Clube de Compras Dallas (2013)



Quando o eletricista Ron Woodroof vai ao hospital devido a um acidente de menor gravidade ocorrido no trabalho, ele já chega com os dias contados. Ele que ainda não sabe.
O médico fala o tempo que lhe resta e a partir daí nada na vida dele poderia ser igual, e não vai ser mesmo.


Baseado em fatos, o filme contando a historia do jogador compulsivo, trambiqueiro, viciado em drogas e em mulheres que cobram barato pela fração de relacionamento que interessa a seus clientes, é claramente pelo menos uns dois filmes em um.
A primeira etapa desse trabalho do diretor Jean-Marc Vallée mostra um cara tão sem rumo que persiste um humor pela aceitação de que ele é um loser sobrevivendo na gambiarra.
Ele é o que é, mas sem nunca parecer frustrado o bastante pra pensar em encontrar outro rumo.
Nem mesmo sua condição física parece incomodar. Ainda que, qualquer espectador que conheça algum outro trabalho na filmografia do Matthew McConaughey (que interpreta o protagonista) vai com certeza ficar incomodado com o aspecto do cara.
Irreconhecivelmente mais magro, é impossível não lembrar do que fez Christian Bale em O Vencedor (2010), e eu nem menciono o exemplo de O Operário (2004), porque aí o nível já é outro.
Mas o que McConnagey faz não é nada pra se desconsiderar pela comparação.


Afinal, não é apenas o sacrifício físico o que se destaca. O ator, que faz tempo demonstra ser mais ator do
que o mero galã que se esperava dele, é um grande trunfo na produção.
Não apenas ele.
Jared Leto, que escolhe muito poucos papeis é quase irreconhecível interpretando o homossexual Rayon semelhantemente com os dias contados.
Os dois são a maior qualidade do filme, que nesse primeiro momento possui um andamento mais dinâmico, e com um humor natural que trata de equilibrar as coisas, tendo em vista ser essa uma historia que dialoga constantemente com a morte, doença, e completa desesperança.
Só pra constar, esse filme conta ainda com Jennifer Garner no elenco, em uma quase função de interesse romântico, e no papel não acrescenta nada. Muitas outras atrizes poderiam realizar o mesmo trabalho, ou melhor, sem procurar muito entre os nomes mais conhecidos de Hollywood atualmente.


No roteiro escrito por Craig Borten e Melisa Wallack, vemos os anos 80 em que a AIDS virava palavra habitual no vocabulário de muita gente, e uma quantidade alarmante de pessoas ainda acreditava que a doença poderia ser transmitida pelo toque, e o tratamento era tão difícil que muita gente se submetia a servir de cobaia de qualquer novo de medicamento em teste, mesmo que isso tivesse grandes chances de apenas acelerar a morte do paciente.
Nesse contexto, o tal Clube de Vendas foi, ao mesmo tempo a alternativa encontrada por Ron pra faturar, e uma declaração de guerra contra a indústria farmacêutica.
Meio sem querer, porque o protagonista só quer mesmo garantir o dinheiro dele (pelo menos no começo).
A ousadia e polêmica são potencialmente altas.
Mas ficam mais no potencial, e tudo graças aos ”dois filmes em um” mencionados acima.
Enquanto a primeira etapa apresenta os personagens e suas motivações pra buscar uma alternativa “profissional”, a segunda, que seria quando isso resulta em impacto efetivo diante das consequencias vividas pelos personagens que tanto a AIDS, quanto o cerco do governo provocam, simplesmente não engrena.
Assim, todo o desenvolvimento deles resulta em algo anti-climático, e muito de muito menor impacto, especialmente tendo em vista que a temática deixa todos os recursos à disposição pra isso.


Tudo que o filme precisa está ali, mas Clube de Compras Dallas é um longa-metragem morno e sem grandes tentativas de ser nada mais.
A historia se desenrola de modo a não deixar muito pra surpreender o espectador, e ser um filme biográfico não deveria ser desculpa pra isso.
Vale pelo registro, e claro, pelas atuações da dupla que o protagoniza, mas sem maiores acertos do diretor em incrementar a carga dramática, o filme tem mesmo é que curtir o hype pós-indicação ao Oscar, porque daqui a não muito tempo a forte tendência é ficar no esquecimento.


Quanto vale:


Clube de Compras Dallas. Recomendado para: conhecer fatos dos anos 80 que não é comum ver no cinemão hollywoodiano.

Clube de Compras Dallas
(Dallas Buyers Club)
Direção: Jean-Marc Vallée
Duração: 117 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.


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