Crossover spaghetti


Enquanto o Django Livre do Quentin Tarantino ainda tem munição para fazer barulho nos meios de comunicação, o Satélite Vertebral aproveita a ocasião e resgata o western spaghetti chamado Django desafia Sartana, lançado em 1970 e que hoje anda quase tão esquecido quanto a dançarina mais feia do saloon.


Vale ressaltar que Django não era o gatilho mais rápido da Itália. Naquele período, ele dividia os holofotes com um tal de Sartana, personagem surgido no filme Se Encontrar Sartana, Reze Pela Sua Morte, de 1968 e dirigido por Gianfranco Parolini.


Sartana foi inicialmente interpretado por Gianni Garko nos quatro filmes oficiais da franquia, mas assim como aconteceu com Django, vários diretores pegaram carona no sucesso de Sartana e, obviamente, não demorou muito para surgir um bando de Sartanas falsificados no mercado.

Um crossover à italiana

Para essa nova geração de nerds, que conhecem tudo sobre o tablet mais legal do momento, mas não conhecem a emoção de jogar Space Invaders no Atari, o termo “crossover” só existe quando a Marvel coloca o Spider Man junto com o Hulk ou quando o Alien desafia o Predador. Ledo engano impoluto leitor, essa ideia de unir personagens de mídias ou histórias diferentes é mais antiga que o primeiro rascunho da Estrela da Morte.


No cinema, por exemplo, já houve encontros entre Dracula versus Frankenstein (1971), Abbott and Costello Meet the Mummy (1955) e  "King Kong vs. Godzilla" (1962).

O crossover Django e Sartana - até o último sangue, por sua vez, veio ao mundo em 1970, quando ambos os personagens estavam no auge, colhendo os louros da fama e metendo bala em seus desafetos.

Dirigido por Demofilo Fidani, nos cinemas do Brasil esse filme foi nomeado com o nome de Django e Sartana - até o último sangue, fazendo assim uma tradução reduzida do título original em italiano, que é Quel Maledetto Giorno d'inverno... Django e Sartana all'ultimo Sangue.


Porém, quem tem em mãos o VHS ou o DVD desse filme, presencia logo de cara uma grande propaganda enganosa, pois esse longa-metragem aparece com o nome de Django desafia Sartana. Ou seja, uma armadilha para o inocente que espera presenciar ali um conflito épico e mitológico entre os dois pistoleiros mais “casca grossa” do western. Infelizmente o prometido duelo do título, que deixaria até mesmo o embate entre Perseu e a Medusa parecendo uma reles guerrinha de travesseiro, não ocorre.

Além disso, muitos críticos afirmam que o filme em si é de uma ruindade atroz e o roteiro, de uma profundidade colegial, é apenas uma sucessão de tiroteios para fazer a história andar.

Na trama, os dois personagens, Jack Betts (Django) e Fabio Testi (Sartana) lutam lado a lado contra uma dupla de fascínoras. Inclusive, durante o decorrer do longa-metragem o nome dos dois protagonistas não é proferido até o final filme. O que faz muitos acreditarem que, nos 45 minutos do segundo tempo, os roteiristas resolveram que o nome dos personagens seriam Django e Sartana apenas para pegar carona no sucesso dos originais.

Simonetta Vitelli

Em relação ao elenco, vale ressaltar a presença de dois atores que estavam com Fidani aonde Fidani estivesse: o brasileiro Celso Faria e a filha do próprio diretor, Simonetta Vitelli, que usava o nome artístico de Simone Blondell.

O diretor, ou melhor, o culpado 

O diretor de Django desafia Sartana é o já falecido Demofilo Fidani, cineasta considerado um diretor lado B dentro de um subgênero que muitos afirmam também ser lado B, o western spaghetti.


Fidani, que também assinava com o pseudônimo de Miles Deem era o mestre das produções de baixo, ou praticamente nenhum orçamento. Geralmente os seus filmes eram histórias bem simplórias e sem nenhum rompante de criatividade e que, em muitos casos, acabavam provocando gargalhadas até no mesmo no mais casmurro espectador.

No caso do filme Django desafia Sartana, com roteiro redigido pelo próprio Fidani e pela sua esposa Mila Vitelli Valenza, é possível perceber nitidamente que trata-se de uma produção despretensiosa que serve apenas para dublês levarem tiros e mais tiros. Tudo da forma mais exagerada e “teatral” possível.

Apesar dos notáveis defeitos, o incasável Demofilo Fidani retornou mais tarde ao universo “crossover” nos espalhafatosos Django e Sartana no Dia da Vingança e no Uma balada para Django.
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