Tudo"
se consolida.
Se
até então o enredo prosseguia sem percalços pro aspecto romântico,
e os dois tinham sempre as suas respostas espertas na ponta da
língua, fazendo os diálogos parecerem menos convincentes, ao menos
não havia um grande motivo pra mudança no tom da trama.
Agora,
depois que é revelada a doença, pelo menos as coisas deveriam mudar
bastante.
O
que não ocorre, e com isso o desenrolar permanece moldado em uma
visão otimista, que muito lembra uns telefilmes que apenas vão
narrando a sucessão de eventos pra fim de andamento do filme, e não
pra aprofundar os personagens.
Isso
porque, apesar da assombrosa atuação de Eddie
Redmayne,
seu personagem é apresentado basicamente com o mesmo otimismo em 90%
do filme. Na representação cinematográfica, a doença é um limitador
físico, mas não um momento traumático que redefine e afeta a vida
dele e das pessoas ao redor.
Essa
escolha pela manutenção da perfeição nas pessoas quem sabe seja
por o diretor James Marsh estar trabalhando com base no livro
escrito por Jane, e claro, pelo limitador de as pessoas retratadas
estarem vivas, e alguns aspectos da história que viveram não serem
necessariamente tão adequados pra um relato romântico idealizado
sobre o casal.
Ainda
que seja raro algum longa-metragem ter a coragem de lidar com esse
tipo de questão sem disfarçar as coisas, exemplos que nem o do
"Foxcatcher",
no qual o diretor Bennett Miller comprou
a raiva do protagonizado
Mark Schultz trazem
maior verossimilhança pro enredo.
James Marsh opta por adotar em seus personagens uma inocência
no que foi um relacionamento mais complicado, e que envolveu
inclusive um triângulo amoroso bem menos romanceado do que é visto
no longa-metragem.
Com
os percalços minimizados acompanhá-lo acaba lembrando a sensação
de assistir qualquer romance meloso, com o diferencial da vida de
quem está sendo retratada, e sem a menção a isso não haveria
qualquer chance de constar na lista de melhores do Oscar.
A
força motriz do filme é de fato o romance, e a narrativa sobre a
vida de Hawking
perde
muito, não por deixar de lado a profundidade no aspecto científico
que margeia a trama, e sim por concentrar sua atenção em um modo de
narrar que mais lembra um conto de fadas do que uma biografia, que
pra ter intensidade pede também os defeitos dos personagens.
O
grande destaque fica por parte das atuações, ainda que Redmayne
realmente domine a cena.
Sua
interpretação utiliza a semelhança física em relação ao
verdadeiro Stephen
Hawking,
mas não se escora nela. É um trabalho que compensa mesmo as cenas
mais óbvias, porque ele é o personagem sem concessões, ou poréms.
Ainda que o roteiro o prive de expressar outras características do
protagonista, que apenas enriqueceriam sua interpretação com mais
camadas de desenvolvimento, a cena da caneta, próximo ao fim do
filme só demonstra o quanto ele foi uma peça fundamental pra essa
produção.
"A
Teoria de Tudo"
não é algo pra chamar de dramalhão, porém também não chega a
ser um drama dos mais eficazes.
Quem
assiste percebe que as cenas relatam momentos intensos, e que era
esperado se comover com isso. Agora, pro aspecto emocional funcionar
já depende muito mais de perceber que os personagens tem suas vidas,
personalidades e escolhas influenciadas pelos momentos conflituosos,
o que só é visto depois de muito filme algumas raras vezes no Stephen e na sua esposa.
Pra
permanecer nos trilhos, e ainda uma sessão de cinema interessante,
felizmente o filme conta com um elenco talentoso e dedicado, uma
direção de fotografia destacada, e uma trilha sonora em sintonia com a
atmosfera do enredo.
Ainda
é menos do que o potencial da produção poderia muito bem alcançar.
Porém
é o bastante pra não ser apenas mais um romance.
A
Teoria de Tudo. Recomendado
para: conhecer um viés da história no qual os conflitos são na medida do possível amenizados.
A
Teoria de Tudo
(The
Theory of Everything)
Direção: James Marsh
Duração: 123 minutos
Duração: 123 minutos
Ano
de produção: 2014
Gênero:
Drama
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