Uma breve história do nazisploitation


Desde os primórdios da sétima arte os filmes de exploração (exploitation movies) estão aí, com o intuito de confrontar os valores morais e dar um chute no estômago do bom gosto. Geralmente tais filmes são produções baratas e que tratam de temas um tanto indigestos. como incesto, aborto, violência, pornografia e outros tópicos que perturbam o sono da família tradicional.

De uma forma geral essas produções apelativas podem ser comparadas a um acidente de carro, ou seja, todo mundo sabe que é horrível, mas assim mesmo uma multidão fica ávida para olhar.

Nesse contexto, os exploitation movies possuem várias ramificações, cada uma atende a um tipo específico de freguês. Dessa forma há o sexploitation (relacionado ao sexo), o nunsploitation (que usa o cenário de conventos para mostrar os pecados de algumas autoridades religiosas), o blacksploitation (relacionado ao violento universo dos negros e que o Quentin Tarantino prestou uma homenagem com Jackie Brown). 

Enfim, nesse mar de exploração, há espaço até para, acreditem, o nazi-exploitation, ou se preferirem nazisploitation, que são filmes caracterizados por mostrarem com riqueza de detalhes as atrocidades cometidas durante o regime nazista na Alemanha.


Esse tipo de produção, geralmente cometida por diretores e produtores italianos, teve a sua gênese no final dos anos 60, porém veio a hibernar no final da década seguinte. Atualmente ainda são feitos alguns filmes desse gênero maldito, mas em pouquíssima quantidade e tão obscuros que só mesmo alguém com muita paciência (e um gosto muito peculiar para cinema underground) poderá encontrar algum exemplar nos muquifos mais recônditos da world wide web.

O início

Apesar do seu nascedouro nos anos 60, o ataque nazisploitation iniciou mesmo, vejam que ironia, com o bem produzido filme O Porteiro da Noite, um longa-metragem italiano lançado em 1974 e dirigido por uma mulher, Lilian Cavani. O filme, apesar de apresentar cenas de sadomasoquismo, possui muitas qualidades e por isso muitos críticos sérios relutam em enquadrá-lo no gênero.


Antes de O Porteiro da Noite, teve o obscuro longa-metragem norte-americano Love Camp 7, filme tosquíssimo do diretor Lee Frost, lançado em 1969. Ainda que tenha sido proibido na Inglaterra, algumas pretensas cenas fortes desse filme são ingênuas e não assustam nem mesmo os fãs do Kung Fu Panda.
Porém quem gerou mesmo a onda nazisploitation foi o sucesso de bilheteria dirigido por Lilian Cavani.

Outro filme que colocou lenha na fogueira dos nazisploitations foi a produção norte-americana Ilsa - She Wolf of the SS, dirigida por Don Edmonds e lançada em 1974. O filme se sustenta apenas com um fiapo de roteiro que serve como desculpa esfarrapada para catalogar o conjunto de perversidades promovidas por Ilsa, que existiu na vida real e foi uma comandante dos campos de extermínio de Buchenwald e Majdanek.


Lançado na 42nd Street, lar nova-iorquino dos cinemas grindhouse, Ilsa fez sucesso no circuito underground e inclusive gerou algumas sequências (viram como essa mania de fazer franquias não existe apenas no mainstream?). Dessa forma, foi a partir de Ilsa que os italianos, seguindo aquela máxima de que “onde há polêmica, há lucro”, viram no nazisploitation um segmento de mercado a ser melhor aproveitado.

Nazismo Spaghetti

Os primeiros passos dos cineastas italianos no lado “nazisploitation” da força esbanjavam violência e sexo. Um exemplo claro disso é o cultuado filme Saló - Os 120 Dias de Sodoma (1975), dirigido pelo iconoclasta Pier Paolo Pasolini, inclusive já vi cinéfilo cabeção incluir essa obra em listas do tipo 100 filmes que você deve assistir antes de morrer.


Outro filme dessa safra italiana é o Salon Kitty (1976), dirigido pelo polêmico Tinto Brass, o mesmo cara que dirigiu Calígula, protagonizado pelo Malcolm McDowell).

Saló - Os 120 Dias de Sodoma é baseado na obra do famoso autor francês Marquês de Sade, já o Salon Kitty se passa em um bordel onde oficiais nazistas são seduzidos para que deixem escapar informações secretas.

Depois dessas duas obras, surgiram exemplares nazisploitation com conteúdo tão abjeto que fariam até mesmo alguns fãs de Jogos Mortais sentirem um embrulho no estômago. O ápice da produção macarrônica deste ciclo foi entre 1975 e 1977, quando pelo menos 15 produções do gênero foram rodadas, algumas desprovidas de qualquer resquício de qualidade.

Praticamente os roteiros eram inexistentes. A meta dos produtores era mostrar nazistas sádicos, com o reles intuito de chocar o maior número de espectadores por quilômetro quadrado.


De uma forma geral, não havia pretensões com mensagens anti-belicistas, o objetivo era causar desconforto.

Eu tenho ciência que é estranho afirmar isso, mas apesar da visível intenção de chocar, se algumas dessas obras passarem por uma revisão hoje, são capazes de causar mais risos que asco, visto que a tosquice dessas produções se destacava por meio de alguns cenários que não poderiam ser usados nem no programa do Chaves. Sem contar também a canastrice de parte dos elencos, que pareciam ter realizado um curso de atores por correspondência.

E como sexo era um assunto recorrente nesse subgênero, não demorou muito para alguém ter a estapafúrdia ideia de ir "mais fundo" no assunto e fazer um filme pornô. Um exemplo disso é o recente Bastardas Inglórias, lançado em 2011 e que é uma paródia descarada do famoso sucesso de Quentin Tarantino.



Nazisploitation verde e amarelo
   
O nazisploitation não ficou restrito apenas aos europeus e aos norte-americanos. Aqui no Brasil, o filme Aleluia, Gretchen, dirigido por Sylvio Back em 1976, chegou até faturar alguns prêmios.

Infelizmente (ou felizmente) poucos materiais nazisploitation chegaram ao Brasil. Ainda que os antigos cinemas de bairro dos anos 80 exibissem algumas produções, nas locadoras, por exemplo, encontrar os nazisploitations era uma possibilidade tão remota quanto descobrir um mosquito da dengue em solo marciano.

Alguns resquícios fósseis do nazisploitation:


- AS NOITES ROSAS DA GESTAPO (Le Lunghe Notti della Gestapo/The Red Nights of the Gestapo, 1977)
Direção: Fabio De Agostini

- CAMPO NAZISTA 27 ( La Svastica nel Ventre/Nazi Love Camp 27, 1977)
Direção: Mario Caiano (creditado como William Hawkins)


- GAROTAS DA SS (Casa Privata per le SS/SS Girls, 1977)
Direção: Bruno Mattei (credidato como Jordan B. Matthews)

                                                

- KZ9 - LAGER DI STERMINIO (Women's Camp 119/SS Extermination Love Camp, 1977)
Direção: Bruno Mattei

                                                    

- SS EXPERIMENT CAMP (Lager SSadis Kastrat Kommandantur, 1976)
Direção: Sergio Garrone


- SS HELL CAMP ( La Bestia in Calore/The Beast in Heat/Holocauste Nazi, 1977)
Direção: Luigi Batzella (creditado como Ivan Kathansky)
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