José Mojica Marins é um cidadão que poderia estar matando, roubando, ou pior, fazendo comédias com cara de Zorra total. Mas não, Marins possui um nobre objetivo: tocar o horror no cinema nacional.
É óbvio que em sua extensa filmografia, uma vez ou outra, esse intrépido artista teve que seguir o caminho das comédias, mas sempre que possível, ele tentava imprimir nelas as suas influências de cinema de terror.
José Mojica Marins, também conhecido pela alcunha de Zé do Caixão, é o típico caso em que criador e criatura se fundem em um único ser, já que é comum os mais incautos se referirem a ao Mojica pelo apelido de Zé do Caixão, mesmo quando ele está vestido à paisana.
Zé do Caixão já é um mito e, na verdade, todos os mitos, de Hércules a Frankenstein, de Mickey Mouse a Jason Vorhees, todos eles possuem uma origem.
No caso do nosso Zé do Caixão, a gênese dele está em um local que ninguém em sã consciência gostaria de conhecer: os pesadelos de José Mojica Marins.
Foi em 1963, há 50 anos, que Marins teve um pesadelo. Nesse sonho hediondo, um sujeito com vestes pretas o arrastava para uma cova. Esse homem se tornou o personagem conhecido como o coveiro Josefel Zanatas, para os mais íntimos, Zé do Caixão.
Ora, tem coisas que nem Freud precisa explicar. A arte também é uma manifestação do inconsciente. Se o famoso pintor espanhol Salvador Dali buscava inspiração em seus sonhos, o cineasta brasileiro também encontrou nos recônditos da sua mente a concepção para criar um personagem. Afinal, assim como Dali, Marins é um artista, não é mesmo?
Mojica afirma que, ao despertar, já estava com a ideia sobre o personagem definida. Assim ele começou a correr atrás de sobras de negativo em estúdios, como o famoso Vera Cruz, para poder dar vida, como diria John Rambo anos mais tarde, ao “seu pior pesadelo”.
O personagem Zé do Caixão, que também se tornou protagonista de histórias em quadrinhos, é um sádico que procura a mulher ideal para carregar no ventre a criança “superior”. Vale ressaltar que, nesse caso, o conceito de mulher ideal não é exatamente a Megan Fox em trajes sumários, mas sim, uma mulher que ele considera intelectualmente superior à média. Na busca pela sua companheira. Zé do Caixão está sempre disposto a cometer as maiores atrocidades, inclusive matar quem cruza o seu caminho.
A partir de então, esse personagem, interpretado pelo próprio criador, passou a aparecer em vários filmes do Mojica. A primeira aparição do personagem foi em 1964, no premiado longa-metragem À Meia-Noite Levarei Sua Alma, dirigido e escrito pelo próprio cineasta. A saga do coveiro maldito continuou no Esta noite encarnarei no seu cadáver.
A terceira parte da trilogia só foi surgir em 2008, no filme Encarnação do Demônio, escrito em parceria com Dennison Ramalho.
A saga desse personagem, e também do seu criador, poderá ser vista no filme Maldito, cinebiografia de José Mojica Marins, baseada no livro homônimo de André Barcinski e Ivan Finotti. Quem receberá a missão de interpretar o homem é o ator Matheus Nachtergaele.
Vale lembrar que nem todos os filmes que José Mojica Marins dirigiu aparece a sua mais famosa criatura. Entre esses filmes que não conta com a presença do Zé do Caixão estão o Sina do aventureiro (1957), em que Mojica realiza um competente western feijoada, já que os italianos faziam o chamado western spaghetti, e o longa-metragem A Virgem e o Machão (1974), que marca o ingresso de Marins na comédia pornochanchada nos anos 70. Nessa fase ele utilizava o pseudônimo de J. Avelar.
Odiado por muitos e adorado por outros tantos, muitas vezes reconhecido em solo estrangeiro e vilipendiado no país de origem, essa figura que, em plena ditadura militar, pisou nos calos da censura, talvez seja o primeiro e único personagem-mito do cinema de terror nacional.
Para celebrar os seus 50 anos de existência, o Satélite recomenda a retrospectiva da carreira do Mojica no Canal Brasil, que até o dia 26 de março, apenas às terças no horário da meia noite e quinze, serão exibidos as obras mais importantes do Zé do Caix... quero dizer... do José Mojica Marins.
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6 comentários
Write comentáriosLembro que quando fui assistir ao Encarnação do Demônio. Eu, cheio de preconceito, afirmei que seria um filme trash. Pois bem, durante a exibição, quando eu a excelente fotografia, os bons efeitos de maquiagem e a excelente direção de atores, concluí que aquilo de trash não tem nada.
ReplyGabriel
Atualmente eu acho que a crítica brasileira já vê o Zé com bons olhos. Vide o espaço que o Canal Brasil dá para ele.
ReplyAinda bem!
Isadora
E aí Fernando...
ReplyNos anos 70 o Mojica também fez um outro filme de faroeste, que é o D'Gajão - Mata para vingar.
Aqui tem uma cena: http://www.youtube.com/watch?v=1AKKFeAngHs
Do Mojica Marins tem obras que eu gosto e as que eu não gosto. A "fase erótica" do cara não me chama atenção, mas em compensação quando ele acerta nos filmes de terror, que é a praia dele, o Mojica fica tranquilamente lado a lado de caras como Argento, Fulci, Bava e outros grandões.
ReplyThiago
A filmografia do cara é extensa. Mas sobre o período erótico, sabe-se que nos anos 80 o mercado cinematográfico brasileiro abriu as pernas para a sacanagem. Naquela época qualquer diretor (sério ou não) passou a investir em filmes pornográficos.
ReplyCom o José Mojica Marins não foi diferente. Ele chegou a dirigir coisas bem absurdas envolvendo até cenas de zoofilia, inclusive o título de um desses filmes é 48 HORAS DE SEXO ALUCINANTE.
O Encarnação do Demônio é muito bom É bem produzido e não fica devendo nada para as produções da gringolândia, mas passou em brancas nuvens quando foi lançado.
ReplyThiago
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