Isso porque diferente da
alta porcentagem de blockbusters melosodramáticos indicados na
categoria melhor filme, nos filmes falados em língua que não o
inglês tendem a apresenta menos de uma estrutura formulaica.
O resto pode fracassar,
mas tem uma maior chance de surpreender.
Nessa produção
polonesa, o diretor Pawel Pawlikowski assina o roteiro juntamente com
Rebecca Lenkiewicz, e traz a história da protagonista Ida
(interpretada pela Agata Trzebuchowska) em uma jornada de descoberta repleta de sutilezas.
O filme, todo em preto e
branco, segue ao lado dela desde sua rotina no convento no qual foi
criada, até o encontro com sua única parente viva, e que vai ser o
ponto de partida pra um road movie de aprendizados.
Juntamente com
sua tia Wanda (Agata Kulesza) Ida vai em busca do túmulo de seus pais, vítimas do nazismo, sendo o estopim do desenvolvimento de
pontos de vista novos por parte de ambas.
O contraste entre as duas é
o que move o filme, afinal, não há grandes acontecimentos, ou fatos
reveladores que fujam do esperado.
Enquanto Ida é uma
noviça, na véspera de fazer seus votos e se tornar freira, e com
restrições quanto ao mundo apresentado a sua volta, Wanda é uma
pessoa amarga e que se refugia na efemeridade de uma vida que se
apresenta de cor similar à que a direção de fotografia destina às
cenas da produção.
Os pontos de mudança
existem em torno delas, e mesmo que a dedicação extensiva do
diretor a planos longos e momentos quase estáticos faça os 82
minutos parecerem ainda mais subaproveitados, as duas mulheres
estando no centro da trama garantem que haja sim algo sendo dito,
mesmo em vários dos momentos nos quais quase nada é conversado.
O retrato da Polônia no
pós-guerra é lúgubre e desolador, e se alimenta da própria
direção de fotografia e do andamento pra ser uma ambientação
ainda mais desconfortável.
Bem-intencionado, no
entanto, "Ida" não deixa de ser um exercício
cinematográfico que requer mais boa vontade do espectador em
apreciar suas qualidades técnicas, mas não apreciando
necessariamente o drama da jornada proposta.
Fica bem claro que os
significados estão ali. Apenas não existe porque se importar com os
personagens.
Parte da "culpa" por isso é do filme ser pensado pra ser um longa-metragem, mas com apenas 1h e 20min, quando, pelo que tem a transmitir, vários são os momentos em que a câmera simplesmente prolonga sua atenção em cenas nas quais tudo já foi falado ou mostrado. Pra contemplar a paisagem que a fotografia destaca? Legal. Mas isso é o principal que o filme quer transmitir?
Parte da "culpa" por isso é do filme ser pensado pra ser um longa-metragem, mas com apenas 1h e 20min, quando, pelo que tem a transmitir, vários são os momentos em que a câmera simplesmente prolonga sua atenção em cenas nas quais tudo já foi falado ou mostrado. Pra contemplar a paisagem que a fotografia destaca? Legal. Mas isso é o principal que o filme quer transmitir?
Dessa forma, o filme do
Pawlikowski ganha minutos a mais, ainda que não conteúdo a mais.
Seria um excelente curta
ou média-metragem, com foco no amadurecimento de sua protagonista, e
sem os excessos que se servem pra algo é pra levar a plateia a
encarar por mais umas dezenas de segundos a bonita direção de
fotografia, mas que sendo um elemento a trabalhar juntamente com o
filme, não exerce o mesmo efeito quando se torna a única coisa a
ser contemplada sempre que o cineasta decide manter a lente voltada
pro cenário depois de a ação da cena ter sido concluída.
É pra ser um filme de
arte, e "Ida" com certeza tem essa arte expressa a cada
nova sequência apresentada, em cada enquadramento e instante bem
construído.
Essa intenção, no
entanto, esbarra no roteiro que poderia ter muito mais pra relatar, e
sem a exigência de inchar sua metragem a base de cenas prolongadas
por mero interesse em deslumbrar o público com visual e trilha
sonora.
Há certamente algo de
valioso na busca da protagonista.
Algo que não precisaria
do rótulo de "cinema de arte" pra ser algo poderoso, mas
que acabou sufocado pelo que pode até agradar visualmente, porém
sem impactar o tanto que poderia.
Ida. Recomendado para:
quem procura uma bem-intencionada hora e vinte de cinema de
arte pouco envolvente.
Ida
(Ida)
Direção: Pawel
Pawlikowski
Duração: 82 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: DramaSign up here with your email
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