X-MEN: DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO (2014)



Por fatores inóspitos ao entendimento, a escalada do cinema de HQs se fez de forma bastante capenga por tempos demais, até um dia ascender ao panteão do acúmulo burlesco de dinheiro.
Na gênese desse bom momento, uma das franquias essenciais nesse lance todo principiou com um filme bastante rejeitado ou esquecido por muitos hoje, que ao se depararem com um trecho durante o rito do zapeamento de canais, focalizam nos bem menos impressionantes efeitos especiais e recursos disponíveis no longínquo ano de 2000.
Nessa temporada em questão, o cineasta Bryan Singer traria sua versão vestida de preto, dos mutantes da Marvel, e X-Men: O Filme surpreendeu público e crítica, garantindo a sequência na forma do ótimo X-Men 2, e claro, uma franquia pra pagar as contas pelo resto da vida dos envolvidos e suas descendências.
Depois de uns altos (o excelente X-Men: Primeira Classe) e baixos (X-Men: O Confronto Final, X-Men Origens: Wolverine, e Wolverine Imortal), Bryan Singer volta na função de diretor na franquia.
O compromisso que ele comprou envolvia mais do que arrecadar as finanças das platéias nas bilheterias, e além de estar à altura do filme dirigido pelo Matthew Vaughn, incluía remendar a esculhambação que havia virado o universo cinematográfico mutante ao longo dos filmes.
E isso pra não mencionar que a saga escolhida pra adaptação é uma das melhores de todos os tempos dos personagens nos quadrinhos, resultado da saudosa era Chris Claremont.



Em seus primeiros minutos, Dias de um Futuro Esquecido segue bem uma fórmula que não soa incômoda de maneira alguma, com um prólogo interessante, e cenas que conseguem ficar na memória mesmo ao fim da sessão.
O futuro opressor ao qual os mutantes e os humanos que lhes são favoráveis são subjugados, é construído com competência, além de trazer as primeiras sequências de ação de altíssimo nível que a produção traz consigo.
Com jeito de easter eggs sucessivos, ser reapresentado aos X-Men futuristas em sua versão live-action, tem uma importância diferente pro leitor de HQs adepto da cinefilia.

Não há o que reclamar das caracterizações de Blink (Bingbing Fan), Bishop (Omar Sy), Mancha Solar (Adan Canto), e Apache (Booboo Stewart), além dos já conhecidos no cinema, Tempestade (Halle Berry), Homem de Gelo (Shawn Ashmore), Lince Negra (Ellen Page), e Colossus (Daniel Cudmore), que sob o comando de Magneto (Ian McKellen) e Professor Xavier (Patrick Stewart) enfrentam um inimigo minuciosamente criado pra tirar de vez as esperanças de vitória no braço, por parte dos mutantes.




O enfrentamento é basicamente contra os Sentinelas, que apesar do seu visual questionado antes da estreia, se provaram uma ameaça maior do que as primeiras impressões dos resenhistas profissionais de trailers.
Todas as lutas nesse segmento inicial possuem peso dramático suficiente, ainda que não seja destinado tempo de apresentação à nova equipe, o que na verdade não se mostra necessário.

A função desse primeiro momento é bem executada e direta, não deixando dúvidas de que o futuro dos mutantes vai ser deveras insalubre e ferrado, além de criar a motivação pra que a versão grisalha do Wolverine (Hugh Jackman) tenha sua mente transferida pra sua versão setentista, que terá que interferir na linha tênue do tempo pra evitar tudo isso, contando com uma alternativa funcional do roteiro pra que seja ele o escolhido pra isso, divergindo da HQ.



Enquanto isso, nos anos 70 a situação também não é das melhores, com a Guerra do Vietnã, e as pesquisas de um tal Bolivar Trask (Peter Dinklage), e seu interesse doentio em ter apoio do governo pra dar prosseguimento ao seu projeto Sentinelas.

