Guardiões da Galáxia (2014)


Guardiões da Galáxia, como bem sabemos, é um filme feito na atual era dominada pelos torrents, mas que possui um jeito todo especial de filme feito na época do VHS. Portanto, nessa postagem, optei por colocar diversas imagens de produções que recheavam as estantes das vídeo-locadoras e ajudaram a moldar o gosto de uma geração inteira.

Que sujeito de sorte é esse tal de James Gunn. Esse cidadão de 42 anos de idade entrou no mundo do cinema há alguns anos ainda jovem, mais precisamente pelas portas dos fundos quando trabalhou com o destrambelhadíssimo Lloyd Kaufman, o maestro da produtora Troma




Para quem não sabe, vale destacar que a Troma é uma empresa que despeja no mercado filmes mal educados e sem nenhum pingo de vergonha na cara. Nessa produtora, o até então jovem Gunn provavelmente gozou de muita liberdade criativa para fazer filmes do jeito que bem entende, já que Kaufman valoriza acima de tudo a criatividade, independente do resultado sair uma afronta ao bom gosto.

Com esse espírito infantiloide, calcado no dito “cinema lado B” e já um tanto mais experiente,James Gunn emprestou a sua imaginação para colaborar no roteiro da refilmagem de Madrugada dos Mortos (aquele dirigido pelo Zack Snyder), também dirigiu o infanto-juvenil Scooby-Doo, em 2010 dirigiu Super (um divertido Kick Ass dos pobres) e em 2005 dirigiu também o gosmento Seres Rastejantes, que é definitivamente o filme trash dos anos 80 feito em pleno século XXI.



Pois bem, e esse improvável James Gunn recebeu da milionária Marvel um dinheirão para usar a sua verve irônica nos Guardiões da Galáxia!! Ou seja, o sujeito teve ao seu dispor uma boa quantia de dinheiro para fazer o que os ídolos dele (Albert Pyun, Charles Band, ROGER CORMAN, Joe Dante, entre outros) necessitavam fazer com pouca coisa mais do que um salário mínimo. Sim, para muitos cineastas que são oriundos das produções de baixo orçamento, brincar de Star Wars com o respaldo de uma empresa gigante da indústria cultural é uma oportunidade única, é como, sei lá, ser o felizardo ganhador da loteria. Se vale a metáfora, é o mesmo que uma criança entrar em uma casa de doces. E acredite impoluto leitor, esse tal de James Gunn, para delírios orgásmicos do público ávido por aventuras sessão da tarde, curtiu muito entrar nessa casa de doces chamada Guardiões da Galáxias. 

Pois convenhamos, as aventuras do Senhor das Estrelas e os seus intrépidos amigos possuem pitadas de Star Crash, são recheados com doses generosas de Flash Gordon, são uma mistura de Krull, Explorers, Robot Holocaust e por aí vai. Sim, Guardiões da Galáxia é tudo isso e mais um pouco. Guardiões da Galáxia é, principalmente, um time lado B de um vasto universo de super heróis, portanto, nada mais ousado do que convocar esse tal de James Gunn, um sujeito discípulo de Loyd Kaufman e que foi forjado no cinema lado B e (quase) desprovido de muitas regras. 



Mas por qual motivo um filme dos Guardiões da Galáxia é, digamos assim, uma aposta ousada? Ora, porque os guardiões (assim como boa parte dos filmes de baixo orçamento) nunca foram os campeões de venda. Entre Guardiões da Galáxia, Quarteto Fantástico e X-Men, tenham certeza, Peter Quill e a sua turma de desajustados praticamente é jogada para escanteio.

Os Guardiões da Galáxia foram criados em 1969 e após sucessivas mudanças na equipe, voltaram em 2008 reunindo personagens que, se facilitar, não são lembrados nem pelo próprio Stan Lee. Mas apesar de tudo, a Marvel, que já consolidou o seu território no universo cinematográfico, ousou chutar o balde e apostou em um filme desses heróis esquecidos. E foi uma aposta tão certeira quanto os tiros do Rocket Raccoon.


A trama, dotada de uma simplicidade capaz de fazer sujeitos como Charles Band abrir um largo sorriso, mostra o aventureiro espacial Peter Quill/Senhor das Estrelas (Chris Pratt) sendo caçado após roubar um artefato cobiçado por um vilão ameaçador chamado Ronan (Lee Pace). Para escapar das garras maléficas de Ronan, o aventureiro é obrigado a se unir a um time de amalucados composto pela assassina Gamora (Zoe Saldana), pelo vingativo Drax (Dave Bautista), por uma árvore de pouquíssimas palavras chamada Groot (Vin Diesel) e por um guaxinim metido a Charles Bronson conhecido como Rocket Raccoon (Bradley Cooper).
Ao perceber que esse valioso artefato pode acarretar o desequilíbrio do universo e devastar o planeta Xandar, o Senhor das Estrelas convoca esse time sem noção para uma emblemática batalha.


