Police Story


The Raid foi o recente filme de ação que deixou os fãs do gênero com um sorriso de orelha à orelha. As cenas viscerais e as coreografias muito bem elaboradas fazem qualquer espectador acreditar que os anjos da guarda dos dublês mereciam um salário extra pelo trabalho forçado. Ao conversar com um fã old school do cinema de ação, ouvi que The Raid é um herdeiro legítimo do Police Story, um filme de Hong Kong, lançado em 1985 e dirigido e roteirizado pelo mito Jackie Chan. Tal afirmação é precisa, pois realmente esse filmaço antecipou muitos elementos existentes não apenas em The Raid, mas em outros exemplares de filmes onde um eficiente chute na cara conta mais que um longo monólogo shakesperiano.


Nos anos 80, Jackie Chan era muito popular no cinema asiático, mas no outro lado do globo terrestre, ainda dominado por Norris, Stallone, Van Damme e demais neanderthais, ele era praticamente um desconhecido. Naquele período, as poucas experiências de Chan no cinema ocidental foram malfadadas. Para isso, basta assistir a filmes como A Fúria do Protetor (1985), dirigido por James Glickenhaus, e tenha uma aula de como desperdiçar um ator hábil em artes marciais em uma narrativa que prioriza tiroteios.

O fato é que no mesmo ano, Jackie Chan decidiu superar essa experiência equivocada e fez, na minha opinião, a sua obra-prima: Police Story.

A trama do longa-metragem, escrita por Chan em parceria com Edward Tang, não possui muitos arroubos de criatividade, mas é eficiente e funciona dentro da proposta oferecida por esse gênero. No filme, o astro asiático interpreta um policial casca grossa que pretende acabar com a alegria de um traficante de drogas. 


O tal traficante é preso, mas graças a ação de bons advogados, logo é libertado e depois faz de tudo para transformar a vida do protagonista em um inferno, fazendo todos acreditarem que o policial cometeu um assassinato. Toda essa história é embalada por coreografias de lutas onde Jackie Chan realiza malabarismos inimagináveis sem dublês, sem cabos de aço e com muito mais sorte que juízo, afinal, o cara pula em vidraças, salta de escadas e pega carona em um ônibus em movimento. Depois de tudo isso é até um milagre saber que o sujeito não ficou tetraplégico.

A criatividade das cenas é latente e dá para perceber o quanto Chan é influenciado pela comédia física ao utilizar como objeto de luta qualquer coisa que estiver ao seu redor, desde um varal de roupas até uma moto.

Fechando um olho para alguns pequenos momentos de humor que beiram a infantilidade, Police Story é um legítimo filme de ação ideal para qualquer apreciador do estilo. Inclusive há uma cena de perseguição automobilística em uma favela que não deixa nada a desejar perto de exemplares mais recentes, como Velozes e Furiosos, por exemplo.

Além disso, a versão ocidental do filme foi editada, mas assim mesmo, o longa-metragem foi um sucesso absoluto e se tornou um dos cartões de visita para o astro ser reconhecido em Hollywood. O filme marcou tanto a carreira do ator que até hoje é considerado dentro do cinema de pancadaria e gerou quatro sequências.


É óbvio que a maioria das produções atuais de Jackie Chan em solo norte-americano não chegam nem na sombra do que o cara aprontou em seus tempos áureos de mocidade, ainda mais que no currículo dele há tranquilamente mais de oitenta filmes, mas dos exemplares que eu assisti, Police Story ainda é uma pérola.

Police Story - Recomendado para: Aqueles que acham que o Tom Cruise sofreu sem dublês na franquia de Missão Impossível. 

Previous
Next Post »