Heróis na TV e o novo bandido da última quinta-feira...

Em tempos de profusão de novas séries televisivas baseadas em personagens em quadrinhos, convém vislumbrar um pouco sobre o que acontece com a narrativa destas séries.

 Relembrando, a utilização de HQ como fonte para a televisão não tem nada de original: desde o saudoso Batman de 1966 e passando pelo Adventures of SuperMan, sempre tivemos várias opções, que eram lançadas de tempos em tempos. Mulher Maravilha (1975), Homem-Aranha (1977), o melancólico Hulk (1977), o ex-pai-de-Dawson’s-Creek Flash (1990), o grotesco Birds of Prey, além dos sucessos supermaníacos Lois & Clark (1993) e Smallville (2001). Aliás, acho que o SuperMan se dá melhor como série de TV do que em filmes, mas isso é papo para outra hora...

Atualmente, temos a DC investindo em Arrow (Arqueiro Verde) e a Marvel respondendo com Agents of Shield, utilizando como gancho um personagem que nem existia nas histórias em quadrinhos, Phil Coulson, mas que ficou famoso pelas pontas nos diversos filmes (Homem de Ferro, Thor e Os Vingadores, principalmente). Arrow é mais antiga e tem um clima mais denso; aqui, a história do Arqueiro Verde é apresentada como um jovem playboy que, após o naufrágio do seu barco, precisa sobreviver em uma ilha isolada no fim do mundo, caçado por terroristas e assombrado pelas barbaridades que o pai cometera. Com vários ganchos captados da história original dos quadrinhos e com algumas liberdades bem sacadas, Arrow é conduzido na busca de Oliver Queen por purificar a cidade, utilizando do conhecimento de sobrevivência adquirido na ilha e, obviamente, na sua absurda pontaria com o arco e flecha.


Agents of Shield parte de um gancho construído diretamente a partir do cinema: ao final do filme Os Vingadores, quando a humanidade descobre que temos super-heróis, alienígenas e sabe-se-lá-mais-o-que vivendo entre nós, a Shield adquire um papel central. Utilizando o Coulson como âncora, temos uma equipe de agentes treinados que se une a uma hacker para investigar e combater anomalias no mundo inteiro. Aqui, não importa se as ameaças forem causadas por super-humanos ou por cientistas inescrupulosos que querem criar sua própria fórmula do super-soldado (afinal, temos o Capitão América, um sujeito fabricado em laboratório. A partir desta premissa, porque não criarmos o nosso, não é mesmo? Capitão-Brazuca? Capitão-Fuleco? Capitão Nascimento?).


E onde que eu quero chegar? No seguinte: Arrow e Agents of Shield são definidas como séries com censura de 12 anos. No entanto, para a mente deste que vos fala, ambas pecam pela simplificação exagerada das tramas. A narrativa básica é o seguinte: temos o inimigo da vez, que é apresentado no início – normalmente é uma pessoa de quem nunca ouvimos falar antes –, então os protagonistas vão atrás dele, ocorre alguma reviravolta e eles levam uma tunda, lambem as feridas, investem novamente e ganham o dia.

Simples e infantil. A questão é: quem assiste, em sua grande maioria, já leu alguma coisa dos HQ. As HQ apresentam tramas muito mais elaboradas do que essas e não me parece que seu público seja mais velho de quem assiste as séries. Então, porque investir em tramas tão superficiais? Se os leitores estão acostumados com as histórias que se desenrolam em várias semanas ou meses, porque prender os episódios em situações comuns e repetitivas? Haja inimigo furreco para apanhar dos heróis toda santa quinta-feira!

Comparando, House é 12 anos; Lei e Ordem é 14 anos; Arquivo X é 12 anos; Star Trek é livre; Once Upon a Time é livre...

Apesar de séries completamente diferentes, a maioria exibe roteiros muito mais desenvolvidos do que as séries baseadas em heróis. Entenda, não tenho nada contra episódios que se autodestroem ao final da exibição. Lei e Ordem, Arquivo X e uma boa parte de House se valeram desta premissa. Mas é possível ousar mais do que isso...

Neste quesito, Arrow se dá muito melhor do que Agents of Shield. O recurso de flashback para mostrar o que aconteceu com Queen na ilha (ou seja, a história de origem do herói) é apresentado de forma mais densa, capitular e muito mais engendrada do que acontece em Agents of Shield. Aparentemente (e reforço o termo, pois Arrow já terminou a season #1 e Agents recém engatinha), Arrow me parece mais pensada do que Agents, que apresentou, até então, quase que somente episódios estanques. Apesar da vantagem óbvia de oferecer aos assistentes a possibilidade de perder um episódio e partir para o próximo sem problema algum (algo bastante comum nas novelas tupiniquins, onde é possível perder um ou dois MESES e nada acontece...), a narrativa perde muito da sua força.

<-- ATUALIZADO --> Notícia postada na SuperHeroHype. Agradecimentos ao Tiago Zanetick, que me avisou!

Em tempo, a Marvel anunciou que vai lançar outras séries televisivas e confirmou hoje (07/11/2013): Demolidor, seguido por Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage. Ao final das mini-temporadas (4 a 13 episódios), teremos a reunião das histórias em "Os Defensores"!

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Por sua vez, a DC vai lançar uma série baseada na vida do Comissário Gordon, quando ele ainda é um policial em Gotham City (já confirmada). Não há informações mais precisas, mas torço que alguma equipe de criação consiga se liberar das algemas dos episódios curtos e ofereça aos telespectadores um divertimento inteligente e bem sacado.

Quem viver, verá!

(ou não)

A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário 

Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
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