Thriller - Um Filme Cruel (1974)



Talvez o amigo leitor, ao ler a palavra Thriller, imediatamente visualize aquele divertidíssimo e metalinguístico clipe do Michael Jackson, onde o rei do pop, dirigido por John Landis, se transforma em lobisomem e depois zumbi.

Mas antes dessa obra-prima do pop lançada em 1982, a palavra Thriller serviu como título para um violento e desgraçado longa-metragem pertencente ao subgênero rape and revenge. Thriller é uma produção sueca dirigida e roteirizada por Bo Arnie Vibenius, cineasta que anos antes atuou como assistente do grande diretor Ingmar Bergman, o autor de obras espetaculares como O Sétimo Selo e Persona. Mas se o mestre Bergman, em suas produções, tecia tramas sutis e dotadas de um apurado bom gosto, o discípulo Vibenius rumou por caminhos diametralmente opostos. Nesse Thriller - Um Filme Cruel, o diretor concebeu uma trama transgressora, perpetrada por violência exacerbada e preenchidas com algumas cenas de sexo explícito.


Na trama, uma incauta garota é estuprada por um maníaco. Após esse ato tão sórdido, a menina, bastante traumatizada, fica muda. E como estamos tratando de um filme exploitation pouco afeito a sutiliezas, a personagem sofre ainda mais, já que, mais tarde, ela é engambelada por um salafrário que a vicia em heroína e a joga em uma espiral de prostituição e humilhações. Para piorar, a sofrida personagem descobre que os pais dela faleceram e ainda tem um dos olhos extraídos em uma cena tão horrenda que não deve nada para aquela famosa tomada do Cão Andaluz, o clássico surrealista do Salvador Dali e Luiz Buñel

Apesar de todos os percalços, vem então a reviravolta: a sofrida personagem se torna uma exímia lutadora de karatê e parte para vingança contra aqueles que desgraçaram a sua vida. Tudo isso bem antes do Quentin Tarantino e do Robert Rodriguez revisitarem esse universo repleto de personagens femininas destemidas, lutadoras e caolhas.


A silenciosa vingadora de um olho só é interpretada pela modelo Christine Lindberg, famosa na época por seus ensaios fotográficos na revista Playboy e a sua constante aparição em filmecos grindhouse de baixo orçamento.

A direção de Vibernius preza pelos detalhes. Inclusive o diretor exagera nas cenas de morte e de luta corporal, as exibindo em câmera lenta (mas câmera lenta mesmo, devagar quase parando). Eu reconheço que tal recurso estilístico ofereceu dramaticidade aos momentos de tensão, mas aos olhos do público atual, domesticados em cenas de ação picotadas em frames frenéticos capazes de explodir os encéfalos dos espectadores que sofrem de vertigem, o excesso de câmera lenta certamente ocasionará risos involuntários.


O único ponto fraco do longa-metragem quem considero desnecessário foi a inserção forçada de cenas de sexo explícito. E olhem que nem é necessário possuir o dom da observação de um Scherlock Holmes para perceber que todos aqueles atos libidinosos não são protagonizados pela atriz principal.

Mas ainda assim, o saldo da produção é positivo e a considero muito superior ao filme Spit on your grave, lançado em 1978 e que também segue a linha “estupro vingança”.

Thriller - Um Filme Cruel ainda é uma eficiente peça de violência e selvageria, possui um roteiro enxuto e que consegue prender a atenção.

OBS: Spit on your grave ganhou uma desnecessária refilmagem em 2010.

OBS 2: Em alguns locais esse longa-metragem recebeu o nome alternativo de They Call Her One Eye.



Recomendado para: Quem, assim como eu, por muito tempo acreditou que a fórmula “vingança e sadismo” é uma equação que só funciona no cinema do oriente.



Filme: Thriller - Um Filme Cruel
Diretor: Bo Arnie Vibenius
Ano de lançamento: 1974
Gênero: Drama/Ação
Tempo de duração: 104 minutos

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