Warrior - Um marco nas HQs


O ano era 1982 e o mês era março. Nessa época surgiu na Inglaterra, esse adorável país que nos deu Iron Maiden e Black Sabbath, a revista Warrior. Mal sabiam os seus editores que tal publicação seria o combustível para um salto de qualidade nas HQs da década de 80. Para se ter uma ideia, basta ter em mente que foram nas páginas da Warrior a estreia de séries como Marvelman (Miracleman) e V de Vingança, duas obras escritas por um até então quase Zé Ninguém chamado Alan Moore.

Tudo começou quando o editor britânico Dez Skinn teve a feliz ideia de ser o editor de uma revista em quadrinhos. Skinn então adotou o modelo inglês de publicação e deu ao mundo a Warrior, que era publicada em preto & branco, formato magazine (21cm x 30cm), e trazia séries divididas em capítulos de cinco a oito páginas.


A Warrior chegou nas bancas como um misto de histórias compostas por elementos de terror, ficção científica e super heróis, ou seja, nada muito diferente de outras publicação que proliferavam nas bancas do mundo inteiro. Todavia, o leitor mais atento poderia ver que naquelas histórias já havia um esforço para fugir do trivial.

A primeira edição contou com uma HQ de duas páginas criada por Dave Gibbons, uma história medieval desenhada por John Bolton, um anúncio publicitário ilustrado por Brian Bolland e, principalmente, as estreias da distópica V de Vingança, com desenhos de David Lloyd, e de Miracleman, com desenhos de Garry Leach.

O ápice da Warrior chegou com o lançamento número 11, que trazia os últimos capítulos do "Volume I" de V de Vingança e do Livro Um do Mircleman. Na edição número 12, a capa anuncia a estreia de uma nova série escrita por Alan Moore: The Bojeffries Saga, que era uma espécie de sátira ácida da Família Adams. Os desenhos, nesse caso, ficaram sob a responsabilidade de Steve Parkhouse. Esse número 12 contou ainda com a HQ Young Marvelman: 1957, que era um roteiro criado por e Moore desenhado por John Ridgway



Já na Warrior edição 16 apresentou uma atração especial para o natal de 1983: a história em quadrinhos Christmas on Depravity, desenhada por um tal de Curt Vile, que nada mais era que o Alan Moore oculto sob um pseudônimo. O roteiro, nesse caso, foi redigido por Pedro Henry (pseudônimo de seu amigo Steve Moore). Porém nem tudo eram flores nos caminhos da Warrior e então os tumultos iniciaram.

Com o êxito da versão criada por Alan Moore, o editou Dez Skinn optou por lançar Marvelman Special n°1, que trazia basicamente reimpressões de histórias em quadrinhos escritas nos anos 50, produzidas pela equipe do criador do personagem, Mike Anglo. Porém, a Marvel Comics (que se considera a dona da palavra “marvel” no ramo dos quadrinhos) não gostou da ideia e, judicialmente, dificultou a continuação da série na Warrior, gerando atritos entre Skinn e o genioso Moore, fato esse que levou ao fim de um projeto que teve o primeiro capítulo desenhado por Bryan Talbot e já contava com conceitos que Moore utilizaria posteriormente no personagem John Constantine, o mago inglês mais calhorda de que se tem notícia. 



Após disputas jurídicas, brigas pessoais, e sem fôlego para seguir em frente, Marvelman foi suspensa no número 21 da Warrior. Desprovida da sua série mais famosa e não tendo atingido um sucesso de vendas avassalador, a publicação chegou ao fim no número 26, em janeiro do ano de 1985. De qualquer forma, graças a essa revista, a semente para histórias que influenciariam para sempre as décadas vindouras já estava plantada.

V de Vingança na Warrior representou um avanço, pois poucas vezes uma trama política, com texto metafórico e recheados com referências a obras como 1984 e literatura clássica, teve espaço em HQs.
Já a Marvelman (publicado no Brasil, via edição norte-americana, com o título Miracleman), representou um grande passo da nona arte, sendo uma das primeiras reformulação “realistas” de um super-herói clássico.

Estes dois trabalhos ficariam incompletos até 1989, até que Moore escreveu seus capítulos finais para as editoras DC Comics e Eclipse respectivamente. A HQ Watchmen, publicação que reinventou o que conhecemos hoje como super herói, foi criada pelo roteirista de barbas longas apenas em 1986 na DC Comics.

Warrior teve um curto período de vida, mas serviu como referência para muitas coisas bacanas surgidas posteriormente.


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