Essa escolha pelo ator famoso pela sua atuação no seriado Game of Thrones é só um dos sinais mais perceptíveis de que o roteiro encomendado a Simon Kinberg não tinha toda essa preocupação em amarrar por completo a extensa filmografia mutante, ao ignorar o ator que havia interpretado o personagem na trilogia original.
Isso não compromete, mas deixa bem claro que o roteiro evitaria quando julgasse necessário certas complicações, invés de encará-las de frente tal qual ocorreu em Primeira Classe.
A essa altura, Wolverine já descobre que os X-Men do passado estão longe de seu apogeu, e encontra um Charles Xavier (James McAvoy) nada parecido com o exemplar de luta pacifista que o enviou ao passado.
Enquanto não fique em transições muito recorrentes entre passado e futuro, o enredo se mantém com um nível aceitável de diversão nessa etapa, sem ficar confuso (um risco recorrente em histórias envolvendo viagens temporais) mas também sem encontrar o apelo dramático de contagem regressiva que a história necessita.
No entanto, conforme eu disse, ainda é bastante divertido.
Fundamental pra isso é a presença do personagem Pietro, ou conforme sua alcunha: Mercúrio. Nem é um exagero de interpretação do Evan Peters, que faz um trabalho bem feito, mas que tem a seu dispor algumas das linhas mais inspiradas do texto escrito pelo roteirista.
Óbvio que a sequência em que ele traz à memória o ainda empolgante prólogo de X-Men 2, é um destaque, e dentre os inúmeros coadjuvantes relevantes, ele é o que se saiu melhor na distribuição de tempo.



E eu digo isso não me referindo à personagem Mística (novamente a Jennifer Lawrence), porque no caso dela, apesar de atingir patamar de quase protagonismo, é algo bem menos efetivo. Quer dizer, é parte do andamento da trama, e não é que ela fique só de enfeite em cena.
O problema é que provoca um desequilíbrio narrativo, e reduz demais o tempo pra desenvolver o drama pré-catástrofe que conduz Wolverine, Professor Xavier, e Magneto.
Se em Primeira Classe, mesmo trabalhando com uma história de origem de uma equipe Vaughn soube aliar a ação, e intentos apocalípticos do vilão, com o desenvolvimento dos personagens, em Dias de Um Futuro Esquecido a trama apenas avança. Isso permite a ação, e a história ir em frente, mas não aprofunda as motivações dos personagens, contando com o embasamento que o filme anterior providenciou muito bem.
Isso não faz do filme de 2014 ruim. Não é isso.
Somente não o permite explorar a totalidade do potencial do mote principal.
X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido tem o suficiente de boas cenas de ação, e as atuações convincentes de seu elenco sensacional. E também possui em seu roteiro boas ideias o suficiente pra que ele seja um dos bons filmes da franquia.
Não se pode exigir também que todo mundo tivesse a sua psique esmiuçada, e que todo mutante do filme tivesse o mesmo tempo em cena que alguns poucos, diante de um elenco desses.
Mas na medida do possível, a maioria tem o tempo certo pra contribuir pro que constitui mais um correto passo nessa nova cinematografia mutante.



O resto é o resto.
Efeitos especiais de primeira, e o cuidado com a produção, que dessa vez teve menos o apelo retro, ainda que a representação dos anos 70 seja digna de elogios, tal qual a distopia em que os Sentinelas trucidam mutantes sem grandes dificuldades.

Se não repete a tradição do segundo filme que supera o primeiro, não é nada que chegue a desmerecer o recomeço do universo dos X-Men nas telas, que a partir de agora vai tomar rumos completamente novos, e expandindo a mitologia da franquia no cinema, conforme fica evidente no anúncio do terceiro filme que mais uma vez Bryan Singer dirigirá.
E em épocas de Marvel Studios engatilhando trocentos novos projetos live-action, e com uma grande parcela de público afirmando que nada fora do referido estúdio consegue funcionar adaptando quadrinhos da Casa das Ideias, é com certeza uma afirmação relevante ao conferir mais uma vez na franquia mutante um exemplar do cinema de quadrinhos que vale mais do que as cerca de duas horas de metragem.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é bom o suficiente pra competir de igual com outros grandes similares heróicos no cinema, e ao mesmo tempo manter viva uma das mais longevas cinesséries de quadrinhos.
Longe do desgaste, parece que os mutantes ainda tem potencial pra alguns bons filmes.
Então aguardemos.


Quanto vale:





X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Recomendado para: ajudar a apagar umas burradas do passado mutante no cinema.

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
(X-Men: Days of Future Past)
Direção: Bryan Singer
Duração: 131 minutos
Ano de produção: 2014
Gênero: Ação/Aventura/Ficção Científica

Previous
Next Post »