O cineasta Albert Pyun poderia estar roubando, matando, desviando dinheiro público ou outra atrocidade qualquer, mas não, o sujeito leva a vida a fazer filmes como esse Dollman (fato esse que, por outro lado, faz algumas pessoas preferirem que ele estivesse roubando, matando... mas enfim...)
Os anos 80 e início dos 90 foi o período em que Albert Pyun destilou alguns dos seus trabalhos mais “significativos”. Em 1989 e 1990 ele lançou, respectivamente, Cyborg e o Capitão América, ambos comentados aqui. Em 1991 ele lançou Dollman, essa pérola que para muitos apenas reforça a ideia de que Pyun é um dos piores cineastas a habitar essa pequena esfera que vive a girar ao redor do sol.
Dollman narra a história de um policial casca grossa no melhor estilo Charles Bronson fodão, porém o sujeito veio de um outro planeta onde os habitantes possuem ínfimos 33 centímetros de altura, viram o “quão baixo” um filme pode chegar?
O filme foi lançado pela Full Moon, uma produtora liderada por Charles Band e que era hábil em lançar filmes que iam direto para vídeo. Entre os crimes cometidos pela Full Moon estão filmes como a franquia Puppet Master, protagonizados por bonecos amaldiçoados, mas que eu acho bem melhor que o mais famoso Chuck do Brinquedo Asassino. Ainda vale destacar da Full Moon os filmes da franquia Subspecies, que mostram vampiras de seios fartos e vampiros que não brilham diante dos raios ultra violeta, algo que hoje é tão comum.
Na gênese do projeto Dollman, o chefão Charles Band almejava pegar carona no sucesso Querida, encolhi as crianças, filme protagonizado pelo Rick Moranis e que fez sucesso quando foi lançado pela Disney em 1989.
Band pensou em narrar uma aventura que mostra um cientista enfrentando problemas quando, por acidente, se torna um pouco mais alto que um anão de jardim. Porém o roteiro passou a seguir novos rumos quando Band chamou Ele, sim, isso mesmo, o mestre Albert Pyun, o rei do (desculpem o trocadilho) “baixo” orçamento. Pyun trouxe o conceito de que o protagonista deveria ser um policial alienígena, não um cientista como sugeria a ideia inicial.
Albert Pyun juntou forças com os roteiristas Chris Roghair e David Pabian (autor de Puppet Master 2 e Subspecies) e assim nasceu essa ficção científica protagonizada por um pequeno grande policial.
Albert Pyun juntou forças com os roteiristas Chris Roghair e David Pabian (autor de Puppet Master 2 e Subspecies) e assim nasceu essa ficção científica protagonizada por um pequeno grande policial.
É possível perceber em um filme o selo Albert Pyun de qualidade até na maneira com que o diretor batiza os seus personagens. Em Dollman, por exemplo, o protagonista é chamado de Brick Bardo, que é uma homenagem ao cinegrafista Joseph Bardo, que possui o apelido de Brick e é amigo de Pyun. Essas “piadinhas internas” já haviam sido elaboradas antes, tanto que outros “Bricks Bardos” aparecem em mais filmes do diretor havaiano, tais como Viagem Radioativa, Alien from L.A. Cyborg, entre outros.
Em relação a sinopse, é necessário desligar o cérebro e embarcar na viagem de Pyun. Na trama, há um planeta distante 10.000 anos-luz de nós, mas não pense, impoluto leitor, que esse mundo possui formas de vida e tecnologia distintas das que você encontra na esquina da sua casa. Pelo contrário, nesse planeta há seres humanos como nós, compostos por cabeça, tronco, membros e até o mesmo gosto para vestuário. Além disso, há também policiais linha dura e bandidos idem. A grande diferença é que todos lá, em relação a nós, são pessoas em miniatura pouco menores que uma action figure da Marvel.
A aventura se transfere para a Terra quando o protagonista decide perseguir o vilão em uma nave que sai pelo espaço sideral. Em meio a perseguição policial, as naves atravessam uma espécie de “portal dimensional” e assim chegam ao nosso planeta. (Ué, se o Capitão Kirk e sua tripulação podem, porque o Albert Pyun não pode?)
O fato é que os caras de 33 centímetros de altura caem justamente na Terra, mais especificamente no Bronx, bairro violento que dá ao filme uma cara de Viagens de Gulliver às avessas. Principalmente quando Brick Bardo (interpretado por Tim Thomerson) profere, em meio a tiros, frases de efeito como "I hate fucking giants!”
Brick Bardo é aquele tipo de policial que parece estar permanentemente irritado com tudo e a todos, destilando assim “fucks” a todo instante.
Sobre a parte técnica, vale lembrar que não é um filme milionário do J.J. Abrams, mas sim, uma tralha cometida pela Full Moon, sendo assim, raramente o espectador verá o diminuto herói contracenando com algo ou alguém do “tamanho normal”. Pyun, nesse caso, prefere (ou melhor, tenta) criar a ilusão de diferença de tamanho por meio de truques de câmera primitivos, tais como posicionar a câmera de cima para baixo, entre outros. Por isso, não espere ver o herói dando tiros em ratos “gigantes” ou montado em baratas do tamanho de um cavalo. Tanto que na cena envolvendo justamente ratos e baratas, o ator não contracena com esses animais no mesmo plano.
De uma forma geral, Dollman é mais um que vai para a imensa lista do cemitério maldito dos filmes B, tanto que o próprio Albert Pyun afirmou, em entrevistas posteriores, das dificuldades orçamentárias que prejudicaram o resultado final.
Apesar disso, o produtor Charles Band resolveu incluir o personagem Brick Bardo em outras duas produções: Alien do Mal e no Dollman contra os brinquedos diabólicos, dirigido pelo próprio Band em 1993.
Dollman
Recomendado para: quem não se importa em assistir uma espécie de Dirty Harry para menores.
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