Eu já deixei bem claro que esse filme, por mais que seja feito com um dinheiro capaz de comprar todas as sessentas e duas luas de Saturno, ainda assim é dirigido por um cara galhofeiro e com espírito de produção B, portanto, não espere que o roteiro (assinado pelo próprio Gunn e por Nicole Perlman) coloque o vilão em um divã e explore todas as suas motivações e traumas (o único filme da Marvel que fez isso, diga-se de passagem, foi o Thor). Nem mesmo o personagem conhecido como Colecionador, interpretado por um Benicio Del Toro vestido de Lulu Santos, possui grande destaque. O foco do longa-metragem é basicamente voltado para os protagonistas e as suas interações.

Peter Quill/Senhor das Estrelas - É uma mistura de Han Solo e Indiana Jones e que, ao seu modo, é o ponto de equilíbrio do grupo. O sujeito possui um passado no planeta Terra e, em uma determinada cena, após passar uma cantada romântica fazendo referência ao (acreditem) Kevin Bacon, tem tudo para ser um dos personagens mais divertidos e carismáticos da cultura pop. Além disso, mesmo pilotando naves espaciais de alta tecnologia, o autodenominado Senhor das Estrelas escuta músicas jurássicas em uma igualmente jurássica fita K7. Para completar a jogada esperta de fisgar nerds nostálgicos, as excelentes músicas contidas na tal fita (que por si só já é um elemento bacana no filme) vão de David Bowie a Jackson Five e poderiam estar tranquilamente na trilha sonora de qualquer filme do Quentin Tarantino. Não por acaso, a canção Hooked on a feeling, hit do B.J. Thomas que foi exaustivamente exibido nos trailers, esteve presente também no filme Cães de Aluguel.

  
Gamora - É a Red Sonja com a pele cor de clorofila. Ponto. Interpretada na medida por uma Zoe Saldana com olhar sério e destemido, a personagem faz juz ao passado de assassina, mas que, aos poucos, graças a Peter Quill, tenta se mostrar mais humana.

Drax - É um personagem sedento por vingança e com um rígido código de honra. Ele rendeu boas cenas de luta. Em um time de futebol ele seria o típico zagueirão botocudo.

Groot - É um homem-árvore gigantesco com um repertório de frases que se reume a I am Groot, dublada em diferentes tonalidades e intenções por Vin Diesel. É interessante que, justamente Groot, um personagem lacônico, seja o protagonista de uma das cenas mais sensíveis do longa-metragem, até porque, como todo filme oitentista pipocão, esse também necessita da sua dose de bunda-molismo. Ou seja, o diretor pode ser o James Gunn, mas quem dá as cartas do jogo ainda é a Marvel.


Rocket Raccoon - Imaginem um roedor antropomorfizado com cara de louco e disparando tiros com uma metralhadora da grossura de uma lata de azeite. Imaginem também essa mesma criatura com a voz grave e irônica do Bradley Cooper sendo mais voluntarioso que o Arnold Schwarzenegger e o Hugh Jackman em seus respectivos Mercenários e Wolverine. Pois é, meus amigos, esse é o Rocket Racoon, o fodaralhante guaxinim espacial.

Com essa galeria de protagonistas, cenas de ação perfeitamente compreensíveis e com um humor sagaz, Guardiões da Galáxia consegue elevar as histórias cinematográficas da Marvel para onde nenhum homem jamais foi, para os confins do cosmos. 


Há de se destacar também que, talvez o grande mérito dessa produção seja fisgar os quarentões que cresceram na companhia dos filmecos espaciais dos anos 80, bem como os nerds imberbes que assistiram o filme apenas para ver as possíveis ligações com os Vingadores e demais personagens. Ah sim, vale salientar que essas aventuras cósmicas demonstram que há material para a Marvel fazer filmes até o dia em que o nosso sol entrar em colapso.


Posto tudo isso, o longa-metragem é perfeito? Não, ainda não. Tenho para mim que os 121 minutos são desnecessários e mais para o final eu estava a ponto de relevar aquilo tudo como uma enorme brincadeira. Sim, sou um ferrenho defensor de que mais de 90 minutos para filmecos de aventura soam como encheção de murcilha. 

Mas enfim, ranhetices minhas à parte, eis aí um filme para ser colocado no altar das produções de aventura. E se no final dos anos 70 a DC Comics mostrou no cinema que o homem pode voar, agora vem a Marvel e mostra que um guaxinim pode falar e ser… digamos assim, um The Guardian of the “fucking” Galaxy. 

Em tempo: Nem preciso solicitar para os amigos leitores não se levantarem durante os créditos finais, né?

Recomendado para: Jovens, adultos, gregos, troianos, reptilianos e todo e qualquer ser vivo sedento por filmes divertidos. Mas principalmente, uma homenagem recomendada também para o Albert Pyun, para o George Lucas, para o John Carpenter, para o ROGER CORMAN e todos esses mestres que em décadas passadas se divertiam (e nos divertiram) ousando se aventurar no fascinante universo do cinema de gênero. 


Filme: Guardiões da Galáxia
Direção: James Gunn
Gênero: Aventura/Fantasia
Ano de Produção: 2014
Tempo de Duração: 121 minutos

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