O pós 27 de janeiro


Queria eu ter mais eloquência.
Afinal, pra falar a respeito de certos temas, é exigido burlar aqueles obstáculos que o caminho da escrita posiciona à frente.
Enfim. Eloquência não é bem a minha praia, mas eu, enquanto santamariense há mais de uma década tinha que dizer algo aqui no Satélite Vertebral, que é um corpo orbital idealizado nesta terra em Luto.
Luto esse que é uma constante por todo lado por aqui, e assim, nossos interesses nerds ficam em quinto plano.
Entoncés, por isso este momento dedicado durante esta semana pra falar sobre outro tema, e que iniciou com o relato bastante pessoal do Fernando a respeito, e que eu continuo com um outro viés.

É legal demais ver essa tal solidariedade, que a gente vê tão seguidamente servindo pra tornar alguns filmes tão chatos e irreais, aqui sendo a cereja do bolo, quando vista na nossa realidade sendo colocada em prática.
Meio que isso demonstra o quanto essa situação extrema que foi o incêndio na boate Kiss conseguiu revelar características positivas nas pessoas, não só de Santa Maria, não só gaúchos, mas pessoas de todo o Brasil que em uma demonstração de empatia se dispõem a ajudar de alguma forma, seja com palavras, com doações ou trabalho voluntário auxiliando as vítimas e as famílias das mesmas.
Dizer que isso é legal demais, aliás, é só demonstração da minha mencionada falta de eloquência. 
Na verdade, quem sabe nem existam palavras pra descrever o quanto isso foi impressionante.
Pra fins de entendimento, não tenho nenhum amigo próximo dentre as vítimas da tragédia, o que pra alguns pode significar que eu não deveria compartilhar dessa tristeza geral. Tristeza essa que aliás, pra muitos que tenho tido o desprazer de encontrar nas esquinas da web, é motivo pra desprezo e deboche, e tanto as vítimas quanto as circunstâncias da tragédia têm sido alvo de comentários imbecis e acéfalos.
Dediquei um bom tempo a tentar entender esse tipo de atitude, porque afinal, é algo que eu sinceramente não achava que ocorria na prática, ao menos em tamanha quantidade.


Acontece que ninguém aqui está desmerecendo a dor dos outros.
Quer dizer, não é como se o povo gaúcho não ficasse abalado quando uma tragédia ocorre com pessoas de outros estados do Brasil, ou de outros países.
Acho que é esse não-entendimento que tem catalisado o que eu tenho visto por aqui.
Porque, afinal se alguém não está apreciando a superexposição sensacionalista que parte da mídia tem feito com relação ao incêndio e as mais de 200 vítimas, critique esses veículos midiáticos.
Agora, desmerecer a dor de quem perdeu amigos, familiares, etc, é algo que habita o campo da bestialidade.
Buscar uma forma de "vingança" em blogs e rede sociais porque os noticiários têm falado sobre o sofrimento distante de onde se mora simplesmente não é algo que faça qualquer sentido.
Óbvio que nós, próximos a essa tão recente tragédia, sentimos de maneira diferente cada nova informação a respeito, o que é diferente de quando vemos algo ocorrido longe.
Agora, desdenhar das vítimas, e usar imagens e piadas de gosto hediondo vai além do que qualquer um em suas plenas condições mentais é capaz de considerar o normal.
Da mesma forma que eu espero respeito pelo que ocorreu e reverbera em Santa Maria agora, é o respeito que eu vou destinar a quem sofreu perdas em outro lugar do planeta.
Afinal, isso é o mínimo que se espera.
Isso é ser humano.

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