Rush - Clockwork Angels


Quando uma banda habita esse planeta há mais de 30 anos, já cravou o seu nome na lista dos artistas mais influentes do rock e já possui um séquito de fãs que, em cada show, canta os refrões como se entoassem hinos religiosos, é sinal de que essa banda já conseguiu a tão sonhada consagração. Apesar de todo o êxito alcançado e de não ter mais nada a provar, o Rush ainda mostra que não é desses jogadores que, graças a idade avançada, só rendem meio tempo de jogo. Pelo contrário, o álbum Clockwork Angels, lançado ano passado, apenas confirmou que os caras ainda podem marcar golaços e correr para a galera como se ainda estivessem em 1974, ano em que lançaram o disco de estreia.

Clockwork Angels mistura todos as fases da banda dos anos 70 até aqui, mas tudo dosado com parcimônia e bom senso, sem deixar aquele gosto de comida requentada da semana passada.

A faixa Caravan, por exemplo, mostra o baterista Neil Peart executando aqueles compassos quebrados que vão fazer os fãs da música La Villa Strangiato tirar o excelente álbum Hemispheres da estante.
Nas faixas Seven Cities of Gold e Headlong Flight, o baixista e vocalista Geddy Lee executa melodias que, os mais atentos, poderão lembrar da canção Bastille Day, aquela mesmo, do amado e odiado álbum Caress Steel.


A faixa título, com mais de sete minutos, mostra ainda que o Rush ainda tem colhões para apresentar canções longas, longe das restrições radiofônicas de tempo.

Vale também destacar as belíssimas canções The Anarchist, Wish Them Well e Carnies, que evocam a fase anos 80, mas sem causar a impressão que a banda faz cover de si mesma.

O guitarrista Alex Lifeson continua a explorar bons timbres. A música The Wreckers, por exemplo, poderia ser tranquilamente uma faixa executada pelo guitarrista do U2 e, nesse caso, isso não é nenhum demérito.

Sobre as letras, que sempre ficam a cargo do baterista, só há uma coisa a se afirmar: Peart, além de dominar como poucos a arte das baquetas, é de longe um dos melhores letristas não apenas do rock, mas também da música em geral. O álbum Clockwork Angels traz os temas preferidos de Neil Peart, sempre envolvidos em uma mistura bacana de ficção científica e filosofia. Ao longo de 66 minutos, as 12 músicas do álbum contam a história de um garoto que embarca em uma viagem atrás de seus sonhos e acaba lidando com forças de ordem e caos, conduzindo o personagem a novos mundos com elementos de alquimia, steampunk e poderes sobrenaturais.


De uma forma geral, o disco mostra o Rush revisitando a sua carreira e, ao mesmo tempo, soando moderno e relevante.

Recomendado para: Aqueles que sabem que o rock progressivo, quando bem feito, não tem prazo de validade.
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