A Saga de um azarado leitor


O texto abaixo é o relato de um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e que, para o azar dele, não veio de Krypton. Nesse texto, o referido jovem aborda de forma comovente os transtornos que ocorreram na vida dele após a leitura da viciante Saga, a HQ criada pelo escritor Brian K. Vaughan.

Dizem que para afastar o azar, é necessário bater na madeira. No meu caso, o azar é tanto que eu deveria mesmo era devastar a Amazônia a base da porrada. O meu azar iniciou logo no meu primeiro dia de vida, quando os meus pais decidiram que o meu nome deveria ser Letisgol, só porque em um filme, um personagem falou para outro, Come on. Let’s Go.

Ora, não precisa ser nenhum aluno do professor Xavier com o dom da clarividência para prever que, com um nome estapafúrdio como esse, eu seria um alvo fácil para os meus coleguinhas da sexta série B. Sim, sou tão azarado que fui parar justamente na sexta série B, a turma mais desgracenta que qualquer instituição de ensino (desse ou de outros universos) pode ter. Aliás, aquilo lá não eram crianças, eram uma cruza dos colegas da Carrie com aliens, eram gremlins no cio, eram... Enfim.

Diante disso, durante muito tempo os meus únicos amigos eram os heróis das HQs. Era fácil me identificar com eles.

No entanto eu cresci, mas para o meu azar, eu era tão feio quanto um diabo da Tasmânia expelindo pedra dos rins, fato esse que fazia as garotas fugirem de mim, fazendo com que eu visse vaginas apenas nas páginas dos livros de biologia.

Além disso, para o meu habitual azar, nem mesmo os super heróis podem me salvar. Eu cresci, mas eles não. Eu não sou mais adolescente. Eu quero uma leitura diferente.
Foi quando eu, para o meu azar, conheci recentemente a revista Saga, uma espécie de história de amor nos confins do espaço publicada pela Image Comics em 2012. E posso dizer tranquilamente: Puta que pariu a minha sogra, Saga é viciante!

A trama, assim como Star Wars, ocorre em uma galáxia distante, mais precisamente em mundos chamados Landfall e Grinalda, respectivamente... Aliás, esses mundos são distantes pacas. Imagine o local onde nem o Capitão Kirk jamais foi. Imagine o local onde Judas perdeu os carpins. Pois é, Landfall e Grinalda são ainda mais longe.

No primeiro arco, o roteiro mostra que uma guerreira chamada Alana, do planeta Landfall, conheceu o soldado Marko, nativo de Grinalda. Os dois, tão azarados quanto eu ou qualquer casal da Terra, se apaixonaram e tiveram uma filha. É óbvio que a guerra não é local para se amar, muito menos para ter filhos. 


Sendo assim, o casal decidiu fugir para criar a filha em um local longe dos conflitos. É óbvio também que isso incomodou os seus superiores, que fizeram de tudo para perseguir os desertores.
A história, em alguns trechos, é narrada com um tom irônico pela filha do desafortunado casal apaixonado, fato esse que denota um recurso bem interessante ao longo da trama.

O desenho, feito por uma tal de Fiona Staples, é limpo e, de vez em quando, não hesita em mostrar cenas de violência, embora os leitores que almejam mais ação possam até se decepcionar, já que o roteiro se preocupa mais com os diálogos e interação entre personagens.

Aliás, o roteiro, escrito por Brian K. Vaughan, é o ponto forte da história. Vaughan é o cara que também escreveu HQs como Leões de Bagdá e Y - O Último Homem. Aliás, quero me manter longe dessas duas últimas revistas citadas, vai que elas sejam tão viciantes quanto Saga. Sim, estou viciado em Saga. Eu até consultei um psiquiatra e, para o azar dele, ele também acabou se viciando nessa história que, ao que parece, faturou alguns prêmios por aí.


Pensando bem... Sorte minha ter conhecido Saga.
Letisgol da Silva tem 42 anos e processou Brian K. Vaughan por danos cerebrais provocados pela leitura. Com o azar que ele tem, o processo não deu em nada.

Saga - Recomendado para: Os curiosos que querem ler uma espécie de Romeu e Julieta protagonizada por formas de vida alienígena tão bizarras que nem mesmo a vã filosofia de Shakespeare poderia imaginar.


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