Entrevista com André Cordenonsi - O Universo de Isaac Asimov


O cientista e escritor Isaac Asimov (1920-1992) é considerado por muitos um dos pilares da ficção científica moderna. Em seus enredos, há de tudo um pouco, desde histórias sobre viagens no tempo, realidades paralelas, contatos com alienígenas, impérios galácticos e inclusive robôs com crises existenciais dignas de um Hamlet com um cérebro de silício.
Asimov, que era um bioquímico, escreveu ou editou mais de 400 volumes, incluindo aí alguns livros científicos sobre astronomia que passam a anos-luz do terreno da ficção.

Para falar com mais propriedade sobre Asimov, nada melhor do que um escritor que leu boa parte da vasta bibliografia do autor. Para cumprir tal intento, o nosso humilde blogue efetuou uma entrevista com André Cordenonsi, autor da saga Duncan Garibaldi

Confira abaixo a entrevista e entenda porque a obra de Isaac Asimov continua até hoje influenciando não apenas livros, mas também HQs, filmes, séries de TV e qualquer outra tranqueira midiática que o cérebro humano puder conceber.

- O que mais lhe atraiu para a literatura de Isaac Asimov?

Comecei a ler Asimov quando entrei no mestrado em Computação da UFRGS. Como a minha área de pesquisa era Inteligência Artificial, naturalmente fui atraído para o tema em suas concepções literárias. Iniciei com o clássico Eu, Robô e não parei mais.

- Pelas leituras da obra de Asimov, você considera que ele tinha uma visão otimista em relação ao avanço da tecnologia?

Sim e um pouco diferente de outro grande autor da mesma época, Arthur C. Clarke. Me parece que Asimov acreditava fielmente que a tecnologia seria o grande redentor da humanidade; o progresso científico poderia eliminar os últimos ranços de uma sociedade atrasada e preparar o caminho para uma época mais igualitária. Clarke é mais pessimista; em vários dos seus romances ele apresenta sociedades futuristas com os mesmos elementos perturbadores da nossa conjuntura atual: desigualdade social, sindicatos do crime, violência exacerbada.

- Na tua opinião, qual é a melhor história escrita por Asimov, incluindo conto e romance?

Acho que a trilogia Fundação (depois a história foi continuada, mas a trilogia é a parte mais importante) representa a síntese da obra do autor. Em diversas histórias, Asimov coloca a questão da tecnologia e da ciência como pilares de um futuro melhor. Em Fundação, ele esmiúça esta ideia ao criar a ciência da psico-história que influencia o destino de toda a humanidade. Ainda hoje é uma das obras de referência na ficção científica. 

- Asimov era um cientista. E por ser cientista, ele abordava de forma realista aspectos como viagens no tempo, viagens espaciais e outros conceitos científicos? Ele pode ser considerado um autor visionário?
Sim. Eu não acho que você precise ser um cientista para escrever boa ficção científica, mas, com certeza, isso ajuda muito. Eu não acho que Asimov tivesse uma escrita visionária, como foi Júlio Verne (autor de romances como Viagem ao Centro da Terra e Da Terra à Lua), que descreveu precisamente o que aconteceu nos anos vindouros. E nem me parece que ele estivesse preocupado com isso, algo que transpira nas obras do mestre francês. Acredito que o conhecimento científico de Asimov lhe permitiu desenvolver histórias que podem se tornar verdadeiras, a partir de nosso padrão tecnológico atual. E essa base segura que ele desenvolve em seus romances e contos contagia o leitor, que consegue visualizar onde o autor calca suas ideias.


- Tolkien é um dos escritores que influenciou a fantasia no século XX e XXI. Será que Asimov é o cara que influenciou a ficção cientítica nos tempos atuais?

Eu citaria Asimov e Arthur C. Clarke (autor de obras como 2001 - Uma Odisseia no Espaço e O Enigma de Rama) como os pais da ficção científica moderna. O primeiro com uma visão mais otimista e calcada na nossa realidade; o segundo extrapola mais o gênero, mas apresenta uma visão mais retraída. Me parece que Clarke tinha medo do que a tecnologia poderia nos trazer no futuro. É importante lembrar que ambos vivenciaram os horrores da Bomba Atômica, dito por muitos como um dos maiores marcos da tecnologia moderna, mas que trazia consigo a sombra do poder ilimitado nas mãos de poucos.

- Das poucas adaptações cinematográficas dos livros dele, qual tu consideras a melhor?

Nenhuma... Citaria aqui, somente, a Viagem Fantástica, um filme de 1966 que me impactou fortemente. No entanto, a história do filme foi baseada em um conto de Otto Klement e Jeromy Bixby. A editora Bantam Books obteve os direitos da novelização do filme e contratou Asimov para o trabalho. O livro e o filme são muito bons (o filme saiu depois da novelização, o que levou muita gente a acreditar que o filme era baseado em uma obra de Asimov).

- E qual história que ele escreveu e que, na tua opinião, resultaria em um filme bacana?

O que eu gostava nos livros de Asimov era a presença de ciência e lógica em suas histórias. Há uma série de histórias com o detetive Elijah Baley que combate o crime com a ajuda de um robô (R. Daneel Olivaw). O humor fino e a qualidade das histórias renderiam uma boa série de filmes. São eles: The Caves of Steel, The Naked Sun e The Robots of Dawn.

- Qual obra do Asimov você recomenda para quem deseja conhecer o universo criado por ele?

Eu acho que, além da trilogia Fundação, sugeriria a Série Espacial, já citada acima. Seriam eles: The Caves of Steel (saiu no Brasil com o pavoroso nome Caça aos Robôs), The Naked Sun (que saiu aqui como Os Robôs), The Robots of Dawn (Os Robôs do Amanhecer) e Robots and Empire (Os Robôs e o Império). Infelizmente, acredito que todos estejam fora do catálogo, então, sebo nas canelas!
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