Super (2010)



Quando James Gunn roteirizou o sarcástico longa-metragem The Specials, lançado em 2000, essa onda de filmes que visam humanizar os super heróis não ditava as regras do mercado, já que Watchmen, Defendor, Hancock, Kick Ass, entre outros, invadiram os cinemas apenas final da década passada. 



Antes de The Specials, Gunn era um aprendiz das maluquices do Lloyd Kaufman, que foi seu mentor durante os tempos da Troma, a famosa produtora de filmes de baixo orçamento. Na minha opinião, o ato de redigir o roteiro do The Specials, um pseudo-documentário que samba na cara  do “mito dos heróis fantasiados”, se tornou o ensaio para James Gunn escrever e dirigir o seu Super, lançado em 2010 e que, muitas vezes, é eclipsado por Kick Ass e Defendor, dois filmes que se apoiam na mesma temática e lançados no mesmo período.

É uma pena, pois Super é divertido demais, tem doses cavalares de violência, apresenta um Kevin Bacon muito à vontade como vilão e esfrega nas nossas faces um epílogo que foge do tão esperado final feliz. Aliás, só esse detalhe do final já cria uma distância abissal entre Super e Kick Ass.

A trama gira em torno de Frank (Rainn Wilson), um cidadão de vida ordinária e que entra em desespero ao ver sua ex-drogada esposa Sarah (Liv Tyler) retornar ao mundo do vício quando é seduzida por um traficante fodão conhecido como Jock (Kevin Bacon).


Sem perspectivas, deprimido, mas ainda nutrindo fé em Deus (o subtexto cristão é um dos aspectos mais interessantes da história), Frank, diante de uma epifania divina, decide se tornar um super herói. Atentem aí para uma cena de extremo mau gosto envolvendo um cérebro e tentáculos, ousadia óbvia que nos faz lembrar de um James Gunn que aprendeu o seu ofício na Troma e no Seres Rastejantes, esse último é um filme de 2005 dirigido por ele.

Após isso, o roteiro, sem demonstrar pressa, acertadamente deixa de lado Liv Tyler e Kevin Bacon, se dedicando assim a desenvolver as contradições de Frank como um herói canastrão e quixotesco. 



Destaque também para a personagem de Ellen Paige, uma menina nitidamente pirada que se torna a parceira mirim do herói mascarado. A guria entrega uma personagem afoita que não hesita em executar a bandidagem, fazendo muitas vezes o próprio protagonista questionar o propósito dele como combatente do crime. Inclusive, esse mesmo dilema, que já fez caras como Batman e Demolidor perderem o sono, é trazido à tona pelo fascínora Jock em uma cena muito legal. E falando em vilão, você certamente já viu filme em que o Kevin Bacon dança, filme em que o Kevin Bacon é pedófilo, filme em que o Kevin Bacon é mutante e, não duvido, já viu filme até onde o Kevin Bacon é invisível, mas poucas vezes viu um filme em que esse cidadão interpreta um inescrupuloso e odioso traficante de drogas. Bacon tem poucas cenas, é verdade, mas ele e o seu capanga, interpretado pelo Michael Hooker, entregam ótimos papéis.


Rainn Wilson também atua com desenvoltura no papel de justiceiro mascarado e fracassado. Famoso por ser comediante, o cara teve êxito ao conseguir mesclar momentos de riso e drama na dose certa.

Super é um filme instigante e aprovou James Gunn no teste de criar um entretenimento super heróico para adultos. Faltava apenas saber se ele iria ter sucesso ao comandar uma produção mais mainstream, sem grandes arroubos escatológicos e com uma embalagem de aventura para toda a família. Pois bem, a resposta para isso veio com Guardiões da Galáxia.

PS: Lloyd Kaufman aparece em uma cena rápida no melhor estilo piscou perdeu.

PS 2: Super foi o longa-metragem que iniciou o ciclo de filmes do mês de novembro 2014 do Quadrinhos S.A. Para saber mais sobre as futuras exibições, acesse aqui.

Recomendado para: Quem quer ver uma comédia em forma de drama ao mesmo tempo que é um drama em forma de comédia.


Título: Super
Diretor: James Gunn
Ano de Produção: 2010
Tempo de Duração: 96 minutos
Gênero: Comédia/Drama

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